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Para analista, conquistas compensaram erros
IURI DANTAS
DE WASHINGTON
Apesar dos erros cometidos pela inteligência militar americana
na Guerra do Iraque -pelos
quais, em última análise, o presidente George W. Bush é responsável-, a invasão valeu a pena.
Esta é a avaliação do coronel fuzileiro reformado Edward Badolato, ex-subsecretário de Energia
para Questões de Segurança Nacional nas administrações de Ronald Reagan e George Bush pai.
Para o especialista, Washington
cometeu deslizes sérios, como
não prever a insurgência e os ataques terroristas no Iraque, mas a
campanha obteve trunfos, como
o fato de tirar Saddam Hussein do
poder. Leia abaixo trechos da entrevista.
Folha- A guerra valeu a pena?
Edward Badolato- Sim, valeu. Os
benefícios da invasão não são
apenas a remoção de Saddam e a
mudança de regime, um regime
tirânico etc., mas também a remoção de um trampolim para o
terrorismo, ataques contra os vizinhos, desestabilização do golfo
Pérsico e do Oriente Médio. Regionalmente, colocar um governo
estável em um país que possui
uma tremenda quantidade de petróleo e que, desenvolvido de forma própria, seria um fator econômico importante para a região.
Nessa perspectiva, sim.
Do lado político, os argumentos
para obter apoio interno e dos
nossos aliados enfatizaram muito
o que acabou depois se provando
má inteligência sobre armas de
destruição em massa. Essas armas
armas podem ainda ser encontradas de uma forma ou de outra,
mas parece duvidoso agora. Isso
nos deu grandes problemas, problemas sérios com nossos aliados;
os franceses e alemães se mostraram duros contra nós.
Folha- Muitas críticas relacionam
a guerra ao interesse americano
por petróleo.
Badolato- De maneira geral, toda a situação no golfo Pérsico está
relacionada ao petróleo. Essa situação foi complementar, não a
principal. Não iremos permitir
que países produtores de quantidade significativa de petróleo
caiam nas mãos de pessoas que
neguem isso não apenas para os
EUA, mas para o Ocidente.
Folha- Sobre a insurgência. Havia
previsão de uma guerra curta, e temos três anos agora.
Badolato- Foi um erro, e todos
entendem isso agora. Os planos
estratégicos não levavam em consideração que haveria, em primeiro lugar, uma tremenda resistência das forças paramilitares leais a
Saddam -muitos de nós vimos
isso, mas o pessoal no comando,
não. Não consideraram que o Iraque viraria um ímã para jihadistas
de outros países, uma legião de
estrangeiros que vão combater
pelo terrorismo os EUA. Nesse
sentido foi entendida como uma
guerra como outra: derrotaríamos o Exército iraquiano, numa
guerra curta, e deixaríamos o país.
Foi um erro, e entendemos isso.
Folha- Foi também erro de inteligência? Não parecia imprevisível
que isso acontecesse.
Badolato- Não era imprevisível.
Houve mau uso de inteligência
pelo comando da inteligência e
pelos militares.
Folha- Erro também de George W.
Bush e Donald Rumsfeld?
Badolato- Em última análise,
eles são responsáveis. Os assessores passam informações, e eles
não podem tomar decisões corretas com informações erradas.
Folha- O Iraque vive hoje uma situação de guerra civil?
Badolato- O Iraque não está em
guerra civil, mas pode chegar lá.
Qualquer país do Oriente Médio
possui grupos religiosos muito diversos. O mesmo acontece no Líbano, e os embates entre eles sempre abrem uma possibilidade
muito séria. Agora, se olharmos a
luta entre sunitas e xiitas, temos as
forças de insurgência que tentam
capitalizar em cima disso, com a
explosão da mesquita, os assassinatos em massa. Tentando incitar
os sunitas a atacarem os xiitas.
O que podemos dizer é que, depois da explosão, não vimos uma
guerra civil. Existem muitas notícias sobre isso na mídia, que quer
uma guerra civil, quer ver esse colapso. A mídia americana, européia e por aí em diante. Porque
não gostam de Bush; há fatores
políticos envolvidos.
Quando vemos as operações, o
teatro de operações, podemos dizer que não há guerra civil. No cenário político precisamos montar
logo um governo de unidade nacional, e isso vem ocorrendo lentamente.
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