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São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

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EUA

Pesquisa mostra que 5,6 milhões de pessoas já tiveram a experiência da reclusão até 2001, o que representa 2,7% dos adultos

Um em cada 37 americanos já foi preso

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Um entre cada 37 norte-americanos adultos está preso hoje nos EUA ou já passou algum tempo no sistema penitenciário, segundo um novo estudo do Departamento da Justiça do país.
Os 5,6 milhões de americanos que tiveram ou estão tendo algum tipo de experiência na prisão representam 2,7% dos estimados 210 milhões de adultos do país no final de 2001.
Os dados se referem a presos sentenciados e que ocuparam prisões estaduais ou federais.
No ano passado, a população carcerária nos EUA bateu um novo recorde, atingindo 2,1 milhões de pessoas -1 em cada 143 pessoas.
O aumento em relação ao ano anterior foi de 2,6%, apesar de ter sido registrada uma ligeira queda, de 0,2%, no número de crimes cometidos no período.
Condenações de criminosos considerados não-violentos são hoje o principal fator de aumento da população carcerária nos EUA.
A maioria vai para a prisão por tráfico ou consumo de drogas e por crimes menores.
Metade dos prisioneiros federais dos EUA, por exemplo, estão encarcerados hoje por crimes relacionados a drogas.
Nos dois últimos anos, alguns Estados vêm tentando diminuir o número de condenações relacionadas ao tráfico ou ao consumo de entorpecentes.
O Texas, por exemplo, um dos maios rigorosos dos EUA, recentemente aprovou lei que permite punições alternativas a infratores envolvidos com drogas. A medida levou a uma virtual estabilização de sua população carcerária nos dois últimos anos.
Na cidade de Washington, que registra um alto índice de crimes relacionados a drogas, uma proposta de lei semelhante foi rejeitada no ano passado por uma corte superior local.
Em vários Estados, a lei segundo a qual pessoas que cometem três delitos correm o risco de ser condenadas à prisão perpétua, de 1994, também tem colocado na prisão centenas de jovens acusados de cometer pequenos crimes.
Para Jason Zeidenberg, diretor do Justice Policy Institute, uma entidade ocupada em evitar reincidências de criminosos nos EUA, o tamanho da população carcerária e os rombos nos orçamentos federal e de vários Estados deveriam "fazer soar um alerta" na Justiça.
Segundo cálculos conservadores, o sistema carcerário americano custa hoje cerca de US$ 40 bilhões ao ano. Entre os ex-detentos, segundo o Justice Policy Institute, muitos acabam voltando a cometer infrações por não conseguirem obter trabalho por causa dos registros criminais.
O quadro é mais grave entre a população negra. No ano passado, 10% de todos os homens negros do país com idade entre 25 e 29 anos estavam atrás das grades, contra 1,2% entre os brancos e 2,4% entre os hispânicos.
Em termos gerais, 16,6% dos negros americanos estão ou já estiveram presos, contra 2,6% dos brancos e 7,7% dos hispânicos.
Projeções feitas a partir dos resultados de 2001 mostram que 1 em cada 3 homens negros nascidos há dois anos corre o risco considerável de passar alguns anos na cadeia depois de se tornar adulto.

Fé na cela
Além do endurecimento com os criminosos, o sistema judicial americano vem adotando iniciativas pouco ortodoxas para estimular os detentos a se tornarem pessoas religiosas dentro das cadeias.
Em uma das maiores penitenciárias no Estado de Iowa, por exemplo, os presos que optarem por fazer cursos de imersão para estudar a Bíblia passam a ter a chave de suas celas, acesso a banheiros privados, a ligações telefônicas nacionais ilimitadas e a uma sala onde pode assistir TV em um telão.
O presidente dos EUA, George W. Bush, é o grande incentivador de medidas desse gênero, que vêm sendo contestadas na Justiça por grupos defensores da separação das atividades do Estado e da igreja.


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