São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

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Sérvia ameaça enviar suas tropas para conter Kosovo

Premiê da Província estuda declarar independência unilateral até o final do ano

Com fracasso de plano da ONU, separatistas buscam apoio para impor soberania; eleições para liderança local podem acelerar processo

ANDREA MURTA
DA REDAÇÃO

O premiê da Sérvia, Vojislav Kostunica, anunciou por meio de seu porta-voz na última sexta-feira que "é chegada a hora" de enviar mil soldados à Província separatista de Kosovo, no mais recente sinal da escalada da tensão na região. Com o impasse sobre o status da Província, líderes da maioria albanesa em Kosovo vêm reiterando que declararão a independência unilateralmente ainda em 2007, gerando hostilidade crescente em Belgrado.
O envio dos mil sérvios foi rejeitado imediatamente pela Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos), que mantém 16 mil soldados em Kosovo. A Província está sob protetorado da ONU desde o final da guerra entre a Otan e os sérvios, em junho de 1999, funcionando como uma região semi-autônoma.
A ONU ordenou na última semana o início das preparações para eleições da Assembléia de Kosovo. A medida promete ser problemática -a votação pode acelerar a separação formal de Belgrado, segundo o jornal "Financial Times".

Novo prazo
As eleições devem ocorrer em novembro, antes mesmo do final de um prazo até dezembro para que enviados da União Européia, da Rússia e da ONU discutam novamente um acordo entre Belgrado e Pristina.
Na região desde o início desde mês, o grupo foi formado após o fracasso do último plano da ONU que previa status de país soberano para Kosovo -mas sob a tutela da União Européia. Rejeitado pela Sérvia e por sua aliada histórica, a Rússia, por abrir caminho para a independência, o plano foi suspenso sem ser votado no Conselho de Segurança da ONU.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam ser pouco provável que o novo grupo consiga alcançar um acordo. "A comunidade internacional está apenas tentando ganhar tempo para angariar apoio para a independência", afirma Denisa Kostovicova, autora de "Kosovo: a Política da Identidade e do Espaço" (Routledge, 2005) -que é descendente de sérvios. "Mas não há opção a não ser a independência, pois Kosovo já é na prática separada da Sérvia", afirmou.
Para James O'Brien, ex-enviado especial do Departamento de Estado dos Estados Unidos para os Bálcãs e atual membro do Grupo Albright, em Washington, o prazo para novas discussões serve apenas para reassegurar o mundo de que todos os esforços foram feitos para uma solução negociada. "Não é segredo que há preparações para uma declaração unilateral de independência, e os EUA já afirmaram que a apoiarão mesmo fora da ONU."

Queda do apoio
À Folha, o porta-voz da missão da ONU em Kosovo (UNMIK, na sigla em inglês), Alexander Ivanko, não confirmou supostas preparações para uma independência. "Não lidamos com hipóteses. Qualquer ação unilateral será discutida com a comunidade internacional posteriormente." Ivanko não negou, porém, que a população da Província está impaciente com a situação. "O índice de aprovação à UNMIK -e também ao governo e à Assembléia locais- caiu dramaticamente e está em torno dos 30%. Mas apesar da frustração da população, a segurança em Kosovo está estável", afirmou.
Ainda há, porém, uma última possibilidade para acordo: o novo grupo de discussão recuperou a idéia da divisão de Kosovo, opção que ganhou terreno nos últimos meses. Nessa alternativa, a parte norte da Província, onde se localizam alguns marcos da Igreja Ortodoxa sérvia, continuariam sob domínio de Belgrado, enquanto o restante do território seria declarado independente.


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