São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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Sri Lanka anuncia morte de líder rebelde

Em investida final contra grupo separatista, governo reassume controle total da ilha após 26 anos e diz que conflito acabou

ONU, União Europeia e ONGs de direitos humanos iniciam campanha pela apuração independente de supostos crimes de guerra

Ishara S. Kodikara/France Presse
Cingaleses celebram nas ruas da capital, Colombo, fim do conflito que matou até 100 mil pessoas


DA REDAÇÃO

O Sri Lanka anunciou ontem a morte do líder do grupo separatista Tigres Tâmeis, Velupillai Prabhakaran, e a retomada, pela primeira vez em 26 anos, do controle sobre a totalidade do território da pequena ilha localizada no oceano Índico.
"Podemos anunciar com toda a responsabilidade que libertamos todo o país do terrorismo", disse na TV o comandante do Exército, general Sarath Fonseka, após a operação que matou Prabhakaran, nas primeiras horas de ontem.
Anteontem, os Tigres Tâmeis já haviam reconhecido a derrota, um dia após perderem para as forças oficiais a última faixa litorânea ainda sob seu controle e serem confinados a área de cerca de 3 km2 - o Estado tâmil chegou a ter 65 mil km2.
Segundo o Exército, Prabhakaran e seus principais auxiliares tentavam fugir em uma van quando foram interceptados. O combate, que matou também o filho do líder, Charles Anthony, 24, durou duas horas.
O presidente Mahinda Rajapaksa -linha-dura cuja eleição em 2005 é atribuída por analistas à intransigência do grupo separatista nas negociações- deverá fazer o anúncio oficial do fim do conflito que custou cerca de 100 mil vidas hoje.
Rajapaksa é o artífice da ofensiva contra os Tigres Tâmeis iniciada em 2005 após o fim do acordo de cessar-fogo firmado três anos antes. Em janeiro, após a captura da então capital rebelde, Kilinochchi, o governo anunciou a "investida final" contra o grupo tâmil.
Desde então, calcula-se em até 8.000 o número de mortos pela intensificação dos combates. Entre 30 mil e 70 mil civis ficaram sob fogo cruzado, em meio a acusações de violações humanitárias por governo e rebeldes. Os refugiados passam de 265 mil, segundo a ONU.

Origem
O conflito, iniciado em 1983, tem sua origem na marginalização imposta à minoria tâmil (18% da população) após a promulgação de uma Constituição com privilégios à maioria cingalesa (74%) nos anos 70.
Durante os 26 anos de conflito, o Sri Lanka -pouco maior que a Paraíba e com 21 milhões de habitantes- conviveu com um Estado tâmil paralelo no seu território, que chegou a possuir sistemas judicial, tributário, educacional, Marinha e Força Aérea próprios.
ONU, União Europeia e grupos de direitos humanos já iniciaram campanha, no entanto, para o estabelecimento de uma comissão internacional independente para investigar supostos crimes de guerra.
Para Anna Neistat, da Human Rights Watch, "todo o sistema internacional de Justiça terá sido derrotado se não houver investigações". "O modo como o Sri Lanka está tratando os tâmeis neste momento não levará a uma conciliação", disse.


Com agências internacionais


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