São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2008

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Rússia anuncia saída da Geórgia, mas segue no país

Chefe do Estado-Maior é evasivo sobre prazo de retirada, apesar da pressão dos EUA e da UE

Presidente russo promete "resposta arrasadora" em caso de novo ataque; EUA dizem que Moscou pretende lançar mísseis da região


DA REDAÇÃO

A Rússia anunciou ontem que começou a retirar suas tropas da Geórgia, atendendo a uma das exigências do plano de paz mediado na semana passada pela União Européia (UE), que pôs fim a seis dias de guerra no Cáucaso. Mas soldados russos não só ainda ocupam pontos-chave do território georgiano, fora das regiões separatistas da Ossétia do Sul e da Abkházia, como seguem avançando sobre estradas e bases militares.
O chefe do Estado-Maior de Moscou, general Anatoli Nogovitsin, assegurou que os militares russos já estão regressando, mas foi evasivo e irônico sobre o prazo da retirada. "Só posso dizer com certeza quando será o Ano Novo, mas não posso dar uma data exata para a retirada de nossos soldados", disse.
O presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, manteve o tom desafiador dos últimos dias ao prometer "resposta arrasadora" a quem atacar seus cidadãos. "Temos todos os recursos necessários, políticos, econômicos e militares. Se alguém tem alguma ilusão sobre isso, terá de abandoná-la", disse Medvedev, que ontem condecorou e saudou como "heróis nacionais" soldados russos que participaram do conflito.
A guerra começou em 7 de agosto, quando a Geórgia invadiu a Ossétia do Sul numa tentativa de retomar o controle do território autônomo russófilo, que um acordo em 1992 transformou numa espécie de protetorado de Moscou. A Rússia respondeu com uma ofensiva maciça contra a Geórgia.
O conflito aberto terminou na quarta-feira, quando a União Européia mediou um acordo que, na prática, significou a rendição georgiana. Ele prevê o fim das hostilidades e o retorno dos militares dos dois países às posições que ocupavam antes do conflito, mas permite à Rússia tomar "medidas adicionais" de segurança numa faixa de dez quilômetros na fronteira dos dois territórios separatistas.
O acordo de paz não define prazo para a retirada russa, mas tanto a UE quanto os EUA -os americanos são aliados de Tbilisi- têm aumentado as pressões para que ela ocorra "sem mais demora". O presidente da França, Nicolas Sarkozy, que ocupa a presidência da UE, disse que o acordo não permite à Rússia controlar as rodovias georgianas, como tem ocorrido.
Ontem, o governo georgiano disse que tropas russas destruíram uma base militar perto de Senaki, no oeste, e carros da polícia georgiana na cidade de Igoeti, no caminho entre Gori e Tbilisi. Jornalistas da France Presse reforçaram essa versão, relatando em detalhes como tanques russos esmagaram veículos policiais em Igoeti.
A Rússia também controla as entradas de Gori, principal ponto de passagem entre o leste e o oeste da Geórgia. A CNN constatou ontem que não havia movimentação que indicasse a saída dos tanques. Questionado pela Reuters sobre quanto tempo os soldados russos continuariam em Gori, um jovem soldado respondeu: "Não sabemos. A ordem é ficar aqui".
Jornalistas estrangeiros disseram ainda ter visto colunas de tanques russos indo em direção às cidades de Senaki, Borjomi e Kashuri, onde já havia contingentes da Rússia.
Funcionários do Departamento da Defesa dos EUA acusaram ontem Moscou de instalar na Geórgia bases de lançamento de mísseis SS-21, que poderiam ser disparados contra Tbilisi. Moscou negou.

Ajuda humanitária
A ONU fez um apelo por US$ 58,6 milhões para milhares de civis vítimas do conflito na Geórgia. O dinheiro será usado para fornecer atendimento médico e comprar água potável para as cerca de 128.700 pessoas deslocadas pelo conflito na Geórgia.

Com agências internacionais



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