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ANÁLISE
EUA viram eixo de preocupações do governo Lula
DO ENVIADO A MADRI
Sem se manifestar desde que
deixou o Irã na segunda-feira, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva pediu ontem tempo para
"amadurecer as reações" em
torno do acordo com os iranianos (e os turcos) antes de se
pronunciar.
O presidente tem dito a seus
assessores mais próximos que
sabe perfeitamente o alto teor
de polêmica contido no acordo
Irã/Brasil/Turquia. Por isso,
qualquer pronunciamento
acrescentaria gasolina ao incêndio, o que não interessa ao
governo brasileiro.
O eixo das preocupações do
Palácio do Planalto passou a
ser, surpreendentemente, os
Estados Unidos e sua reação.
Lula comenta também com
os seus auxiliares mais diretos
que percebeu já em meados do
ano passado, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas,
que nenhum dos membros permanentes do Conselho de Segurança estava conversando
com o Irã.
Ele próprio teve, na ocasião,
um encontro com Ahmedinejad, no qual sentiu que havia espaço para uma negociação. Intuitivo como é e convencido de
que sua experiência de negociador no movimento sindical
lhe daria uma boa chance de intervir no caso levou-o ao intenso trabalho que culminou na
segunda-feira.
Mas culminou absolutamente de acordo com os princípios
que seu colega Barack Obama
lhe transmitira por carta faz
três semanas.
A reação dos EUA fez a diplomacia brasileira entender que
os princípios valiam para um
acordo que fosse fechado seis
meses atrás, não agora. Há seis
meses, pouco mais ou menos,
deu-se a primeira rodada de negociações entre o P5+1 e o Irã,
que não foi a lugar algum.
É possível que a resistência
americana, agora, se deva ao
cálculo que se faz nos EUA de
que o Irã aumentou o seu estoque de urânio, o que tornaria a
quantia acertada no acordo de
segunda insuficiente para impedir o país de continuar com o
programa que os ocidentais
acreditam ser de fins militares.
O Brasil considera de todo
modo que a hipótese de sanções tornou-se inviável. "Eles
[os EUA] vão se dar mal, se tentarem o caminho das sanções",
disse o assessor presidencial
Marco Aurélio Garcia. Acrescentou: "Seria moral e politicamente inaceitável".
Ele diz, também, que o dueto
proposto pela secretária de Estado Hllary Clinton (negociações mas também sanções) é
impraticável: "Se houver sanções, não haverá negociação. O
Irã é um país muito importante
para se submeter".
Nesse contexto todo, fica fácil entender porque Lula prefere deixar amadurecer o cenário
antes de falar ele próprio.
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