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ARTIGO
As forças que movem a história estão de volta
Nacionalismo e ideologias sepultam idéia de que mundo havia se tornado diferente
ROBERT KAGAN
Os anos imediatamente seguintes ao final da Guerra Fria
proporcionaram um vislumbre
tentador de uma nova espécie
de ordem internacional -uma
em que os países cresceriam
juntos ou desapareceriam por
completo, os conflitos ideológicos se desfariam e as culturas se
misturariam, por meio de comércio e comunicações cada
vez mais livres.
Era o fim da concorrência internacional, o fim da geopolítica, o fim da história. O mundo
democrático liberal queria
acreditar que a conclusão da
Guerra Fria não estava pondo
fim apenas a um conflito estratégico e ideológico, mas a todos
os conflitos estratégicos e ideológicos. Na década de 1990, sob
a égide de George H. W. Bush e
Bill Clinton, a estratégia norte-americana visava erguer uma
ordem pós-Guerra Fria em torno dos mercados em expansão,
democracia e instituições -a
encarnação triunfal da visão liberal da ordem internacional.
Mas tudo isso foi uma certa
miragem. Hoje sabemos que
tanto o nacionalismo quanto a
ideologia já estavam dando a
volta por cima nos próprios
anos 1990. A Rússia rapidamente perdeu seu desejo de fazer parte do Ocidente liberal. A
China embarcou num rumo de
ambição e poderio militar crescentes. As forças do islã radical
já tinham lançado sua jihad, a
globalização já provocara uma
reação contrária em todo o
mundo, e a máquina tremenda
da democracia já emperrara e
começara a se desequilibrar de
maneira precária. No entanto,
até hoje muitos ainda se apegam à visão de "um mundo
transformado".
O mundo não se transformou. As nações continuam tão
fortes quanto nunca, e o mesmo se aplica às ambições nacionalistas, às paixões e à competição entre as nações, que sempre moldaram a história. É verdade que o mundo ainda é "unipolar" e que os EUA ainda são a
única superpotência. Mas a
competição internacional entre grandes potências voltou à
cena, com EUA, Rússia, China,
Europa, Japão, Índia, Irã e outros disputando a hegemonia
regional. As lutas por poder e
influência no mundo mais uma
vez se tornaram fatores chaves
do cenário internacional.
Ideologicamente, vivemos
um tempo não de convergência, mas de divergência. A competição entre liberalismo e autocracia ressurgiu, com os países do mundo cada vez mais se
alinhando ideologicamente,
como no passado. Finalmente,
existe uma divisão entre modernidade e tradição, a luta violenta de fundamentalistas islâmicos contra as potências modernas e as culturas seculares
que, na visão deles, contaminaram o mundo islâmico.
Bush não é exceção
Muitos ainda preferem acreditar que o mundo está em tumulto não por estar vivendo
um tumulto, mas porque o presidente Bush o fez assim, ao
destruir a nova era repleta de
esperança. E, quando Bush deixar o poder, acreditam, o mundo poderá voltar a ser como era.
A primeira ilusão, porém, é
que Bush tenha de fato mudado
qualquer coisa. Os historiadores vão debater por muito tempo a decisão de travar a guerra
no Iraque, mas o menos provável é que concluam que a intervenção tenha sido algo que destoou muito do que é habitual para os EUA. Desde o final da 2ª
Guerra Mundial, pelo menos,
os presidentes americanos têm
seguido uma abordagem bastante constante em relação ao
mundo. Eles têm visto os EUA
como "a locomotiva que puxa a
humanidade", parafraseando
Dean Acheson.
Desde 1945, os EUA têm insistido em obter e manter a supremacia militar -uma "preponderância de poder no mundo"-, em lugar de um equilíbrio de poder com outros países. Eles vêm operando com base na convicção ideológica de
que a democracia liberal é a
única forma de governo legítima e que outras formas não
apenas são ilegítimas, como
também transitórias.
Quando as pessoas falam de
uma doutrina Bush, geralmente se referem a três conjuntos
de princípios: a idéia da ação
militar preventiva; a promoção
da democracia e das "mudanças de regime", e uma diplomacia que tende ao "unilateralismo" -a disposição em agir sem
a sanção de organismos internacionais como o Conselho de
Segurança da ONU ou a aprovação unânime dos aliados.
Mas essas características da
política externa americana não
constituem reflexo de um homem, um partido ou um círculo
de pensadores. Elas nascem da
experiência histórica do país.
Elas se fundamentam, por um
lado, em crenças e ambições
antigas e, por outro lado, no poder. Enquanto os americanos
continuarem a eleger líderes
que crêem que é papel dos Estados Unidos melhorar o mundo, é pouco provável que se abstenham de usar qualquer dessas ferramentas. E, enquanto o
poderio americano em todas as
suas formas for suficiente para
moldar o comportamento de
outros, é pouco provável que a
direção ampla da política externa americana se modifique.
ROBERT KAGAN é autor de "Dangerous Nation"
e editor colaborador da "Weekly Standard".
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