São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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Israel se abre para negociar, mas rejeita cessar-fogo já

Ofensiva militar mata ao menos mais 31 libaneses; ataque do Hizbollah mata um

Para Olmert, envio de força de paz das Nações Unidas seria prematuro; Bush volta a acusar a Síria de tentar ampliar influência no Líbano


MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM HAIFA

Pela primeira vez em sete dias de ofensiva militar no Líbano em retaliação ao Hizbollah, o governo de Israel abriu ontem uma oportunidade de negociações diplomáticas para encerrar a crise, mas rejeitou cessar os ataques sem a libertação dos dois soldados seqüestrados pela organização xiita no último dia 12.
No campo de batalha, Israel seguiu bombardeando alvos do grupo terrorista no Líbano, e o Hizbollah continuou a lançar foguetes contra o norte de Israel. Morreram ao menos 31 pessoas no Líbano e um civil em Israel, o que eleva o saldo a ao menos 237 mortos do lado libanês e 25 do israelense.
A ministra das Relações Exteriores de Israel, Tzipi Livni, recebeu uma delegação da ONU e disse que a etapa de negociações começou. Ela também se encontra hoje com o chefe da política exterior da União Européia, Javier Solana.
O premiê israelense, Ehud Olmert, voltou atrás na promessa de não conversar com os enviados de Kofi Annan e também se reuniu com a missão.
Além da libertação dos soldados, Olmert exige o desarmamento do Hizbollah, previsto na resolução 1559 da ONU. As duas condições são as mesmas contidas da declaração do G8 emitida anteontem.
"Ninguém na comunidade internacional está nos pedindo para parar a operação antes da implementação da declaração do G8. Para implementá-la, talvez precisemos conduzir negociações diplomáticas. Mas não com o Hizbollah. Em nenhum caso o início das negociações vai parar a operação. Só o retorno dos soldados capturados", afirmou.

Proposta
A proposta original da ONU fala em libertação dos soldados israelenses seqüestrados pelo Hamas e pelo Hizbollah e no fim dos ataques de Israel. O país teria de encerrar as operações no Líbano, retirar todas as tropas de Gaza e libertar parlamentares palestino do Hamas. Uma força internacional seria enviada ao sul do Líbano.
Olmert acha a idéia prematura. "Isso dá uma boa manchete, mas nossa experiência mostra que não há nada além disso", afirmou o premiê. "Atualmente há uma força internacional no Líbano, e estamos vendo o que estão fazendo. Quero ser cauteloso neste tema, e me parece prematuro discuti-lo."
Ontem, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse que não estava previsto que se deslocasse imediatamente para a região de conflito. A viagem ocorreria, disse, quando fosse "necessário".
O premiê visitou ontem à noite a cidade de Haifa, a terceira maior de Israel, que sofreu o terceiro dia consecutivo de ataques do Hizbollah. Pelo menos seis foguetes caíram na região central. Um deles atingiu a mesma garagem de trens onde oito pessoas morreram em um ataque anteontem.
Os ataques israelenses de ontem, com artilharia e aviões, mataram nove membros da mesma família, entre eles crianças, segundo autoridades.
Em ataque contra uma base do Exército libanês, 14 soldados morreram. Israel afirma que vai atacar "qualquer alvo onde suspeitar que haja colaboração com o Hizbollah", mesmo com o risco de atingir civis ou soldados libaneses.
Os bairros xiitas na zona sul de Beirute, centros de treinamento do Hizbollah no Vale do Beká e estradas entre o Líbano e a Síria continuam sendo atingidos. Mais de 100 mil libaneses fugiram para a Síria.
Segundo os militares de Israel, o Hizbollah está se preparando para uma possível incursão de infantaria israelense ao sul do Líbano, instalando minas e posicionado franco-atiradores e foguetes antitanques.
No lado israelense, um homem de 30 anos foi morto em Naharia. Ele foi atingido por um Katyusha na entrada de um abrigo subterrâneo público em um parque. Na mesma cidade, um foguete atingiu um prédio de dois andares, e um apartamento pegou fogo. Outras 12 localidades na Galiléia e nas Colinas do Golã foram atingidas.

Síria
Os militares israelenses voltaram a acusar o envolvimento sírio no conflito. A Força Aérea disse que destruiu dois caminhões com munição que entraram no Líbano pela Síria e que avisou a população do sul libanês, em mensagens de rádio, que qualquer picape, van ou caminhão suspeito será atingido.
Olmert também repetiu as alegações de envolvimento do Irã no conflito. O premiê disse que Teerã coordenou o seqüestro dos soldados com o Hizbollah para desviar a atenção mundial do programa nuclear do país islâmico. "Infelizmente, o truque do Irã deu certo.Todo mundo se lembra da declaração do G8 sobre o Líbano e não está tratando da questão iraniana."
Já o presidente dos EUA, George W. Bush, disse suspeitar que a Síria esteja tentando retomar sua influência no Líbano depois do final de sua ocupação militar no país, há mais de um ano: "É do nosso interesse que a Síria fique fora do Líbano e que seu governo sobreviva".
Em uma semana, Israel atacou mais de mil alvos no Líbano e isolou as saídas do país por ar, mar e terra. O número de combatentes do Hizbollah mortos é desconhecido, mas militares israelense falam em "dezenas".
O Hizbollah disparou mais de 800 foguetes contra o norte de Israel. Treze civis e 12 soldados morreram, contando os oito militares mortos durante a ação do seqüestro.


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