São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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entrevista

País busca a reconciliação, diz brasileiro

CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

A população do Sri Lanka quer conciliação e não revanche após a guerra civil, avalia o embaixador do Brasil em Colombo, Pedro Henrique Lopes Borio. O diplomata cita avanços e contemporiza as críticas internacionais ao governo do Sri Lanka. Para Borio, a paz fomenta o desenvolvimento, e o Sri Lanka pode ser base para comércio com a Ásia.

 

FOLHA - Como é a situação no país após a derrota dos rebeldes?
PEDRO HENRIQUE LOPES BORIO -
A palavra que mais ouvi em Colombo, conversando com várias pessoas, foi "magnânimo". As pessoas estão coletando doações para os desabrigados. Não há sentimento de revanche, mas de conciliação. Nas áreas de onde os Tigres Tâmeis foram expulsos primeiro, a população busca recomeçar a vida.

FOLHA - A Human Rights Watch relata que após a derrota da guerrilha em outras áreas, como Jaffna, teve início uma "guerra suja", com desaparecimentos...
BORIO -
Jaffna foi arrasada pelo conflito, mas os relatos que temos [sobre a situação atual] são muito positivos. A tendência é que o governo abandone os instrumentos de exceção usados para combater a guerrilha.

FOLHA - Como avalia a situação das 200 mil pessoas retidas em campos de refugiados?
BORIO -
Há uma preocupação, compreensível, em investigar as pessoas vindas da zona de conflito, mas o governo deu sinais claros de que pretende reassentá-las em seus locais do origem. Acho importante não caracterizar os campos de triagem como "campos de detenção".
O fluxo de mais de 80 mil pessoas nos últimos dias criou desafios do ponto de vista da assistência. Estamos em contato constante com o responsável pela distribuição de ajuda humanitária da ONU, que é brasileiro [Gerson Brandão], e temos relatos de que a situação é aceitável, dadas as circunstâncias.
O Brasil já aprovou o envio de auxílio humanitário para o Sri Lanka. Posso adiantar que não será um valor vultoso, mas é significativo.

FOLHA - O Itamaraty defendeu uma posição mais ativa da ONU no conflito cingalês. Como o Brasil vê uma eventual investigação internacional sobre violações?
BORIO -
Não posso avaliar até que ponto uma investigação seria justificada, do ponto de vista do direito internacional. As limitações do acesso internacional à zona conflagrada abriram espaço para muitas inferências. No Conselho de Direitos Humanos, a posição do Brasil foi de abertura ao diálogo, de conciliação entre abordagens divergentes. O Sri Lanka não se negou a discutir o tema, mas se opôs ao formato [sessão especial, reservado a graves crises] e ao momento proposto para o debate, na reta final da ofensiva.

FOLHA - O fim de conflitos em outras regiões, como na África lusófona, gerou um boom no comércio com o Brasil. Como avalia as perspectivas no Sri Lanka?
BORIO -
São situações distintas, pois o Sri Lanka não foi devastado; chegou a crescer até 8% ao ano apesar do conflito. Mas há um imenso potencial não realizado. Com a derrota dos rebeldes, a bolsa subiu 10% ontem.
Não devemos pensar no Sri Lanka isoladamente, mas como uma base na região. Colombo tem acordos com países da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático), o porto de Tricomali é um dos mais importantes do mundo, o de Colombo está sendo quadruplicado.
Desde a abertura da embaixada, há um ano, o comércio bilateral passou de quase zero para R$ 400 milhões. A Petrobras é a principal fornecedora das termelétricas cingalesas. Há perspectivas em várias áreas, como a venda de aviões da Embraer, de trilhos e trens, e abastecimento da indústria aurífera.


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