|
Texto Anterior | Índice
Historiador vê espaço para liberdade de expressão
DE PEQUIM
Yuan Tengfei é apenas um
entre vários professores de
escolas e universidades chinesas cuja versão da história
"nem sempre está afinada
com aquela disseminada pelos livros didáticos", mas que
há uma certa tolerância do
governo por seu trabalho.
A afirmação é do especialista em história chinesa da
Universidade Stanford
(EUA), Eric Vanden Bussche.
"Embora os dirigentes chineses se preocupem com as
críticas feitas por esses professores, eles reconhecem
que esses intelectuais se tornaram protagonistas indispensáveis num processo de
transformação nas relações
entre a sociedade chinesa e o
governo no qual a ideologia
marxista vem perdendo terreno para o nacionalismo",
afirma o historiador.
Com dez anos de experiência na China, Bussche afirma
que teve diversas discussões
em suas salas de aula sobre
temas sensíveis, como o Tibete, o massacre da praça da
Paz Celestial, em 1989, ou a
questão de Taiwan.
INTERNET
"Há uma certa liberdade
de expressão no âmbito acadêmico. Mas, então, por que
o professor Yuan Tengfei foi
supostamente detido? Isso se
deve à enorme popularidade
que ele alcançou na internet", diz o especialista.
"Em um dos vários vídeos
de suas aulas, ele critica o líder Mao por ter gasto milhões
no desenvolvimento de armas nucleares no início da
década de 1960 enquanto milhares de chineses morriam
de fome no campo."
Na avaliação do historiador, o governo chinês não se
preocuparia se tal afirmação
fosse feita apenas para alunos em uma sala de aula.
Entretanto, a veiculação
de tais críticas pela internet
por um professor carismático
para milhões de chineses certamente gerou sinais de alerta. "É o temor de mobilização
anti-PCC [Partido Comunista
Chinês] por parte da população, e não as críticas de
Yuan, que assustam o PCC."
Bussche vê "uma relação
de amor e ódio" entre o PCC e
professores como Yuan.
"Se, por um lado, os dirigentes chineses reconhecem
que essa nova safra de intelectuais é necessária para a
construção de um discurso
histórico que desperte o nacionalismo entre a população e sedimente a legitimidade do PCC, por outro, eles se
preocupam em controlar o
tom e a intensidade das críticas desses professores."
(FM)
Texto Anterior: Crítico de Mao, professor atrai censura Índice
|