São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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Bento 16 defende soluções coletivas na ONU

Discurso é interpretado pela imprensa local como crítica velada ao governo americano e enfatiza defesa dos direitos humanos

Papa diz que consenso se "subordina à decisão de uns poucos"; Vaticano estuda mudar direito canônico para lidar com padres pedófilos

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

O consenso multilateral entre nações passa atualmente por uma crise "porque ainda está subordinado às decisões de uns poucos", disse ontem o papa Bento 16 na sede da instituição que personifica essa anuência internacional, a ONU.
Ainda que o sumo pontífice não tenha citado diretamente nenhum país em sua crítica, o comentário foi tomado pela imprensa americana como referência à invasão do Iraque pelos EUA em 2003, que contrariou a posição do Conselho de Segurança da ONU e foi, desde então, amplamente criticada pelo Vaticano.
Em discurso na Casa Branca, na quarta-feira, o papa já havia pedido aos EUA "paciência" para lidar com os desafios diplomáticos contemporâneos.
Citando a "Declaração Universal dos Direitos Humanos", Bento 16 também enfatizou que as questões humanitárias não devem ser compreendidas apenas no plano das regras jurídicas, mas como algo mais abrangente. "Quando apresentados puramente em termos de legalidade, direitos correm o risco de se tornarem proposições fracas, separadas da dimensão ética e racional que é seu alicerce e sua finalidade".
O líder religioso defendeu também o respeito à soberania dos países que enfrentam problemas humanitários. "Se Estados são incapazes de garantir tal proteção [de direitos humanos], a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos providos nas regras das Nações Unidas e em outros instrumentos internacionais".
O papa disse também que "a promoção de direitos humanos permanece sendo a estratégia mais eficaz na eliminação de desigualdades entre países e grupos sociais e no aumento de segurança".

Abusos
Também ontem, autoridades católicas disseram em um almoço com jornalistas que o Vaticano estuda mudar as leis do direito canônico no que toca a punição da igreja a padres que cometeram abuso sexual.
As declarações vieram do cardeal americano William Levada, que se encontrou com o papa e que dirige a Congregação para a Doutrina da Fé, mesmo organismo da igreja que Bento 16 encabeçava antes de ser papa e que é responsável por lidar com os casos de abuso. A perspectiva é de regras mais duras contra os molestadores.
Em sua agenda de compromissos nos Estados Unidos, que começou na terça-feira, o papa tem mencionado freqüentemente os casos de pedofilia na Igreja Católica. Em 2002, diversos relatos de abuso sexual de menores por sacerdotes em Boston e na Califórnia, referentes a cinco décadas, escandalizaram o país. Anteontem, o papa -que foi criticado por não visitar as cidades das vítimas- se encontrou com cinco delas, que viajaram especialmente para o encontro.
A visita do pontífice termina amanhã, quando ele encontrará, no aeroporto JFK, centenas de estrangeiros que vivem nos EUA, entre eles 50 brasileiros.
Hoje, o papa reza missa para o clero de manhã e se reúne com jovens católicos à tarde.


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