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Obama pressiona Israel e dá tempo ao Irã
Ao receber Netanyahu, americano insiste em solução de dois Estados e em aposta no diálogo para conter programa nuclear de Teerã
Presidente diz ainda que assentamentos em território palestino devem parar e pede melhores condições de vida para população de Gaza
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Em público, o presidente dos
EUA, Barack Obama, e o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, mantiveram ontem a cordialidade na Casa Branca em
seu esperado primeiro encontro desde a eleição de ambos.
Mas não ficaram escondidas as
faíscas políticas por trás do jogo: Obama pressionou pela necessidade de criar um Estado
palestino e pelo engajamento
diplomático com o Irã, enquanto Netanyahu manteve as reservas contra os dois pontos.
Obama disse a jornalistas
que quer o Irã totalmente engajado com a comunidade internacional, o que a direita no poder em Israel vê com ceticismo.
Ele evitou falar em prazos
para uma resposta positiva iraniana a seus esforços diplomáticos -mas também disse que
"não vai conversar para sempre" com Teerã e que espera
progresso até o fim de 2009.
"Estamos em um processo de
nos comunicarmos com o Irã e
persuadi-lo de que não é de seu
interesse buscar uma arma nuclear. Mas assegurei ao premiê
[Netanyahu] que não estamos
descartando uma série de passos, inclusive sanções internacionais muito mais duras."
Sob Netanyahu, a política externa israelense vem se focando cada vez mais em alardear a
percebida ameaça do programa
nuclear iraniano, apesar de
Teerã insistir que seus objetivos com o enriquecimento de
urânio são pacíficos.
"Poderemos ter uma boa noção sobre o progresso e os esforços das partes para resolver
suas diferenças no final do ano.
Isso não significa que todas as
questões estarão resolvidas até
lá, mas poderemos avaliar nossa abordagem", disse Obama.
O presidente indicou ainda
esperar que as negociações
com Teerã avancem depois do
próximo mês, quando serão
realizadas eleições presidenciais no Irã. A votação poderá
significar a troca do polêmico
presidente Mahmoud Ahmadinejad, que diz que "Israel deveria ser varrido do mapa".
O premiê israelense, por sua
vez, escolheu cuidadosamente
as palavras, mas retrocedeu
pouco. Disse a Obama "apreciar muito seu firme comprometimento em evitar que o Irã
desenvolva armas nucleares e
também sua afirmação de que
está deixando todas as opções
na mesa" -o que supostamente inclui a ação militar.
Questão palestina
Para muitos analistas, o discurso anti-Irã é uma tática diversionista para tirar a atenção
do problema palestino. Mas ontem o sucesso foi limitado. "Já
disse e vou repetir que é do interesse não só dos palestinos,
mas dos israelenses, dos EUA e
da comunidade internacional
que a solução de dois Estados
seja alcançada", disse Obama.
A pressão sobre Netanyahu
se estendeu a outros pontos de
conflito. Obama frisou que os
"assentamentos [israelenses na
Cisjordânia] têm que parar para que possamos seguir adiante
[no processo de paz]". Parte da
base de Netanyahu é formada
por partidos que defendem os
interesses dos colonos, e seu
governo impulsiona a construção de novos assentamentos.
Obama também disse que "a
situação humanitária em Gaza
tem que ser resolvida". "O fato
é que, se as pessoas em Gaza
não têm esperança, se elas não
podem ao menos ter acesso a
água limpa, se as fronteiras estão fechadas tão firmemente
que é impossível que aconteçam esforços humanitários e de
reconstrução, isso não é uma
receita para a segurança ao longo prazo de Israel."
A solução de dois Estados
norteia a política americana
para a paz no Oriente Médio
desde os acordos de Oslo
(1993). Netanyahu resiste à
ideia e diz preferir o desenvolvimento dos territórios palestinos pelo lado econômico -ontem, não fez nenhuma menção
a um "Estado palestino".
Por outro lado, disse que
"quer começar negociações de
paz com os palestinos imediatamente" e que gostaria de ampliar as negociações para incluir outros no mundo árabe.
"Quero deixar claro que não
queremos governar os palestinos. Queremos que eles mesmo
se governem, desde que não estejam presentes alguns poderes que poderiam pôr Israel em
risco, e para isso é preciso que
ambos os lados cedam. Se os
palestinos reconhecerem a
existência de Israel como Estado judaico e concordarem com
as condições para a segurança
de Israel, podemos vislumbrar
um acordo no qual palestinos e
israelenses vivam lado a lado."
Entre os palestinos, a reação
foi de rejeição ao premiê israelense. "As afirmações de Obama em que insistiu na solução
de dois Estados são alentadoras, mas as de Netanyahu ignorando a solução e os direitos legítimos do povo palestino são
decepcionantes", disse por
meio de porta-voz o presidente
da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
A reunião de ontem deu a largada para várias semanas em
que parte do foco de Obama estará no Oriente Médio. Na semana que vem, ele receberá o
ditador egípcio, Hosni Mubarak, e Abbas. No início do mês
que vem, irá ao Egito para fazer
discurso ao mundo islâmico.
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