São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE OCUPADO

Premiês da Itália e da Polônia exortam Washington a dar poder "verdadeiro" a iraquianos em 30 de junho

Aliados defendem entrega total de soberania

DA REDAÇÃO

Ante a deterioração da situação política e de segurança no Iraque, os EUA começam a sofrer pressão dentro de sua coalizão para devolver aos iraquianos a soberania total em 30 de junho. Ontem, pela primeira vez, os governos da Itália e da Polônia, os dois maiores aliados americanos no Iraque depois do Reino Unido, se manifestaram enfaticamente nesse sentido.
O cronograma americano para o Iraque prevê que, em 30 de junho, seja extinta a Autoridade Provisória da Coalizão, liderada pelos EUA, e seja criado um governo interino iraquiano chancelado pela ONU.
Mas, embora use a expressão "devolver a soberania aos iraquianos", o governo George W. Bush já deixou claro que essa soberania será "parcial", definição que tira de Bagdá o poder de fazer leis e o controle sobre as forças militares operando no país, o qual segue a cargo dos EUA. Em depoimento no Senado, o vice-secretário da Defesa, Paul Wolfowitz, disse que os EUA poderão manter "140 mil soldados ou mais" no Iraque até o fim de 2005.
Entretanto, a apenas 43 dias da transição, os EUA continuam a sofrer sucessivos golpes em sua campanha iraquiana, do escândalo envolvendo seus soldados em casos de tortura de iraquianos à escalada da insurgência no país, que, anteontem, culminou no assassinato do líder do Conselho de Governo Iraquiano.
Diante de tal quadro, a pressão se intensifica sobre Washington e também sobre seus aliados.
"Queremos ter certeza de que haverá uma verdadeira guinada na situação iraquiana para que seja entregue soberania verdadeira ao país", declarou o premiê italiano, Silvio Berlusconi, em viagem aos EUA para se reunir com Bush e com o secretário-geral da ONU, Kofi Annan. Nos dois casos, o tema principal de discussão deve ser a transição iraquiana.

Pressões domésticas
Sob pressão doméstica redobrada por ter festejado a vitória de seu time de futebol, o Milan, no mesmo dia em que um soldado italiano foi morto no Iraque, Berlusconi tem aos poucos se distanciado das posições americanas, embora reitere a manutenção de suas tropas após 30 de junho.
A Itália tem 2.700 soldados no Iraque, menos apenas do que os EUA e o Reino Unido. O país seguinte em número de tropas -2.400- é a Polônia, cujo premiê, Marek Belka, também exortou os EUA a dar soberania total aos iraquianos.
"Vamos pressionar nossos aliados para que esse processo [de transferência de poder] seja mais rápido e mais completo", disse Belka a jornalistas. O premiê também afirmou que o Conselho de Governo Iraquiano, nomeado pelos EUA com um caráter meramente consultivo, "perdeu sua legitimidade".
Além da pressão de Roma e Varsóvia, que, apesar das demandas, prometem manter seus soldados, os EUA podem perder o apoio militar da Ucrânia. Kiev enviou 2.000 soldados ao Iraque, e sua retirada seria um golpe especialmente duro após a saída de 1.300 soldados espanhóis, decorrente da vitória da oposição nas eleições de março.
Hoje, o Parlamento ucraniano vota a proposta da oposição para retirar as tropas. A palavra final cabe ao presidente Leonid Kuchma, mas uma decisão desfavorável dos legisladores pode tornar a pressão insustentável.

Petróleo
Completando o quadro, cresce a demanda dos próprios iraquianos por maior autonomia. O vice-chanceler do Iraque deve enviar uma delegação à ONU a fim de solicitar o total controle das receitas geradas pelo petróleo exportado pelo país -que, por enquanto, está sob administração da APC. "O governo soberano iraquiano deve poder controlar suas receitas", disse Hamid al Bayati.
Ontem, a violência no Iraque persistiu em confrontos entre as forças dos EUA e as milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr em Karbala, onde oito iraquianos foram mortos. O maior líder xiita do país, grão-aiatolá Ali al Sistani, voltou a exortar os dois lados a deixar Karbala e Najaf, cidades que concentram os principais templos dessa corrente islâmica.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Oriente Médio: Operação de Israel mata 19 palestinos no sul de Gaza
Próximo Texto: Auditoria vê nova fraude atribuída à Halliburton
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.