São Paulo, domingo, 19 de maio de 2002

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Nova York bate de frente com governo Bush

SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Acabou a lua-de-mel entre o governo Bush e Nova York, cidade que foi a principal atingida em 11 de setembro, com 2.823 mortos. O coro dos descontentes nova-iorquinos com a atuação do governo Bush no episódio pré-ataque terrorista cresceu e foi puxado pela senadora do Estado, a democrata Hillary Clinton.
Em discurso no Capitólio, em Washington, a ex-primeira-dama citou a primeira página do tablóide conservador "The New York Post" de anteontem, que trazia apenas o título "11/9: Bush sabia" e uma foto do presidente. "Se ele sabia, meus correligionários e eu queremos saber o quê, quanto e quando", disparou.
Depois de reforçar que nunca questionaria "um comandante-em-chefe", Hillary Clinton pediu que o presidente viesse "diante do povo americano o quanto antes para responder às questões que muitos nova-iorquinos e americanos estão fazendo".
Anteontem, parentes das vítimas do ataque já haviam se manifestado pesadamente contra a maneira pela qual Bush e seus assessores agiram no episódio, na primeira crítica pública do grupo ao governo desde 11 de setembro. Além disso, uma das ONGs que reúne as viúvas do ataque marcou um comício no dia 11 de junho em frente ao Capitólio.
A reação de Washington veio quase imediatamente. No encontro diário com os jornalistas, Ari Fleischer, porta-voz da Casa Branca, criticou a fala de Hillary Clinton, comparando-a com a do prefeito de Nova York, o republicano Michael Bloomberg.
"Quando leu a manchete do jornal em questão, o prefeito ligou para a Casa Branca para saber o que havia acontecido e só então disse à imprensa que achava ridículas as acusações", disse ele. "Mas estou desapontado com a sra. Clinton, que depois de ler o mesmo título não nos procurou, foi ao plenário e, ao contrário de unir como Bloomberg, dividiu a cidade de Nova York."
Quanto ao jornal, o porta-voz diz ter ligado para seu editor-chefe. "Telefonei para Col Allan na quinta-feira para dizer que a manchete era inexata", afirmou Fleischer ontem de manhã. "Acho que estava errada e que o jornal está jogando com a dor das vítimas de maneira incendiária e profundamente lamentável."
A resposta do jornalista, segundo o próprio Col Allan, foi: "Achar que nós culpamos o presidente Bush com aquela manchete é que é um absurdo. Você tem de olhar para a página como um todo. Para o povo de Nova York, 11 de setembro não é apenas a data em si mas sim todos os eventos e fatos jornalísticos que a cercam."
De propriedade do magnata australiano Rupert Murdoch, o "The New York Post" é o terceiro jornal em circulação na cidade, com 500 mil exemplares diários, atrás do "The New York Times" (1,2 milhão/dia) e do "New York Daily News" (750 mil/dia).


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