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RELIGIÃO
Líderes das duas igrejas vêem na reconciliação crítica a "teologia da prosperidade" de neopentecostais
Acordo visa combater "mercantilismo"
da Reportagem Local
Lideranças religiosas do Brasil
interpretam o acordo entre católicos e luteranos como uma crítica
à lógica mercantilista dos grupos
neopentecostais -ramo do protestantismo que vem tirando fiéis
das igrejas cristãs mais tradicionais e que propaga a "teologia da
prosperidade".
Tal doutrina incentiva o devoto
a dar dinheiro "para Deus" e a
cumprir determinados desafios
na esperança de, em troca, receber recompensas materiais.
Leia, abaixo, algumas opiniões
colhidas pela Folha:
Dom Cláudio Hummes, 65, arcebispo de São Paulo - "Com o
acordo, católicos e luteranos revêem a maneira como encararam
o tema da salvação e fazem importante autocrítica. Concluem
que os cristãos devem praticar
boas obras não para coagir Deus,
mas para louvá-lo. Lançam, por
outro lado, uma crítica às manifestações religiosas que ainda hoje
se baseiam na troca e que induzem o fiel a cumprir certas tarefas
com a intenção de alcançar a
prosperidade."
Walter Altmann, 55, primeiro
vice-presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no
Brasil (IECLB) - "O consenso se
dá justamente quando crescem
no mundo denominações religiosas que impõem pesadas cargas a
seus devotos. O documento que
será assinado na Alemanha vai
questionar essas práticas. Vai,
também, reafirmar que o ser humano vale pelo que é, e não pelo
que produz ou possui. Estabelecerá um princípio radical de igualdade, em contraste com um sistema sócio-econômico que exacerba a competição."
Padre José Bizon, 45, vice-reitor do Seminário Teológico da
Arquidiocese de São Paulo - "O
documento faz cair por terra a noção de mercado religioso, em que
os fiéis realizam algo para obter
uma recompensa ."
Rolf Schünemann, 45, pastor
sinodal da IECLB - "As sociedades de hoje vendem a idéia de que
todos os que estão excluídos do
processo produtivo fracassaram
na vida. O acordo se opõe a lógica
tão cruel e reitera que a dignidade
humana advém unicamente de
Deus, da misericórdia divina."
Dom Ivo Lorscheiter, 71, bispo
de Santa Maria (RS) - "A assinatura da declaração conjunta é, talvez, o principal fruto do ecumenismo -o movimento de diálogo
e cooperação entre cristãos."
Gottfried Brakemeier, 62, ex-membro da Comissão Mista Internacional Católico-Luterana -
"Apesar de negar que os atos levam o ser humano à salvação, o
acordo também enfatiza a necessidade do serviço altruístico como
expressão da fé em Deus."
Dom Paulo Evaristo Arns, 78,
arcebispo emérito de São Paulo -
"Impressiona-me o fato de a declaração conseguir preservar a riqueza tanto da visão luterana
quanto da católica e, mesmo assim, atingir o consenso."
Antônio Flávio Pierucci, 52,
professor da Universidade de
São Paulo, especialista em sociologia da religião - "O acordo faz
prevalecer a interpretação luterana de que as atitudes dos homens
não influenciam Deus. Rejeita, assim, a religiosidade de resultados
imediatos, muito presente nas
novas igrejas cristãs, e valoriza
uma religião mais ética."
(ARMANDO ANTENORE)
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