São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2004

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ESCÂNDALO

Jeremy Sivits, 24, é o primeiro a se apresentar à corte marcial e deve se declarar culpado

Começa hoje julgamento por tortura

DA REDAÇÃO

Em meio a novas denúncias de maus-tratos, abre hoje a primeira corte marcial decorrente do escândalo da tortura de iraquianos por soldados dos EUA, num processo que promete punições exemplares daqueles diretamente envolvidos no caso.
O recruta Jeremy Sivits, 24, deve se declarar culpado. Um dos sete indiciados no caso até agora e o responsável por várias das fotos de tortura e humilhação que chocaram a opinião pública, Sivits sofreu duas acusações de maus-tratos, uma de conspiração para maltratar prisioneiros e uma de abandono do cargo. São delitos menores, para os quais a pena máxima, somados os casos, é de um ano de reclusão.
Em troca, Sivits cooperou com a Promotoria, tendo denunciado colegas que participaram das sessões de abusos fotografadas por ele. Além disso, seu depoimento poupou o comando militar, avalizando a posição do Pentágono de que não houve ordem de tortura, apenas falha de comando em esferas mais baixas.
Uma nova denúncia veio à tona ontem, quando a agência Reuters de notícias anunciou que três de seus colaboradores iraquianos sofreram abuso ao serem detidos por soldados americanos em janeiro. As vítimas só revelaram o caso agora porque os EUA disseram não haver provas dos maus-tratos.
Segundo os funcionários da agência, os soldados os obrigaram a colocar os sapatos na boca -uma ofensa grave para um árabe- e a introduzir um dedo no próprio ânus e lambê-lo em seguida. A humilhação teria sido fotografada.

Baixo escalão
O Pentágono e a Casa Branca têm tentado restringir os efeitos do escândalo ao baixo escalão militar, embora tenham surgido repetidas denúncias na imprensa -a principal delas na revista "The New Yorker" no último fim de semana- de que as torturas teriam ocorrido sob o conhecimento ou mesmo a anuência do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. Mas o presidente George W. Bush já reiterou que Rumsfeld seguirá no cargo e que seu trabalho é "soberbo".
Entretanto analistas acreditam que a ampla cobertura do caso pela imprensa e a entrada do Congresso nas investigações devem levar as punições a níveis hierárquicos mais altos. "Há uma boa chance de [o subsecretário da Defesa para inteligência, Stephen] Cambone ser implicado e forçado a renunciar. Já a condição de Rumsfeld ainda é incerta, pois depende do impacto [de sua manutenção no cargo] sobre a reeleição de Bush", disse à Folha Thomas E. Mann, especialista em política do Instituto Brookings (Washington). Por enquanto, pesquisas indicam que a maioria dos americanos quer Rumsfeld no cargo.
Amanhã devem se apresentar à corte os sargentos Charles Graner, descrito por Sivits como "o chefe do bando", Ivan Frederick e Javal Davis. As soldados Lynndie England, Sabrina Harman e Megan Ambuhl esperam a data do julgamento. Todos estão envolvidos em episódios ocorridos na prisão de Abu Ghraib, em novembro.
O julgamento de hoje será presidido por um só juiz e ocorrerá no Palácio dos Congressos, na Zona Verde de Bagdá. Dos 34 lugares para a imprensa, oito foram destinados a veículos árabes, em mais uma tentativa de reverter o prejuízo à imagem americana na região.


Com agências internacionais
Colaborou Luciana Coelho da Redação


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