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ARTIGO
O real inimigo do Líbano é o Hizbollah
Para o escritor israelense Amós Oz, a batalha acontece entre os que procuram a paz e os seguidores fanáticos do islã
AMÓS OZ
O movimento de paz israelense já criticou as
operações militares de
Israel muitas vezes no passado.
Mas não agora. Desta vez, a batalha não diz respeito à expansão e à colonização israelense.
Não há território libanês ocupado por Israel. Não há reivindicações territoriais de nenhum dos lados.
Na semana passada, o Hizbollah lançou um ataque contra
território israelense, sem provocação anterior. Na realidade,
foi um ataque também contra a
autoridade e a integridade do
governo libanês eleito, já que,
ao atacar Israel, o Hizbollah
roubou a prerrogativa do governo libanês de controlar seu
próprio território e tomar suas
decisões sobre guerra e paz.
O movimento pacifista israelense é contra a ocupação e a
colonização da Cisjordânia. Ele
foi contra a invasão israelense
do Líbano em 1982, porque essa invasão teve por objetivo
desviar a atenção mundial do
problema palestino.
Desta vez, Israel não está invadindo o Líbano. Ela está se
defendendo do assédio e bombardeio diário de dezenas de
nossas cidades e nossos povoados, procurando esmagar o
Hizbollah, seja onde for que este espreite escondido.
O Movimento Paz israelense
deve apoiar a tentativa de autodefesa pura e simples de Israel,
desde que a operação tenha como alvo principalmente o Hizbollah e que ela poupe ao máximo as vidas de civis libaneses (o
que nem sempre é tarefa fácil,
já que os lançadores de mísseis
do Hizbollah freqüentemente
utilizam civis libaneses como
sacos de areia humanos).
Os mísseis do Hizbollah são
fornecidos pelo Irã e pela Síria,
inimigos declarados das iniciativas de paz no Oriente Médio.
Não pode haver comparação
moral entre o Hizbollah e Israel. O Hizbollah está alvejando
civis israelenses, onde quer que
estejam, enquanto Israel alveja
principalmente o Hizbollah.
As sombras escuras do Irã, da
Síria e do islã fanático pairam
sobre as cidades e os povoados
fumegantes de ambos os lados
da fronteira entre Israel e Líbano. Ao mesmo tempo, essas
sombras reprimem a sociedade
civil libanesa, que há tão pouco
tempo se libertou da prolongada colonização síria, graças a
um esforço heróico.
A verdadeira batalha que é
travada hoje não se dá entre
Beirute e Haifa, mas entre um
grupo de nações que buscam a
paz -Israel, Líbano, Egito, Jordânia e Arábia Saudita, de um
lado- e, do outro, o islã fanático, alimentado por Irã e Síria.
Se, como esperamos todos,
tanto falcões quanto pombas
israelenses, o Hizbollah for
derrotado em breve, então tanto Israel quanto Líbano sairão
vencedores. E mais: uma derrota de uma organização de terror
militante islâmico pode acabar
por favorecer dramaticamente
as chances de paz na região.
AMÓS OZ, escritor israelense, é autor, entre outros, de "O Mesmo Mar" (2001)
Tradução de CLARA ALLAIN
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