São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

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ARGENTINA

Presidente Kirchner participa de solenidade

Indignação marca ato pelos dez anos do atentado contra a Amia

CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES

O mesmo alarme que se ouviu no dia 18 de julho de 1994 após o maior atentando terrorista da América Latina, a explosão que destruiu o edifício da organização judaica Amia em Buenos Aires, foi soado ontem exatamente às 9h53, hora do massacre, que deixou 85 mortos e 300 feridos.
A sirene da Defesa Civil abriu o ato pelos dez anos do atentado na frente da nova sede da Amia, na rua Pasteur. Cerca de 2.000 pessoas estiveram presentes. Críticas à negligência das instituições argentinas nas investigações marcaram o ato, que durou cerca de duas horas e teve a presença do presidente Néstor Kirchner.
"Os terroristas escolheram a Argentina para treinar suas ações em uma país que tem instituições fracas. Sabiam, portanto, que estariam seguros. Eles conseguiram", disse Jaime Salomón, representante da comunidade judaica da Província de Tucúman.
O presidente da Amia, Abraham Kaul, culpou a Side (polícia secreta argentina), a Polícia Federal, o governo do Irã, os juízes, o ex-presidente Carlos Menem e a Justiça de vários países pelo fracasso das investigações, que, até hoje, não identificaram os culpados na Argentina e no exterior.
A indignação dos representantes da comunidade judaica, cerca de 300 mil na Argentina, a maior da América Latina, se refere aos pífios resultados do processo que investiga o atentado.
Até hoje, ninguém foi condenado. Várias provas foram destruídas e o juiz que esteve encarregado da causa até 2002, Juan José Galeano, está sendo investigado por corrupção.
Durante o ato, foram acendidas velas para cada uma das 85 vítimas. A multidão repetia "presente" ao final da leitura de cada nome. Entre eles o de Sebastián Barreiro, de cinco anos, a vítima mais jovem. Ele caminhava com mãe, que sobreviveu, pela calçada a caminho do Hospital das Clínicas, a cerca de 500 metros da Amia, quando a caminhonete carregada de explosivos, conduzida por um suicida, subiu na calçada, invadiu a portaria do edifício e explodiu. A rua em fica a Amia tem 85 árvores. Cada uma com uma placa com os nomes das vítimas. Elas foram plantadas no ato de 1999.
"Senhor presidente. Com você, acendeu-se uma vela de esperança, por favor, não nos decepcione", disse com voz embargada o presidente da Amia em seu discurso. O presidente Kirchner não discursou durante o ato.
Kirchner foi o único presidente que ainda não recebeu vaias nos atos da Amia. Recentemente, ele abriu parte dos arquivos para os familiares das vítimas e prometeu empenho do Estado.
Durante o seu governo, foram trocados os juizes e promotores, que investem agora na investigação da chamada conexão internacional. Apesar das promessas de empenho, sete meses depois de assumir a causa, o novo juiz, Rodolfo Canicoba Corral, veio a público para dizer que o Ministério da Justiça não lhe dá instrumentos básicos para a investigação.


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