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ANÁLISE
Embora histórica, Carta não resolve todos os problemas
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Ao final de uma cúpula marcada pelo antagonismo entre o Reino Unido e a França, os chefes de
Estado e de governo dos 25 países
da União Européia conseguiram
chegar a um acordo histórico sobre a Constituição do bloco. Contudo isso não significa que os problemas de peso que ainda afligem
a UE tenham sido superados.
A adoção do texto constitucional era absolutamente necessária
após o fiasco eleitoral do último
final de semana, quando menos
de 50% dos eleitores europeus se
dignaram a ir às urnas para escolher seus representantes no Parlamento. Todavia essa obrigação
moral acabou dificultando a busca pelo consenso em Bruxelas.
Afinal, enfraquecidos por derrotas eleitorais, os líderes da
maioria dos Estados não puderam abrir mão de certas posições
nacionais porque corriam o risco
de ver a Carta rejeitada em voto
popular posteriormente.
Assim, o Reino Unido manteve
seu direito de veto em "áreas sensíveis", como a taxação e a proteção social, e a Polônia conseguiu
abrandar o peso do fator populacional no sistema de votação. Inicialmente, Paris e Berlim queriam
que a maioria no Conselho de Ministros fosse constituída por 50%
dos países, representando 60% da
população. No texto final, as porcentagens ficaram em 55% e 65%.
Porém mais importantes que as
concessões ou o acordo final são
as divisões explicitadas em Bruxelas e a ratificação da Constituição.
A diferença agora é que o Reino
Unido, que sempre ficava em situação de inferioridade ante a determinação integradora franco-alemã, percebeu que pode fazer
alianças pontuais para fortalecer
suas posições. Como o panorama
político do Leste Europeu é hoje
bastante "eurocético", Londres
teve facilidade para obter aliados.
Ademais, a ratificação do texto
deverá passar pelo crivo popular
em alguns países da UE, como o
Reino Unido, a Irlanda, a Polônia
e a Espanha. Em teoria, se apenas
um país-membro rejeitar a Carta,
ela não poderá entrar em vigor.
Outro aspecto vital é o peso da
população. Considerando que a
alusão ao cristianismo foi retirada
do preâmbulo da Carta, a Turquia
passou a ter sua candidatura a
membro do bloco levada a sério.
Ora, se o crescimento vegetativo
atual servir de base, a Turquia terá, em algumas décadas, a maior
população da UE. Em tese, isso a
tornará o Estado mais forte do
bloco -algo ainda impensável.
Por outro lado, seria um erro
não levar em conta o passo dado
pelos europeus, pois o bloco passará a tomar inúmeras decisões
por maioria qualificada -antes o
consenso era necessário- e ao
menos mais uma etapa espinhosa
do aprofundamento da integração européia foi superada.
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