São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Protestos palestinos marcaram enterro de Rantisi; israelenses dizem que seu sucessor será Mahmoud Zahar

Hamas esconde líder e promete vingança

Pedro Ugarte/France Presse
Palestinos carregam o corpo de Rantisi, líder do Hamas morto por Israel, durante funeral que reuniu dezenas de milhares em Gaza


DA REDAÇÃO

O Hamas anunciou ontem ter um novo líder, mas não revelou sua identidade para que ele não seja morto por forças militares israelenses, a exemplo do que ocorreu no sábado com Abdel Aziz Rantisi - ontem sepultado em cortejo de dezenas de milhares de palestinos, em Gaza- e com seu antecessor, Ahmed Yassin, morto em 22 de março.
A decisão de manter em segredo a identidade do dirigente foi anunciada em Damasco por Khaled Mashaal, líder político do Hamas e que dividia a chefia da organização com Rantisi, responsável pelas operações militares.
A rádio do Exército de Israel disse, no entanto, que o substituto de Rantisi já estava escolhido e seria Mahmoud Zahar, até sábado adjunto do dirigente morto.
Um dos membros do gabinete israelense, Gideon Ezra, disse que Mashaal seria o próximo alvo da operação que procura eliminar fisicamente os dirigentes do grupo islâmico. "No momento em que tivermos a oportunidade operacional nós vamos pegá-lo", disse.
Rantisi morreu após seu carro ser atingido por mísseis disparados por um helicópteros israelenses. Segundo a Associated Press, o episódio se enquadra no plano do premiê israelense, Ariel Sharon, de neutralizar a capacidade operacional do grupo terrorista, antes da retirada unilateral de Gaza de militares e colonos judeus.
Analistas acreditam que o plano de Sharon tem produzido efeitos, na medida em que nenhum atentado espetacular contra alvos civis israelenses ocorreu como resposta à morte de Yassin. A multidão de palestinos que ontem sepultou Rantisi clamava por vingança.
O Hamas divulgou pela internet um comunicado no qual anunciou que se preparava para "uma centena de retaliações" e que havia imposto estado de emergência em Gaza até que novos atentados fossem praticados.
"Eles [os israelenses] disseram que assassinaram Rantisi para enfraquecer o Hamas, mas eles estão sonhando, porque nossos mártires fortalecem nossa organização", disse Ismail Haniyeh, um dos dirigentes do Hamas.
Cerca de 40 jornalistas estrangeiros que acorreram para os funerais de ontem foram impedidos pelo Exército de Israel de atravessar para a faixa de Gaza. Militares israelenses evocaram "problemas técnicos" não especificados para manter o bloqueio da mídia.
Além da manifestação do sepultamento, à qual a Associated Press calcula terem comparecido 70 mil pessoas, outros protestos palestinos foram registrados em Gaza e na Cisjordânia.
Em Ramallah, soldados israelenses feriram na cabeça um adolescente de 14 anos durante um confronto entre tropas regulares e manifestantes de rua. Um outro jovem de idade não revelada recebeu um tiro no estômago em episódio semelhante em Belém.
Também ontem um soldado israelense matou um palestino armado que procurava se infiltrar num assentamento judaico em Gaza. O hospital em que seu corpo foi recolhido o identificou como Nael Mohammad Omar, 22, do grupo Jihad Islâmico.
Em Nablus, uma multidão encerrou passeata de protesto com a queima, aos gritos de "vingança, vingança", de uma efígie de Ariel Sharon.
Em Gaza, 200 guerrilheiros do Hamas se alinharam para a passagem do corpo de Rantisi com rajadas de armas automáticas. Bandeiras verdes do grupo terrorista foram colocadas nos edifícios pelos quais o cortejo passou.
O vice-premiê israelense, Ehud Olmert, negou haver uma correlação entre a morte de Rantisi e o plano de Sharon para Gaza.
Ontem, dois integrantes do governo, o ministro das Finanças e ex-premiê, Benjamin Netanyahu, e o ministro da Educação, Limor Livnat, anunciaram apoiar o plano unilateral de Sharon.
O anúncio reforça a posição do premiê, que terá seu plano referendado pelos 200 mil israelenses filiados ao seu partido, o Likud.
As forças militares e policiais de Israel entraram ontem em alerta máximo, temendo represálias pela eliminação do líder do Hamas.
Lojas e escolas permaneceram fechadas em Gaza. Na Cisjordânia, a Autoridade Palestina instruiu as escolas públicas a dedicarem o início do período letivo à leitura de textos pela morte de Rantisi.

Com agências internacionais


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