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análise
ONU não cumpre seu 1º mandamento
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Amarrada a um "sistema
de potências" com interesses
contraditórios (os cinco
membros permanentes do
Conselho de Segurança podem vetar qualquer resolução), a ONU não consegue
cumprir o mandamento primeiro da sua criação, o de
"preservar as gerações futuras do flagelo da guerra".
O próprio secretário-geral,
Kofi Annan, chamou de ilegal a invasão do Iraque e nem
por isso o país foi desocupado. As dificuldades em adotar dispositivos que controlem o programa nuclear iraniano envolvem o que a ONU
considera a maior ameaça à
humanidade, a proliferação
das armas atômicas.
Essa ameaça continua. Israel já tem as suas, e os EUA,
cuja doutrina do "ataque
preventivo" ignora a Carta
da ONU, liqüidam qualquer
decisão que limite ações militares israelenses em seu
"direito de se defender".
A ONU corre sérios riscos
em sua tarefa de vigiar os
movimentos nas mal traçadas fronteiras entre o Líbano
e Israel, mas não exerce nenhum papel determinante
quando as crises explodem.
Não teve a menor repercussão a fala de Annan sobre
o atual ciclo de violência e os
perigos, não muito comentados, mas tidos como reais, de
uma guerra regional no
Oriente Médio. Foi logo sepultada a primeira tentativa
de mobilizar o CS, e o assunto tornou-se, como de costume, privativo das potências
em sua esfera de decisões.
A Liga das Nações, precursora da ONU, com sua ilusão
internacionalista, naufragou
a partir da invasão da China
no começo dos anos 30, do
martírio abissínio imposto
por Mussolini e da busca de
Hitler por "espaços vitais".
Não tinha mais o que fazer
na ante-sala da Segunda
Guerra, quando imperavam
interesses das potências e
nacionalismos.
Acabada a Segunda Guerra
e diante do fato de que nacionalismos agressivos só tinham produzido desgraças,
as potências vencedoras decidiram tornar realidade o
que fora a ilusão internacionalista da Liga das Nações.
Mas um de seus secretários-gerais, Dag Hammarskjold,
disse que um "sistema de potências" se instalara na entidade e trágicas experiências
passadas poderiam se repetir. É o que o historiador
George Barraclough chama
de falso internacionalismo
da Guerra Fria. A história da
ONU tem episódios que
comprovam tal falsidade e
também o aviso de Hammarskjold de que o passado
se fazia presente.
Os cinco membros permanentes do CS e peças de um
novo "sistema de potências"
(EUA, Reino Unido, França,
China e Rússia) nunca permitiram que a ONU se metesse em seus assuntos. Ela
não se envolveu com o Vietnã, tampouco com as mãos
pesadas russas na Europa
central e no Afeganistão. Os
chineses fizeram o que bem
entenderam com o Tibete, e
os franceses brutalizaram
impunemente os argelinos
em luta pela independência.
Guerras ou atos de guerras, como acontece agora no
Oriente Médio, sem que a
ONU tenha meios de cumprir o papel para o qual foi
criada.
O jornalista NEWTON CARLOS é especialista em assuntos internacionais
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