São Paulo, sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

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Prisão de americano turva reunião de EUA e Cuba em Havana

Enviado de Obama falará sobre migração e deve abordar detenção de acusado por espionagem

DA REDAÇÃO

Mais graduado diplomata americano a pisar em Cuba em décadas, Craig Kelly dará sequência hoje em Havana à rodada de conversas bilaterais sobre migração retomadas no ano passado. Terá na agenda, porém, tema mais delicado: a detenção, desde dezembro, de um subcontratado do governo dos EUA que o regime comunista acusa de espionagem.
Oficialmente, o Departamento de Estado diz apenas que Kelly, subsecretário-adjunto para a América Latina, tratará de imigração -negociação reiniciada após sete anos de hiato- e dos temas de "mútuo interesse" que surgirem.
Mas o governo Obama está sendo pressionado por colunistas na imprensa americana e pela oposição republicana a exigir a soltura de Alan P. Gross, 60, um subcontratado da Usaid, a agência de ajuda.
O governo cubano diz que Gross foi detido em 5 dezembro quando distribuía "equipamentos de comunicação de alta tecnologia". Não se sabe o que portava, mas, pela lei local, antenas parabólicas são ilegais, por exemplo. Há também norma que torna crime qualquer atividade ligada à lei americana Helms-Burton, que reforçou o embargo à ilha em 1996 e inclui rubrica orçamentária para "reforço da democracia".
Em dezembro, o líder máximo de Cuba, Raúl Castro, citou o caso de Gross para acusar Obama de manter "as mesmas táticas" dos antecessores de municiar a dissidência na ilha, apenas meses após o presidente americano propor um "novo começo" a Havana em abril.
Já o Departamento de Estado acusou Havana, em dezembro, de não permitir visitas consulares ao detido, confinado em presídio perto da capital.

Nosso homem em Havana
Apesar da troca de acusações, o governo Obama resolveu manter a reunião de hoje -agendada desde 2009- e ainda enviar o diplomata número 2 para a região ignorando a pressão de integrantes da bancada anticastrista do Congresso, que pediram o cancelamento do encontro em carta à secretária de Estado, Hillary Clinton, há dez dias.
Por outro lado, Obama manteve a verba de US$ 20 milhões dos programas de ajuda humanitária e reforço da democracia em Cuba caros à oposição.
De todo modo, com a visita, Washington parece querer sinalizar que a distensão entre Cuba e EUA pode ser bastante lenta, mas não estagnou.
Ela ocorre, ainda, a poucos dias da Calc, a Cúpula de América Latina e Caribe que, à diferença da OEA (Organização dos Estados Americanos), inclui Cuba. Na primeira reunião do tipo, promovida pelo Brasil em dezembro de 2008, os clamores ao ainda presidente eleito pelo fim do embargo à ilha foram uma das tônicas.


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