São Paulo, sábado, 19 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Evo aposta no lítio para ganhar fôlego
Governo da Bolívia, acuado politicamente, faz plano para virar maior produtor da matéria-prima de baterias

Dificuldades podem impedir o objetivo, como qualidade inferior do lítio, exploração cara e falta de indústria

BRUNO TORANZO
DE SÃO PAULO

Enfrentando desgaste, o presidente da Bolívia, Evo Morales, aposta no lítio, metal usado para fazer bateria de celulares, para ganhar fôlego orçamentário e político.
O país, com 30% da população abaixo da linha da pobreza, traçou planos ambiciosos de exploração da sua reserva, a maior do planeta.
Evo assegura que o país será líder na produção mundial até 2014. "A Bolívia entrará no mercado internacional produzindo 30 mil toneladas por ano", disse à Folha o gerente nacional de Recursos Evaporíticos, Luis Alberto Echazú Alvarado.
O lítio é a matéria-prima utilizada em baterias de aparelhos eletrônicos, com destaque para celulares e notebooks, e de automóveis.
A maior parte da riqueza está no Salar de Uyuni, enorme lago de sal localizado entre o Departamento de Potosí e a fronteira com o Chile.
O professor de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia David Mares, em entrevista à Folha, refutou a denominação "Arábia Saudita do lítio" para a Bolívia por não acreditar que o governo consiga fazer com que seu lítio seja o mais valorizado.
Cita como exemplo a Venezuela e seu petróleo. "A Venezuela tem mais petróleo do que os sauditas. Só que a qualidade inferior e a dificuldade de extração fazem com que o país não retire a commodity na intensidade que gostaria", analisou.
Apesar de estar atrás da Bolívia em termos de reservas, o Chile tem o metal em qualidade superior, além de ser de fácil exploração.
O professor também observa que a Bolívia não tem capacidade de transformar o lítio em carbonato de lítio, matéria-prima das baterias. Para isso, seria necessário investimento pesado em indústria de alta tecnologia.

NEGOCIAÇÕES
O presidente Morales não quer simplesmente exportar lítio, operação que renderia menos dinheiro e pouca visibilidade para seu mandato.
O governo insiste em dominar toda a tecnologia de adequação do lítio para que seja usado em baterias.
Embora ainda tenha popularidade relativamente alta, Evo, recentemente, enfrentou protestos de rua em razão de um plano de reduzir subsídio para combustíveis, o que lhe trouxe desgaste. Também continua enfrentando oposição dura de governadores do leste do país.
A Bolívia conversou com japoneses, sul-coreanos e até mesmo iranianos, com o objetivo de encontrar empresa interessada em abrir fábrica de transformação do metal.
"Por ser um governo de característica nacionalista, que tenta a todo momento reafirmar sua soberania, acredito que será uma negociação difícil", afirmou à Folha o cientista político Rafael Villa.


Texto Anterior: Saiba mais: Cadáver passou por périplo até ser enterrado
Próximo Texto: Metal é recurso estratégico para os próximos anos
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.