São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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"EIXO DO MAL"

Indagado se iria bombardear o país com ogivas nucleares, disse também que está empenhado em negociar

Para Bush, toda opção para o Irã é possível

DA REDAÇÃO

Indagado se pretendia bombardear o Irã com ogivas nucleares, George W. Bush afirmou ontem que "todas as opções estão sobre a mesa" para impedir que aquele país produza armas atômicas. Disse, no entanto, que continua empenhado na opção diplomática para forçar os iranianos a abandonar essa ambição.
"Queremos resolver essa questão diplomaticamente e estamos trabalhando com empenho para que isso aconteça", declarou o presidente americano.
A expressão "todas as opções sobre a mesa" é uma forma eufêmica de não descartar a mais dura das alternativas militares, a do bombardeio nuclear do Irã.
A hipótese de que isso aconteça de verdade foi levantada neste mês pela revista "New Yorker", que mencionou detalhes dos preparativos dessa operação. É também verossímil que, ao vazar tais informações, os EUA procurem primordialmente dissuadir o Irã a se radicalizar a tal ponto que a opção militar seja inevitável.
Bush insistiu na diplomacia no momento em que representantes dos cinco membros do Conselho de Segurança da ONU (Reino Unido, França, China, Rússia e os próprios Estados Unidos) chegavam a Moscou para discutir a questão iraniana.
O Irã recebeu do CS um ultimato para cessar até o próximo dia 28 o enriquecimento de urânio. Mas declarações do primeiro escalão de seu governo, a começar do presidente Mahmoud Ahmadinejad, revelam inexistir uma perspectiva de recuo.
Ahmadinejad, pelo contrário, declarou ainda ontem que as Forças Armadas estão preparadas para defender o país, caso os ocidentais optem pela guerra.
O Exército iraniano, afirmou, "cortará as mãos de qualquer agressor e fará com que ele lamente" o conflito desencadeado.
Os EUA, a França e o Reino Unido estão dispostos a adotar sanções caso prossiga a intransigência iraniana. Mas Moscou e Pequim -com programas ambiciosos de investimentos no Irã- descartam essa alternativa.
Ontem à noite, após uma primeira rodada de discussões de três horas em Moscou (a Alemanha estava presente, apesar de não ser membro permanente do Conselho de Segurança), diplomata americano citado pela Associated Press disse persistirem discordâncias quanto às formas para punir o regime iraniano.
Horas antes, o porta-voz da diplomacia russa, Mikhail Kamynin, disse que seu país "está convencido de que não é possível eliminar as preocupações da comunidade internacional sobre o programa nuclear iraniano por meio da força ou de sanções".
Mesmo assim, relata a France Presse, o ministro russo do Exterior, Serguei Lavrov, "pediu com insistência" ao chefe da diplomacia iraniana, Manouchehr Mottaki, para que o Irã interrompa a produção de combustível nuclear.
Quanto à China, o porta-voz da chancelaria Qin Gang disse ontem, em Pequim, que um enviado especial de seu país tentará convencer Teerã a fazer concessões.
Mas o Irã entrará na agenda do presidente chinês, Hu Jintao, que será recebido por Bush amanhã, na Casa Branca. Segundo o presidente americano, "o assunto iraniano será discutido" durante o encontro, por mais que analistas acreditem que a conversa terminará inconclusiva.
Além dos interesses econômicos que mantém no Irã, a China estará consumindo no ano que vem 7.9 bilhões de barris de petróleo por dia (nos EUA, serão 21,4 bilhões). Ela importa o combustível do Irã, mas não é esse o único aspecto de seu temor. Os chineses também temem uma diminuição da oferta e um aumento ainda maior nos preços.
O petróleo estava ontem cotado a mais de US$ 70 o barril, o que demonstra o nervosismo dos mercados com a atual crise.


Com agências internacionais

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