São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Historiador vê espaço para liberdade de expressão

DE PEQUIM

Yuan Tengfei é apenas um entre vários professores de escolas e universidades chinesas cuja versão da história "nem sempre está afinada com aquela disseminada pelos livros didáticos", mas que há uma certa tolerância do governo por seu trabalho.
A afirmação é do especialista em história chinesa da Universidade Stanford (EUA), Eric Vanden Bussche.
"Embora os dirigentes chineses se preocupem com as críticas feitas por esses professores, eles reconhecem que esses intelectuais se tornaram protagonistas indispensáveis num processo de transformação nas relações entre a sociedade chinesa e o governo no qual a ideologia marxista vem perdendo terreno para o nacionalismo", afirma o historiador.
Com dez anos de experiência na China, Bussche afirma que teve diversas discussões em suas salas de aula sobre temas sensíveis, como o Tibete, o massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, ou a questão de Taiwan.

INTERNET
"Há uma certa liberdade de expressão no âmbito acadêmico. Mas, então, por que o professor Yuan Tengfei foi supostamente detido? Isso se deve à enorme popularidade que ele alcançou na internet", diz o especialista.
"Em um dos vários vídeos de suas aulas, ele critica o líder Mao por ter gasto milhões no desenvolvimento de armas nucleares no início da década de 1960 enquanto milhares de chineses morriam de fome no campo."
Na avaliação do historiador, o governo chinês não se preocuparia se tal afirmação fosse feita apenas para alunos em uma sala de aula.
Entretanto, a veiculação de tais críticas pela internet por um professor carismático para milhões de chineses certamente gerou sinais de alerta. "É o temor de mobilização anti-PCC [Partido Comunista Chinês] por parte da população, e não as críticas de Yuan, que assustam o PCC."
Bussche vê "uma relação de amor e ódio" entre o PCC e professores como Yuan.
"Se, por um lado, os dirigentes chineses reconhecem que essa nova safra de intelectuais é necessária para a construção de um discurso histórico que desperte o nacionalismo entre a população e sedimente a legitimidade do PCC, por outro, eles se preocupam em controlar o tom e a intensidade das críticas desses professores." (FM)


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