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MINHA HISTÓRIA JUAN CARLOS CRUZ GARCÍA, 42
Sob a mira da narcoguerra
Trabalhamos em grupo, não há exclusividade (...) Três amigos já foram assassinados pelo narcotráfico (..)
O melhor que podemos fazer é continuar trabalhando com cuidado
RESUMO
O embate entre governo e narcotráfico
desafia jornalistas no México. O país é o quinto
mais perigoso para esses
profissionais, de acordo
com a ONU.
Fotógrafo e repórter há
mais de 15 anos, Juan Carlos Cruz, 42, do jornal "Primera Hora", de Sinaloa, é
um dos que tiveram a vida
afetada pela violência.
Até agora, já viu morrerem três de seus amigos e
colegas de profissão.
GABRIELA MANZINI
DE SÃO PAULO
Cheguei a Sinaloa em 1995
para trabalhar no jornal "Debate", onde fiquei oito anos.
Iniciei minha carreira como
fotógrafo e, depois, virei repórter. Desde então, cubro
assuntos ligados à violência.
Sempre houve risco neste
Estado, de onde saíram muitos narcocartéis. A violência
ficou mais forte há uns dois
ou três anos. Foi aí que nós,
aqui de Sinaloa, decidimos
adotar algumas precauções.
Concordamos, por exemplo, em trabalhar em grupo.
Não há exclusividade em informações do dia. Fatos como operações, homicídios e
confrontos são compartilhados entre os diferentes veículos. Os repórteres se comunicam e confirmam com fontes
oficiais se há realmente fato,
antes de saírem. Depois, cada veículo determina até onde pode ir, o que utilizar.
Nos organizamos para evitar que continuem matando
companheiros. Não há uma
associação de jornalistas forte aqui no México, ou ao menos não uma em que possamos confiar. Há muita gente
que usa jornalismo para outros fins. Essas coisas têm
funcionado e dão um pouco
de tranquilidade ao repórter.
Mas falta muito ainda.
Há colegas, entre aspas,
que não têm consciência da
importância dessa atividade,
que lucram com o narcotráfico, o que é perigoso. Quando
estourou a guerra, ficou bem
evidente. Havia colegas que
compravam carros e imóveis
luxuosos. Na época, houve
uma limpa nas redações.
SILÊNCIO
A narcocensura está acontecendo aqui e em todo o México. Em Tamaulipas [Estado
mexicano], os repórteres são
praticamente obrigados a entrar no rol dos narcos. Eles ditam o que publicar e quando.
Muitos foram ameaçados de
morte. Alguns preferiram se
dedicar a outra coisa.
Há cerca de seis meses tive
problemas com o telefone de
casa e pedi a uma pessoa de
confiança que verificasse a linha, mas não havia grampo.
Mesmo assim, não passo
informações importantes por
telefone e só gente de muita
confiança sabe o que eu, minha mulher e os nossos filhos
fazemos, para onde vamos...
Muitas medidas de segurança que adoto foram estendidas à minha família. Mudamos sempre nossas rotas, ficamos atentos a carros que
possam estar nos seguindo.
São providências preventivas, porque também não podemos viver em psicose.
PERDAS
Três amigos meus jornalistas já foram assassinados pelo narcotráfico. Um, Gregorio
Rodríguez, era fotógrafo e foi
morto a tiros na frente dos filhos, em novembro de 2004.
Ele havia registrado uma festa onde estavam um traficante conhecido da região e um
diretor da polícia.
Com Jiménez Mota estudei
na UDO [Universidade do
Ocidente]. Ele estava apurando laços entre políticos e traficantes. Um dia saiu para se
encontrar com uma fonte e
não voltou. Isso foi em 2005.
Já Óscar Rivera Inzunza foi
diretor numa revista em que
trabalhei e, depois, tornou-se
porta-voz do governo para as
questões de segurança em Sinaloa. Estava só em sua caminhonete, perto do palácio,
quando um carro se aproximou e o matou. Era 2007.
Essas histórias doem. São
sempre um golpe forte, mais
por serem amigos do que por
serem colegas. Mas acho que
o melhor que podemos fazer,
em memória a eles, é continuar trabalhando com responsabilidade e cuidado.
E não deixar que esses crimes sejam esquecidos. Não
investigá-los é como dar carta branca aos narcos, dizer
que podem continuar fazendo isso, pois nada será feito.
Corro muito risco nessa profissão. Mas o que mais me
atrai nela é poder dar voz a
pessoas marginais, sem poder. É preciso seguir.
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