São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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Escola reflete a forte divisão entre religiões

DE LONDRES

Uma análise do sistema educacional da Irlanda do Norte é uma medida impressionante da forte segregação social prevalecente na região. Cerca de 95% das escolas são ou exclusivamente católicas ou totalmente protestantes. Apenas 5% são mistas. E as perspectivas são de que esse quadro não mude num futuro próximo.
"Há pouca evidência de que essa situação possa mudar de forma substancial nos próximos dez anos", diz Alison Kitson, da Universidade de Warwick, que pesquisou o ensino de história nas escolas da Irlanda do Norte.
Segundo Kitson, mesmo em algumas escolas mistas transparece algum grau de divisão. Ela cita um colégio que aceita tanto católicos como protestantes e fez uma votação para ver se os pais dos alunos concordavam que a escola passasse a se autodenominar "mista". A maioria disse não.
Para ela, a forte segregação nas escolas é muito ruim para o avanço no processo político da região. Isso porque, diz, a maior parte das crianças de religiões diferentes só conviverá quando adultas.
Os efeitos do conflito na Irlanda do Norte também transparecem no ensino de história. A pesquisadora descobriu que há dois grupos de professores da disciplina. Um é composto por docentes que, nas palavras dela, "assumem mais riscos". Quando vão apresentar aos alunos fatos históricos sobre os quais protestantes e católicos têm visões diferentes, incentivam os alunos a analisar os fatos sob os dois pontos de vista.
"Eles levam os alunos a tentar entender os fatos com a perspectiva do outro grupo. Fazem isso correndo o risco de, por exemplo, sofrerem recriminações dos pais", diz Kitson, cuja pesquisa é financiada pelo Carnegie Council of Ethics and International Affairs e será publicada em 2005.
O outro grupo de professores, geralmente, até explica que há visões diferentes sobre um mesmo fato, mas não incentiva os alunos à análise sob olhares distintos.
"Geralmente, esses professores, que preferem "jogar com segurança", dão aulas em escolas em regiões onde os conflitos são mais intensos, como em Belfast."
Segundo ela, a pesquisa revela o desafio de ensinar história numa sociedade dividida. "Se for para o ensino de história contribuir para a reconciliação, como prevêem os currículos, mudanças têm de ser feitas a fim de que os professores recebam o treinamento que possa ajudá-los." (EF)


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