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ESCÂNDALO
Jeremy Sivits, 24, é o primeiro a se apresentar à corte marcial e deve se declarar culpado
Começa hoje julgamento por tortura
DA REDAÇÃO
Em meio a novas denúncias de
maus-tratos, abre hoje a primeira corte marcial decorrente do
escândalo da tortura de iraquianos por soldados dos EUA, num
processo que promete punições
exemplares daqueles diretamente envolvidos no caso.
O recruta Jeremy Sivits, 24, deve se declarar culpado. Um dos
sete indiciados no caso até agora
e o responsável por várias das fotos de tortura e humilhação que
chocaram a opinião pública, Sivits sofreu duas acusações de
maus-tratos, uma de conspiração para maltratar prisioneiros e
uma de abandono do cargo. São
delitos menores, para os quais a
pena máxima, somados os casos, é de um ano de reclusão.
Em troca, Sivits cooperou com
a Promotoria, tendo denunciado colegas que participaram das
sessões de abusos fotografadas
por ele. Além disso, seu depoimento poupou o comando militar, avalizando a posição do Pentágono de que não houve ordem
de tortura, apenas falha de comando em esferas mais baixas.
Uma nova denúncia veio à tona ontem, quando a agência
Reuters de notícias anunciou
que três de seus colaboradores
iraquianos sofreram abuso ao
serem detidos por soldados
americanos em janeiro. As vítimas só revelaram o caso agora
porque os EUA disseram não
haver provas dos maus-tratos.
Segundo os funcionários da
agência, os soldados os obrigaram a colocar os sapatos na boca
-uma ofensa grave para um
árabe- e a introduzir um dedo
no próprio ânus e lambê-lo em
seguida. A humilhação teria sido
fotografada.
Baixo escalão
O Pentágono e a Casa Branca
têm tentado restringir os efeitos
do escândalo ao baixo escalão
militar, embora tenham surgido
repetidas denúncias na imprensa -a principal delas na revista
"The New Yorker" no último
fim de semana- de que as torturas teriam ocorrido sob o conhecimento ou mesmo a anuência do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. Mas o presidente
George W. Bush já reiterou que
Rumsfeld seguirá no cargo e que
seu trabalho é "soberbo".
Entretanto analistas acreditam
que a ampla cobertura do caso
pela imprensa e a entrada do
Congresso nas investigações devem levar as punições a níveis
hierárquicos mais altos. "Há
uma boa chance de [o subsecretário da Defesa para inteligência,
Stephen] Cambone ser implicado e forçado a renunciar. Já a
condição de Rumsfeld ainda é
incerta, pois depende do impacto [de sua manutenção no cargo] sobre a reeleição de Bush",
disse à Folha Thomas E. Mann,
especialista em política do Instituto Brookings (Washington).
Por enquanto, pesquisas indicam que a maioria dos americanos quer Rumsfeld no cargo.
Amanhã devem se apresentar
à corte os sargentos Charles Graner, descrito por Sivits como "o
chefe do bando", Ivan Frederick
e Javal Davis. As soldados
Lynndie England, Sabrina Harman e Megan Ambuhl esperam
a data do julgamento. Todos estão envolvidos em episódios
ocorridos na prisão de Abu
Ghraib, em novembro.
O julgamento de hoje será presidido por um só juiz e ocorrerá
no Palácio dos Congressos, na
Zona Verde de Bagdá. Dos 34 lugares para a imprensa, oito foram destinados a veículos árabes, em mais uma tentativa de
reverter o prejuízo à imagem
americana na região.
Com agências internacionais
Colaborou Luciana Coelho da Redação
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