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Missão como
"treino" para o Rio
divide analistas
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
Especialistas brasileiros divergem sobre a possibilidade,
levantada por um general, de
que a missão militar no Haiti
sirva de "treino" para a atuação
de soldados brasileiros na repressão ao crime no Rio.
Para Ronaldo Leão, professor
do Núcleo de Estudos Estratégicos da UFF (Universidade
Federal Fluminense), as missões são semelhantes, pois, em
ambos os casos, as forças vão
desempenhar papel de polícia.
Leão, que preside a ONG Instituto de Defesa Nacional, se
diz contra a atuação das Forças
Armadas nos dois casos.
A hipótese surgiu em reportagem da Folha no último domingo, lançada pelo general
Américo Salvador, que comandará a missão no Haiti.
"O papel das Forças Armadas
é a imposição da paz. Fazer a
manutenção da paz é papel da
polícia. O governo está mandando os militares para lá [o
Haiti] para uma missão policial. O Exército, a Marinha e a
Aeronáutica não são para isso",
afirmou Leão.
Para ele, as Forças Armadas
não podem intervir numa área
que não seja a sua, como havia
solicitado o governo do Estado
do Rio. "O Exército não é feito
para a contenção, mas para a
destruição. Os militares não
são treinados para dizer: "Com
licença, o senhor está detido"."
O governo do Rio e autoridades federais passaram um mês
discutindo a possibilidade de
os militares atuarem contra a
criminalidade, como já ocorreu seis vezes desde os anos 90.
As negociações terminaram
sem acordo, na semana passada, quando a governadora Rosinha Matheus (PMDB) rejeitou proposta dos militares que
previa o patrulhamento das
principais vias da região. Ela
havia pedido que as Forças Armadas ocupassem provisoriamente favelas da capital.
Diferentemente do professor
Ronaldo Leão, o diretor de relações internacionais da ONG
Centro de Justiça Global, James
Cavallaro, disse não ver paralelo entre a atuação militar no
Haiti e no Rio. Segundo ele, é
"irresponsável" dizer que a
missão no Haiti será um treinamento para os brasileiros.
"Nem sabemos exatamente o
que as tropas brasileiras farão
no Haiti. E daí a dizer que eles
voltarão de lá capacitados para
atuar em locais como o Rio é
preocupante. As situações do
Haiti e do Rio são radicalmente
diferentes. No Haiti, a tentativa
é de garantir o cumprimento
da Constituição. No Rio, o problema é simplesmente de polícia", afirmou.
Presidente da ONG Tortura
Nunca Mais, a psicóloga Cecília
Coimbra também não vê semelhanças entre as duas situações.
"Já somos contra a intervenção das tropas brasileiras no
Haiti. Aí vem esse general [Salvador] dizer que a ida para lá
servirá de treino para ações
dentro do país. Isso é absurdo,
pois as Forças Armadas não
devem nunca atuar na segurança pública", disse Coimbra.
As tropas brasileiras comandarão a missão internacional
de paz no Haiti porque é praxe
que o país que fornece o maior
contingente chefie a operação.
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