São Paulo, quarta-feira, 19 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE

EUA viram eixo de preocupações do governo Lula

DO ENVIADO A MADRI

Sem se manifestar desde que deixou o Irã na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem tempo para "amadurecer as reações" em torno do acordo com os iranianos (e os turcos) antes de se pronunciar.
O presidente tem dito a seus assessores mais próximos que sabe perfeitamente o alto teor de polêmica contido no acordo Irã/Brasil/Turquia. Por isso, qualquer pronunciamento acrescentaria gasolina ao incêndio, o que não interessa ao governo brasileiro.
O eixo das preocupações do Palácio do Planalto passou a ser, surpreendentemente, os Estados Unidos e sua reação.
Lula comenta também com os seus auxiliares mais diretos que percebeu já em meados do ano passado, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, que nenhum dos membros permanentes do Conselho de Segurança estava conversando com o Irã.
Ele próprio teve, na ocasião, um encontro com Ahmedinejad, no qual sentiu que havia espaço para uma negociação. Intuitivo como é e convencido de que sua experiência de negociador no movimento sindical lhe daria uma boa chance de intervir no caso levou-o ao intenso trabalho que culminou na segunda-feira.
Mas culminou absolutamente de acordo com os princípios que seu colega Barack Obama lhe transmitira por carta faz três semanas.
A reação dos EUA fez a diplomacia brasileira entender que os princípios valiam para um acordo que fosse fechado seis meses atrás, não agora. Há seis meses, pouco mais ou menos, deu-se a primeira rodada de negociações entre o P5+1 e o Irã, que não foi a lugar algum.
É possível que a resistência americana, agora, se deva ao cálculo que se faz nos EUA de que o Irã aumentou o seu estoque de urânio, o que tornaria a quantia acertada no acordo de segunda insuficiente para impedir o país de continuar com o programa que os ocidentais acreditam ser de fins militares.
O Brasil considera de todo modo que a hipótese de sanções tornou-se inviável. "Eles [os EUA] vão se dar mal, se tentarem o caminho das sanções", disse o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia. Acrescentou: "Seria moral e politicamente inaceitável".
Ele diz, também, que o dueto proposto pela secretária de Estado Hllary Clinton (negociações mas também sanções) é impraticável: "Se houver sanções, não haverá negociação. O Irã é um país muito importante para se submeter".
Nesse contexto todo, fica fácil entender porque Lula prefere deixar amadurecer o cenário antes de falar ele próprio.


Texto Anterior: Brasil quer agora integrar negociação
Próximo Texto: Taleban mata 18 em ação anti-Otan em Cabul
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.