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IRAQUE OCUPADO
Premiês da Itália e da Polônia exortam Washington a dar poder "verdadeiro" a iraquianos em 30 de junho
Aliados defendem entrega total de soberania
DA REDAÇÃO
Ante a deterioração da situação
política e de segurança no Iraque,
os EUA começam a sofrer pressão
dentro de sua coalizão para devolver aos iraquianos a soberania total em 30 de junho. Ontem, pela
primeira vez, os governos da Itália
e da Polônia, os dois maiores aliados americanos no Iraque depois
do Reino Unido, se manifestaram
enfaticamente nesse sentido.
O cronograma americano para
o Iraque prevê que, em 30 de junho, seja extinta a Autoridade
Provisória da Coalizão, liderada
pelos EUA, e seja criado um governo interino iraquiano chancelado pela ONU.
Mas, embora use a expressão
"devolver a soberania aos iraquianos", o governo George W. Bush
já deixou claro que essa soberania
será "parcial", definição que tira
de Bagdá o poder de fazer leis e o
controle sobre as forças militares
operando no país, o qual segue a
cargo dos EUA. Em depoimento
no Senado, o vice-secretário da
Defesa, Paul Wolfowitz, disse que
os EUA poderão manter "140 mil
soldados ou mais" no Iraque até o
fim de 2005.
Entretanto, a apenas 43 dias da
transição, os EUA continuam a
sofrer sucessivos golpes em sua
campanha iraquiana, do escândalo envolvendo seus soldados em
casos de tortura de iraquianos à
escalada da insurgência no país,
que, anteontem, culminou no assassinato do líder do Conselho de
Governo Iraquiano.
Diante de tal quadro, a pressão
se intensifica sobre Washington e
também sobre seus aliados.
"Queremos ter certeza de que
haverá uma verdadeira guinada
na situação iraquiana para que seja entregue soberania verdadeira
ao país", declarou o premiê italiano, Silvio Berlusconi, em viagem
aos EUA para se reunir com Bush
e com o secretário-geral da ONU,
Kofi Annan. Nos dois casos, o tema principal de discussão deve
ser a transição iraquiana.
Pressões domésticas
Sob pressão doméstica redobrada por ter festejado a vitória de
seu time de futebol, o Milan, no
mesmo dia em que um soldado
italiano foi morto no Iraque, Berlusconi tem aos poucos se distanciado das posições americanas,
embora reitere a manutenção de
suas tropas após 30 de junho.
A Itália tem 2.700 soldados no
Iraque, menos apenas do que os
EUA e o Reino Unido. O país seguinte em número de tropas
-2.400- é a Polônia, cujo premiê, Marek Belka, também exortou os EUA a dar soberania total
aos iraquianos.
"Vamos pressionar nossos aliados para que esse processo [de
transferência de poder] seja mais
rápido e mais completo", disse
Belka a jornalistas. O premiê também afirmou que o Conselho de
Governo Iraquiano, nomeado pelos EUA com um caráter meramente consultivo, "perdeu sua legitimidade".
Além da pressão de Roma e
Varsóvia, que, apesar das demandas, prometem manter seus soldados, os EUA podem perder o
apoio militar da Ucrânia. Kiev enviou 2.000 soldados ao Iraque, e
sua retirada seria um golpe especialmente duro após a saída de
1.300 soldados espanhóis, decorrente da vitória da oposição nas
eleições de março.
Hoje, o Parlamento ucraniano
vota a proposta da oposição para
retirar as tropas. A palavra final
cabe ao presidente Leonid Kuchma, mas uma decisão desfavorável dos legisladores pode tornar a
pressão insustentável.
Petróleo
Completando o quadro, cresce a
demanda dos próprios iraquianos por maior autonomia. O vice-chanceler do Iraque deve enviar
uma delegação à ONU a fim de
solicitar o total controle das receitas geradas pelo petróleo exportado pelo país -que, por enquanto,
está sob administração da APC.
"O governo soberano iraquiano
deve poder controlar suas receitas", disse Hamid al Bayati.
Ontem, a violência no Iraque
persistiu em confrontos entre as
forças dos EUA e as milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr
em Karbala, onde oito iraquianos
foram mortos. O maior líder xiita
do país, grão-aiatolá Ali al Sistani,
voltou a exortar os dois lados a
deixar Karbala e Najaf, cidades
que concentram os principais
templos dessa corrente islâmica.
Com agências internacionais
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