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entrevista
País busca a reconciliação, diz brasileiro
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
A população do Sri Lanka
quer conciliação e não revanche após a guerra civil, avalia
o embaixador do Brasil em
Colombo, Pedro Henrique
Lopes Borio. O diplomata cita avanços e contemporiza as
críticas internacionais ao governo do Sri Lanka.
Para Borio, a paz fomenta
o desenvolvimento, e o Sri
Lanka pode ser base para comércio com a Ásia.
FOLHA - Como é a situação no
país após a derrota dos rebeldes?
PEDRO HENRIQUE LOPES BORIO - A
palavra que mais ouvi em
Colombo, conversando com
várias pessoas, foi "magnânimo". As pessoas estão coletando doações para os desabrigados. Não há sentimento
de revanche, mas de conciliação. Nas áreas de onde os
Tigres Tâmeis foram expulsos primeiro, a população
busca recomeçar a vida.
FOLHA - A Human Rights Watch
relata que após a derrota da guerrilha em outras áreas, como Jaffna, teve início uma "guerra suja",
com desaparecimentos...
BORIO - Jaffna foi arrasada
pelo conflito, mas os relatos
que temos [sobre a situação
atual] são muito positivos. A
tendência é que o governo
abandone os instrumentos
de exceção usados para combater a guerrilha.
FOLHA - Como avalia a situação
das 200 mil pessoas retidas em
campos de refugiados?
BORIO - Há uma preocupação, compreensível, em investigar as pessoas vindas da
zona de conflito, mas o governo deu sinais claros de
que pretende reassentá-las
em seus locais do origem.
Acho importante não caracterizar os campos de triagem
como "campos de detenção".
O fluxo de mais de 80 mil
pessoas nos últimos dias
criou desafios do ponto de
vista da assistência. Estamos
em contato constante com o
responsável pela distribuição de ajuda humanitária da
ONU, que é brasileiro [Gerson Brandão], e temos relatos de que a situação é aceitável, dadas as circunstâncias.
O Brasil já aprovou o envio
de auxílio humanitário para
o Sri Lanka. Posso adiantar
que não será um valor vultoso, mas é significativo.
FOLHA - O Itamaraty defendeu
uma posição mais ativa da ONU
no conflito cingalês. Como o Brasil vê uma eventual investigação
internacional sobre violações?
BORIO - Não posso avaliar
até que ponto uma investigação seria justificada, do ponto de vista do direito internacional. As limitações do acesso internacional à zona conflagrada abriram espaço para
muitas inferências.
No Conselho de Direitos
Humanos, a posição do Brasil foi de abertura ao diálogo,
de conciliação entre abordagens divergentes. O Sri Lanka não se negou a discutir o
tema, mas se opôs ao formato [sessão especial, reservado a graves crises] e ao momento proposto para o debate, na reta final da ofensiva.
FOLHA - O fim de conflitos em
outras regiões, como na África lusófona, gerou um boom no comércio com o Brasil. Como avalia
as perspectivas no Sri Lanka?
BORIO - São situações distintas, pois o Sri Lanka não foi
devastado; chegou a crescer
até 8% ao ano apesar do conflito. Mas há um imenso potencial não realizado. Com a
derrota dos rebeldes, a bolsa
subiu 10% ontem.
Não devemos pensar no
Sri Lanka isoladamente, mas
como uma base na região.
Colombo tem acordos com
países da Asean (Associação
das Nações do Sudeste Asiático), o porto de Tricomali é
um dos mais importantes do
mundo, o de Colombo está
sendo quadruplicado.
Desde a abertura da embaixada, há um ano, o comércio bilateral passou de quase
zero para R$ 400 milhões. A
Petrobras é a principal fornecedora das termelétricas
cingalesas. Há perspectivas
em várias áreas, como a venda de aviões da Embraer, de
trilhos e trens, e abastecimento da indústria aurífera.
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