São Paulo, terça-feira, 19 de maio de 2009

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Obama pressiona Israel e dá tempo ao Irã

Ao receber Netanyahu, americano insiste em solução de dois Estados e em aposta no diálogo para conter programa nuclear de Teerã

Presidente diz ainda que assentamentos em território palestino devem parar e pede melhores condições de vida para população de Gaza

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Em público, o presidente dos EUA, Barack Obama, e o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, mantiveram ontem a cordialidade na Casa Branca em seu esperado primeiro encontro desde a eleição de ambos. Mas não ficaram escondidas as faíscas políticas por trás do jogo: Obama pressionou pela necessidade de criar um Estado palestino e pelo engajamento diplomático com o Irã, enquanto Netanyahu manteve as reservas contra os dois pontos.
Obama disse a jornalistas que quer o Irã totalmente engajado com a comunidade internacional, o que a direita no poder em Israel vê com ceticismo.
Ele evitou falar em prazos para uma resposta positiva iraniana a seus esforços diplomáticos -mas também disse que "não vai conversar para sempre" com Teerã e que espera progresso até o fim de 2009.
"Estamos em um processo de nos comunicarmos com o Irã e persuadi-lo de que não é de seu interesse buscar uma arma nuclear. Mas assegurei ao premiê [Netanyahu] que não estamos descartando uma série de passos, inclusive sanções internacionais muito mais duras."
Sob Netanyahu, a política externa israelense vem se focando cada vez mais em alardear a percebida ameaça do programa nuclear iraniano, apesar de Teerã insistir que seus objetivos com o enriquecimento de urânio são pacíficos.
"Poderemos ter uma boa noção sobre o progresso e os esforços das partes para resolver suas diferenças no final do ano. Isso não significa que todas as questões estarão resolvidas até lá, mas poderemos avaliar nossa abordagem", disse Obama.
O presidente indicou ainda esperar que as negociações com Teerã avancem depois do próximo mês, quando serão realizadas eleições presidenciais no Irã. A votação poderá significar a troca do polêmico presidente Mahmoud Ahmadinejad, que diz que "Israel deveria ser varrido do mapa".
O premiê israelense, por sua vez, escolheu cuidadosamente as palavras, mas retrocedeu pouco. Disse a Obama "apreciar muito seu firme comprometimento em evitar que o Irã desenvolva armas nucleares e também sua afirmação de que está deixando todas as opções na mesa" -o que supostamente inclui a ação militar.

Questão palestina
Para muitos analistas, o discurso anti-Irã é uma tática diversionista para tirar a atenção do problema palestino. Mas ontem o sucesso foi limitado. "Já disse e vou repetir que é do interesse não só dos palestinos, mas dos israelenses, dos EUA e da comunidade internacional que a solução de dois Estados seja alcançada", disse Obama.
A pressão sobre Netanyahu se estendeu a outros pontos de conflito. Obama frisou que os "assentamentos [israelenses na Cisjordânia] têm que parar para que possamos seguir adiante [no processo de paz]". Parte da base de Netanyahu é formada por partidos que defendem os interesses dos colonos, e seu governo impulsiona a construção de novos assentamentos.
Obama também disse que "a situação humanitária em Gaza tem que ser resolvida". "O fato é que, se as pessoas em Gaza não têm esperança, se elas não podem ao menos ter acesso a água limpa, se as fronteiras estão fechadas tão firmemente que é impossível que aconteçam esforços humanitários e de reconstrução, isso não é uma receita para a segurança ao longo prazo de Israel."
A solução de dois Estados norteia a política americana para a paz no Oriente Médio desde os acordos de Oslo (1993). Netanyahu resiste à ideia e diz preferir o desenvolvimento dos territórios palestinos pelo lado econômico -ontem, não fez nenhuma menção a um "Estado palestino".
Por outro lado, disse que "quer começar negociações de paz com os palestinos imediatamente" e que gostaria de ampliar as negociações para incluir outros no mundo árabe.
"Quero deixar claro que não queremos governar os palestinos. Queremos que eles mesmo se governem, desde que não estejam presentes alguns poderes que poderiam pôr Israel em risco, e para isso é preciso que ambos os lados cedam. Se os palestinos reconhecerem a existência de Israel como Estado judaico e concordarem com as condições para a segurança de Israel, podemos vislumbrar um acordo no qual palestinos e israelenses vivam lado a lado."
Entre os palestinos, a reação foi de rejeição ao premiê israelense. "As afirmações de Obama em que insistiu na solução de dois Estados são alentadoras, mas as de Netanyahu ignorando a solução e os direitos legítimos do povo palestino são decepcionantes", disse por meio de porta-voz o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
A reunião de ontem deu a largada para várias semanas em que parte do foco de Obama estará no Oriente Médio. Na semana que vem, ele receberá o ditador egípcio, Hosni Mubarak, e Abbas. No início do mês que vem, irá ao Egito para fazer discurso ao mundo islâmico.


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