São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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Para analista, guerra ao terror atenua unilateralismo americano

DA REDAÇÃO

O sucesso da cruzada dos EUA contra o terrorismo internacional não poderá ser alcançado exclusivamente por meios militares. Ele requer uma estreita cooperação internacional em áreas civis, o que obriga o presidente George W. Bush a atenuar sua veleidade de agir de modo unilateralista.
A análise é de Joseph Nye, reitor da Kennedy School of Government, da Universidade Harvard (EUA), que é um dos papas do estudo de relações internacionais, fundou sua escola neo-realista e escreveu, entre outros, "Understanding International Conflicts" (entendendo conflitos internacionais) e "After the Cold War" (depois da Guerra Fria). Leia a seguir sua entrevista à Folha. (MSM)

Folha - A aliança militar ocidental se enfraqueceu nos últimos anos?
Joseph Nye -
Com o fim da ameaça soviética, a Otan era fadada a ver seu papel político fortalecido em detrimento do aspecto militar. No entanto ela ainda desempenha um papel militar na cena internacional. Isso não só nos Bálcãs. Não podemos esquecer que a Otan, amparada por seu potencial militar, tem um valor político crucial no que concerne a criar estabilidade na Ásia central.

Folha - Muitos analistas acusam os EUA de agir de modo unilateralista desde o início do governo de Bush. O que o sr. pensa disso?
Nye -
Os primeiros oito meses da atual administração foram marcados por várias medidas unilateralistas, como o abandono do Protocolo de Kyoto [que estabelece metas para o combate do efeito estufa". Contudo, após os atentados de 11 de setembro, Bush buscou o apoio da ONU e procurou a anuência de uma coalizão internacional à guerra ao terrorismo.
Quando a principal fase militar desse esforço foi concluída no Afeganistão, em dezembro passado, alguns analistas concluíram que isso tinha sido feito unilateralmente. Como argumento em meu novo livro, "The Paradox of American Power" [o paradoxo do poder americano", isso é um grande erro porque o sucesso das ações contra o terrorismo não poderá ser alcançado apenas por meios militares. Ele requer uma estreita cooperação em inúmeras áreas civis. Com isso, Bush não pode ser unilateralista demais.

Folha - Ainda há lugar para o "soft power" [influência cultural e ideológica de um país sobre os outros" num mundo em que o "hard power" [poder militar e econômico" voltou a ser tão importante?
Nye -
O "hard power" foi crucial para derrotar um governo afegão que abrigava terroristas, o do Taleban. Todavia ele não foi bem-sucedido no que diz respeito a pôr fim às células terroristas da rede Al Qaeda, que existem em cerca de 50 países. Embora o "hard power" seja indispensável em parte da guerra ao terrorismo, acreditar que o "soft power" não interesse mais é um erro imperdoável.
A observação da influência da Al Jazeera, a rede de TV do Qatar que ficou famosa na campanha militar no Afeganistão, sobre as opiniões e as atitudes de várias populações do Oriente Médio mostra que o "soft power" permanece essencial. Essas atitudes afetam a posição de outros Estados no que se refere à cooperação com os esforços internacionais.



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