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Bento 16 defende soluções coletivas na ONU
Discurso é interpretado pela imprensa local como crítica velada ao governo americano e enfatiza defesa dos direitos humanos
Papa diz que consenso se "subordina à decisão de uns poucos"; Vaticano estuda mudar direito canônico para lidar com padres pedófilos
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O consenso multilateral entre nações passa atualmente
por uma crise "porque ainda
está subordinado às decisões de
uns poucos", disse ontem o papa Bento 16 na sede da instituição que personifica essa anuência internacional, a ONU.
Ainda que o sumo pontífice
não tenha citado diretamente
nenhum país em sua crítica, o
comentário foi tomado pela
imprensa americana como referência à invasão do Iraque
pelos EUA em 2003, que contrariou a posição do Conselho
de Segurança da ONU e foi, desde então, amplamente criticada
pelo Vaticano.
Em discurso na Casa Branca,
na quarta-feira, o papa já havia
pedido aos EUA "paciência" para lidar com os desafios diplomáticos contemporâneos.
Citando a "Declaração Universal dos Direitos Humanos",
Bento 16 também enfatizou
que as questões humanitárias
não devem ser compreendidas
apenas no plano das regras jurídicas, mas como algo mais
abrangente. "Quando apresentados puramente em termos de
legalidade, direitos correm o
risco de se tornarem proposições fracas, separadas da dimensão ética e racional que é
seu alicerce e sua finalidade".
O líder religioso defendeu
também o respeito à soberania
dos países que enfrentam problemas humanitários. "Se Estados são incapazes de garantir
tal proteção [de direitos humanos], a comunidade internacional deve intervir com os meios
jurídicos providos nas regras
das Nações Unidas e em outros
instrumentos internacionais".
O papa disse também que "a
promoção de direitos humanos
permanece sendo a estratégia
mais eficaz na eliminação de
desigualdades entre países e
grupos sociais e no aumento de
segurança".
Abusos
Também ontem, autoridades
católicas disseram em um almoço com jornalistas que o Vaticano estuda mudar as leis do
direito canônico no que toca a
punição da igreja a padres que
cometeram abuso sexual.
As declarações vieram do
cardeal americano William Levada, que se encontrou com o
papa e que dirige a Congregação para a Doutrina da Fé, mesmo organismo da igreja que
Bento 16 encabeçava antes de
ser papa e que é responsável
por lidar com os casos de abuso.
A perspectiva é de regras mais
duras contra os molestadores.
Em sua agenda de compromissos nos Estados Unidos,
que começou na terça-feira, o
papa tem mencionado freqüentemente os casos de pedofilia
na Igreja Católica. Em 2002, diversos relatos de abuso sexual
de menores por sacerdotes em
Boston e na Califórnia, referentes a cinco décadas, escandalizaram o país. Anteontem, o papa -que foi criticado por não
visitar as cidades das vítimas-
se encontrou com cinco delas,
que viajaram especialmente
para o encontro.
A visita do pontífice termina
amanhã, quando ele encontrará, no aeroporto JFK, centenas
de estrangeiros que vivem nos
EUA, entre eles 50 brasileiros.
Hoje, o papa reza missa para
o clero de manhã e se reúne
com jovens católicos à tarde.
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