São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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VATICANO

Pontífice pede a padre que leia texto; Santa Sé confirma presença de João Paulo 2º em canonização de madre Paulina

Papa faz 82 e não consegue ler discurso
Associated Press
Papa beija uma criança durante a cerimônia que marcou seu aniversário de 82 anos, na Santa Sé


DA REDAÇÃO

O papa João Paulo 2º comemorou ontem o seu 82º aniversário ante dezenas de milhares de pessoas que cantaram "Parabéns para Você" no Vaticano. Apesar do clima festivo, ele não conseguiu ler todo o seu discurso de aniversário. Um padre postado atrás de João Paulo 2º leu a maior parte da mensagem, passando o texto para o papa nos últimos parágrafos.
Ultimamente o pontífice vem usando a ajuda de assessores para a leitura de textos escritos em línguas que para ele são de difícil pronúncia, mas o líder da Igreja Católica normalmente lê por completo os seus discursos em italiano, como o de ontem.
Apesar dessa nova demonstração da fragilidade de sua saúde, a agenda de João Paulo para hoje não foi mudada e ele deve comparecer à cerimônia de canonização de madre Paulina do Coração Agonizante de Jesus e de outros quatros religiosos -um espanhol e três italianos.
Uma viagem para o Azerbaijão (Ásia central) e para a Bulgária (Leste Europeu) está programada para começar na quarta-feira.
Durante a comemoração, João Paulo 2º beijou uma criança levada a ele. Depois de abençoar a multidão que assistia à cerimônia, ele teve de sair amparado por assessores.
Desde 1993, o papa tem manifestado claros sintomas do mal de Parkinson, uma desordem do sistema nervoso. Entre esses indícios destacam-se um tremor quase incontrolável de seu braço esquerdo e uma rigidez de seus músculos faciais, dando ao pontífice uma expressão de fragilidade.
O papa sofre também de uma artrose no joelho e das consequências do atentado a tiros que quase o matou no começo da década de 1980. De tempos em tempos surgem rumores de que uma operação ortopédica será necessária, já que João Paulo 2º reclama de dores na junta.
Os dias que antecederam a celebração do aniversário papal foram marcados pelo retorno dos debates na imprensa mundial sobre uma possível renúncia por motivos de saúde. Essas especulações parecem se tornar recorrentes sempre que se aproximam datas marcantes deste pontificado.
O próprio João Paulo 2º, na última quarta-feira, disse a peregrinos no Vaticano que gostaria de continuar levando adiante a sua missão. Mesmo assim, na quinta-feira, dois cardeais disseram acreditar que o papa teria "a coragem" de deixar o cargo voluntariamente caso sentisse a impossibilidade de continuar por causa da saúde.
O número 2 do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, teve de ir a público e contradizer os que defendem uma saída voluntária de João Paulo 2º: "O papa está no timão do navio e todos nós, que trabalhamos com ele, estamos nos remos".
O jornal da Santa Sé, "L'Oservatore Romano", mostrou na capa a foto de um papa sorridente e a manchete: "Muitos mais anos, Santo Padre!"
O último papa a renunciar por vontade própria foi Celestino 5º, em 1294. Gregório 12 foi forçado a abdicar por causa de disputas internas em 1415.

Dia normal de trabalho
O porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse que João Paulo 2º vai marcar a data com um almoço íntimo com seus assessores mais próximos e com alguns cardeais que chefiam departamentos do Vaticano. Seria servido um bolo tradicional feito por uma freira polonesa.
Como nos últimos anos, o dia foi de trabalho normal na Santa Sé. O papa recebeu jovens e um grupo de bispos do Equador. Ele também foi abençoar uma estátua de santa Maria Josefa do Coração de Jesus, que foi inaugurada na fachada da basílica de São Pedro.
Os compromissos papais nos próximos dias devem levar ainda mais ao limite a resistência de João Paulo 2º. Um dos eventos mais importantes é a visita à Bulgária. Missas em todo o país celebraram a passagem da data natalícia do pontífice e desejaram saúde a ele.
Em algumas cidades búlgaras, porém, cartazes contra a visita foram vistos em locais de destaque. "Fora papa herege!", dizia um deles. A maioria da população de cerca de 9 milhões segue a Igreja Ortodoxa. Há também uma importante minoria de muçulmanos e apenas 70 mil católicos.
Outro ponto diplomático a ser sanado com a Bulgária seria o envolvimento dos serviços secretos búlgaros no atentado de 1981.


Com agências internacionais


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