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OEA agrada Quito, mas não discute tema de fronteiras
Resolução "rechaçou" bombardeio colombiano no Equador; EUA, para quem houve "legítima defesa", registraram ressalva
Reunião reabriu ataques e não houve acordo sobre fiscalização de fronteiras e cooperação; decisão ficou para encontro em junho
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
A reunião de chanceleres da
OEA (Organização dos Estados
Americanos) para ratificar o
processo de paz entre a Colômbia e o Equador reabriu os ataques entre os dois países, não
avançou nos termos políticos e
não chegou a nenhum resultado prático, por falta de consenso. A questão foi empurrada para a Assembléia Geral da instância, em junho, em Medellín.
A resolução final foi lida à
1h10 (2h10 de Brasília) da madrugada de ontem, "rechaçando" o bombardeio colombiano
contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em território equatoriano;
registrando o pedido de desculpas e o compromisso do país de
não repeti-lo "em nenhuma
circunstância"; e reiterando
que todos os países se comprometem a combater "ações de
grupos irregulares ou organizações criminais".
Houve uma guerra não só política, mas jurídica. O Equador
e a maioria dos países defenderam e conseguiram a citação
dos artigos 19 e 21 da Carta da
OEA, que condenam a ingerência e a violação territorial em
qualquer hipótese. Os EUA e a
Colômbia tentaram, sem sucesso, "equilibrar" o texto incluindo o artigo 22 da Carta,
que abre exceção para o caso de
"legítima defesa".
Em horas e horas de debates,
prevaleceu a versão -assumida
pelo Brasil, por exemplo- de
que o artigo 22 só é aplicado para um Estado se defender de
outro, não para um Estado se
proteger de um grupo ilegal
(como as Farc) num outro país.
A delegação norte-americana foi discreta e deixou a linha
de frente da guerra para a Colômbia, mas levou o que foi chamado de "um batalhão" de advogados e especialistas em direito internacional.
No fim, com a resolução
aprovada e aplaudida de pé, o
embaixador norte-americano
junto à OEA, Arthur Morales,
apresentou em público e oralmente uma ressalva aos seus
termos, defendendo o artigo 22
e o princípio da "legítima defesa". Foi o único a fazê-lo.
Sem acordo
De prático, a resolução limitou-se a "instruir" o secretário-geral da organização, José Miguel Insulza, a "exercer seus
bons ofícios para a implementação de um mecanismo de observação do cumprimento desta resolução".
Traduzindo, não chegaram a
nenhum consenso sobre formas práticas para fiscalizar a
fronteira entre Colômbia e
Equador e evitar o livre trânsito das Farc. Não houve clima,
muito menos, para discutir
uma comissão militar permanente para a área.
A "instrução" a Insulza substituiu cinco propostas feitas pela comissão que investigou as
circunstâncias do bombardeio
colombiano. Em resumo, elas
previam um mecanismo de observação dos países, não apenas
de Insulza, e programas de cooperação e de diálogo. A Colômbia não aceita observadores no
seu país, mas aceita nas fronteiras. O Equador não.
A maioria dos representantes, inclusive o chanceler brasileiro, Celso Amorim, esforçou-se para se mostrar otimista.
"Avançou mais um pouquinho.
É um bom precedente que estamos criando e que mostra a força da América Latina e do Caribe", disse Amorim, elogiando o
fato de a OEA, com 34 países de
todas as Américas, ter encampado a posição do Grupo do
Rio, limitado à América Latina
e ao Caribe e que tem um caráter político, não jurídico.
Para o chanceler, "não tinha
sentido nenhum reforçar o pedido de desculpas da Colômbia
e depois criar a ressalva da legítima defesa [para justificar ataques em outros países, como
queriam EUA e a Colômbia]".
Isso, para ele, "seria reverter
todo o Grupo do Rio; não dá".
Entre tantas vozes, a do
chanceler da Nicarágua, Samuel Santos López, foi a mais
contundente. Em entrevista,
ele lamentou "o regresso [das
discussões] à fase antes do Grupo do Rio [quando foi selada a
paz]" e acusou indiretamente a
Colômbia de "querer andar para trás, retomando posições de
força e acusando os nossos países de responsáveis pelas situações internas deles, que provocam todos esses problemas".
A jornalista ELIANE CANTANHÊDE viajou a
Washington em um jato da FAB, a convite
do Itamaraty
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