São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Segundo o Exército, o objetivo é destruir túneis de contrabando de armas do Egito e não casas de palestinos

Operação de Israel mata 19 palestinos no sul de Gaza

DA REDAÇÃO

Apoiadas por helicópteros e cerca de 60 blindados, tropas israelenses entraram ontem no campo de refugiados de Rafah, na maior operação militar dos últimos anos na faixa de Gaza. Pelo menos 19 palestinos morreram -dez em ataques com mísseis, nove atingidos por tiros.
Segundo Israel, a maioria dos mortos seriam terroristas. De acordo com os palestinos, nove civis morreram, entre eles os irmãos Asma Mughayer, 16, e Ahmed, 13.
O Exército disse que o objetivo da ação iniciada ontem é destruir túneis que ligam Gaza ao Egito, por onde haveria contrabando de armas.
Segundo nota da Embaixada de Israel no Brasil, oito túneis foram descobertos em Rafah no último mês e mais de 90 desde setembro de 2000 (início da Intifada).
Soldados realizaram buscas casa a casa. Khaled al Assar, 38, eletricista, diz ter se refugiado com a mulher e cinco filhos em um cômodo. "Houve uma forte explosão, a crianças começaram a gritar e a chorar", disse Al Assar.
O Exército negou ter planos de destruir centenas de casas em Rafah para alargar a faixa de segurança que Israel mantém na fronteira entre Gaza e o Egito. Na semana passada, 13 soldados morreram em ataques de grupos terroristas palestinos em Gaza, cinco na faixa de segurança em Rafah.
"Nosso plano não é demolir casas", disse o general Moshe Yaaolon. Só seriam demolidas casas usadas como esconderijo para terroristas e entrada de túneis.
Quatro casas foram destruídas ontem e quase cem na semana passada. O líder palestino Iasser Arafat definiu a ação em Rafah como um "massacre planejado".
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, qualificou a violência como "perturbadora", mas disse que Israel tem "todo o direito de se defender do terrorismo".
A União Européia e a ONU condenaram a destruição de casas. Segundo a Anistia Internacional, cerca de 3.000 casas de palestinos foram demolidas desde o início da Intifada (levante palestino).
O agravamento da violência ocorre no momento em que o premiê israelense, Ariel Sharon, tenta obter apoio para uma retirada unilateral de 7.500 colonos israelenses de Gaza.
A saída de Gaza integra um plano mais amplo de separação unilateral de Israel dos territórios palestinos, do qual também faz parte a barreira que os israelenses estão construindo na Cisjordânia.
Sharon sustenta que a saída de Gaza trará mais segurança para Israel, mas não quer dar a impressão de que está saindo por causa da ação de terroristas. Por isso realiza ações duras contra eles.
Israel qualifica todas as ações armadas de palestinos como terroristas. Mas os palestinos dizem que ataques ao Exército israelense nos territórios palestinos são atos de resistência contra a ocupação.
Pesquisas mostram que a maioria em Israel apóia a saída de Gaza, mas o plano foi rejeitado pelo partido de Sharon, o Likud. Para os adversários, o plano premia o terrorismo ao devolver Gaza sem exigir concessões. O premiê o reapresentará com mudanças.
O plano é apoiado pelos EUA, pela União Européia, pela ONU e pela Rússia (o "Quarteto"), mas, segundo os palestinos, Sharon quer sair de Gaza para reforçar o controle na Cisjordânia, onde vivem 230 mil colonos judeus.
Na madrugada de hoje, um integrante do grupo terrorista Brigadas dos Mártires de Al Aqsa foi morto pelo Exército israelense em incursão em acampamento de refugiados em Jenin (Cisjordânia).


Com agências internacionais

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