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COMENTÁRIO
Brasil deve ajudar "parto" de Timor
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
A mídia internacional tem fascínio, compreensível, por guerras.
Conflitos bélicos têm elementos
de drama que atraem o interesse
do público. Tratados como uma
espécie de ficção real, costumam
ser pratos cheios para jornalistas.
Felizmente, esse é um espetáculo raramente disponível para os
meios de comunicação brasileiros. Mas a possibilidade de tropas
do país participarem da ação em
Timor Leste excitou a imaginação
adormecida de muitos por aqui.
Com isso, tem sido dado pouco
destaque a um aspecto relevante
da tragédia de Timor Leste, que
um de seus observadores, o deputado João Hermann Neto (PPS-SP), tem chamado de "o nascimento de uma nação".
Muito menos atraente do que
cenas de batalha, mas muito mais
significativo social e politicamente, é o processo que teve início
com o plebiscito de 30 de agosto.
Quando o Parlamento indonésio aprovar, como se antecipa, a
desanexação de Timor Leste, o
país passará ao status de território
não autônomo sob a administração da Organização das Nações
Unidas. Nessa condição, montará
seu arcabouço nacional.
Se podem ser encontradas boas
justificativas para a participação
numericamente pequena do Brasil nas forças que vão impor a paz
em Timor Leste, nada explicará a
contento sua omissão ou presença inexpressiva na próxima fase.
Timor Leste precisa do Brasil e
conta com ele, como Angola, Moçambique e Cabo Verde. A comunidade dos países de língua portuguesa é um fórum em que a liderança do Brasil é natural e precisa ser exercida.
Além disso, é do maior interesse
estratégico para o país aumentar
seu intercâmbio com a Ásia e a
Oceania, onde há mercados da
maior expressividade, como China, Japão, Austrália, além da própria Indonésia.
Ajudar no parto da nação timorense é um dever dos brasileiros
por causa de nossa origem cultural comum. Mas também é do interesse econômico e geopolítico
do país.
Há outro processo em curso,
naquele outro lado do mundo,
em que os laços linguísticos podem ajudar o Brasil a aumentar
sua ação na Ásia: o retorno de
Macau à administração chinesa,
em dezembro próximo.
Em Macau, o Brasil poderá estar
presente, como "parceiro estratégico" da China (conforme expressão concebida pelos próprios chineses), para ajudar a suavizar o
processo de reintegração à China.
Razões humanitárias são argumento suficiente para o Brasil se
engajar na formação do mais novo país do mundo, Timor Leste.
Mas, além delas, os interesses
materiais do Brasil justificam essa
intervenção pacífica do país.
Passada a curiosidade natural
que as atividades dos soldados
brasileiros vão provocar na mídia,
é de se esperar que ela passe a se
concentrar nos problemas sociais
e econômicos da nação que surge.
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