São Paulo, domingo, 19 de março de 2006

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Para analista, conquistas compensaram erros

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

Apesar dos erros cometidos pela inteligência militar americana na Guerra do Iraque -pelos quais, em última análise, o presidente George W. Bush é responsável-, a invasão valeu a pena. Esta é a avaliação do coronel fuzileiro reformado Edward Badolato, ex-subsecretário de Energia para Questões de Segurança Nacional nas administrações de Ronald Reagan e George Bush pai.
Para o especialista, Washington cometeu deslizes sérios, como não prever a insurgência e os ataques terroristas no Iraque, mas a campanha obteve trunfos, como o fato de tirar Saddam Hussein do poder. Leia abaixo trechos da entrevista.

 

Folha- A guerra valeu a pena?
Edward Badolato-
Sim, valeu. Os benefícios da invasão não são apenas a remoção de Saddam e a mudança de regime, um regime tirânico etc., mas também a remoção de um trampolim para o terrorismo, ataques contra os vizinhos, desestabilização do golfo Pérsico e do Oriente Médio. Regionalmente, colocar um governo estável em um país que possui uma tremenda quantidade de petróleo e que, desenvolvido de forma própria, seria um fator econômico importante para a região. Nessa perspectiva, sim.
Do lado político, os argumentos para obter apoio interno e dos nossos aliados enfatizaram muito o que acabou depois se provando má inteligência sobre armas de destruição em massa. Essas armas armas podem ainda ser encontradas de uma forma ou de outra, mas parece duvidoso agora. Isso nos deu grandes problemas, problemas sérios com nossos aliados; os franceses e alemães se mostraram duros contra nós.

Folha- Muitas críticas relacionam a guerra ao interesse americano por petróleo.
Badolato-
De maneira geral, toda a situação no golfo Pérsico está relacionada ao petróleo. Essa situação foi complementar, não a principal. Não iremos permitir que países produtores de quantidade significativa de petróleo caiam nas mãos de pessoas que neguem isso não apenas para os EUA, mas para o Ocidente.

Folha- Sobre a insurgência. Havia previsão de uma guerra curta, e temos três anos agora.
Badolato-
Foi um erro, e todos entendem isso agora. Os planos estratégicos não levavam em consideração que haveria, em primeiro lugar, uma tremenda resistência das forças paramilitares leais a Saddam -muitos de nós vimos isso, mas o pessoal no comando, não. Não consideraram que o Iraque viraria um ímã para jihadistas de outros países, uma legião de estrangeiros que vão combater pelo terrorismo os EUA. Nesse sentido foi entendida como uma guerra como outra: derrotaríamos o Exército iraquiano, numa guerra curta, e deixaríamos o país. Foi um erro, e entendemos isso.

Folha- Foi também erro de inteligência? Não parecia imprevisível que isso acontecesse.
Badolato-
Não era imprevisível. Houve mau uso de inteligência pelo comando da inteligência e pelos militares.

Folha- Erro também de George W. Bush e Donald Rumsfeld?
Badolato-
Em última análise, eles são responsáveis. Os assessores passam informações, e eles não podem tomar decisões corretas com informações erradas.

Folha- O Iraque vive hoje uma situação de guerra civil?
Badolato-
O Iraque não está em guerra civil, mas pode chegar lá. Qualquer país do Oriente Médio possui grupos religiosos muito diversos. O mesmo acontece no Líbano, e os embates entre eles sempre abrem uma possibilidade muito séria. Agora, se olharmos a luta entre sunitas e xiitas, temos as forças de insurgência que tentam capitalizar em cima disso, com a explosão da mesquita, os assassinatos em massa. Tentando incitar os sunitas a atacarem os xiitas.
O que podemos dizer é que, depois da explosão, não vimos uma guerra civil. Existem muitas notícias sobre isso na mídia, que quer uma guerra civil, quer ver esse colapso. A mídia americana, européia e por aí em diante. Porque não gostam de Bush; há fatores políticos envolvidos.
Quando vemos as operações, o teatro de operações, podemos dizer que não há guerra civil. No cenário político precisamos montar logo um governo de unidade nacional, e isso vem ocorrendo lentamente.


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