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EUROPA
Após três dias de conversas, líderes católico e protestante não chegam a um acordo; Blair ainda crê no fim da luta armada
Negociação de paz falha na Irlanda do Norte
ÉRICA FRAGA
DE LONDRES
Após três dias, as negociações
políticas na Irlanda do Norte foram encerradas ontem sem que
os dirigentes católico e protestante chegassem a um acordo.
Segundo especialistas, dez anos
depois de iniciado o processo de
paz da região, a violência caiu de
forma abrupta, mas a segregação
entre católicos e protestantes aumentou e os avanços políticos retrocederam.
As recentes conversas entre líderes dos partidos rivais eram a
esperança de reversão do atravancado processo político. A expectativa era que a Irlanda do Norte recuperasse a autonomia parcial em
relação ao Reino Unido, reconquistada em 1998, mas suspensa,
novamente, em outubro de 2002.
As conversas entre o Sinn Fein,
partido que representa a minoria
católica, e o Partido Democrático
Unionista (PDU), hoje principal
partido do lado protestante, foram intermediadas por Tony
Blair e Bertie Ahern, premiês do
Reino Unido e da Irlanda.
Apesar do acordo político não
ter sido firmado, Blair disse crer
no fim das atividades paramilitares: "Acreditamos que possamos
eliminar o uso de armas".
Antes do desfecho, o presidente
do Sinn Fein, Gerry Adams, dissera que um acordo seria "inevitável", numa sinalização de que seu
partido poderia estar disposto a
tratar da dissolução do IRA (Exército Republicano Irlandês), seu
braço armado-principal reivindicação dos protestantes.
Na década anterior ao cessar-fogo anunciado em 1994, 870 pessoas haviam sido mortas. Nos últimos dez anos, esse número caiu
para 173. Especialistas acreditam
que, mesmo que o processo político não avance, o fim da violência
em larga escala não corre riscos de
reversão. Mas são pessimistas
quando o assunto é a redução da
dispersão social.
"A segregação entre católicos e
protestantes aumentou e não há
sinais de mudança nisso", diz Robin Wilson, diretor do Democratic Dialogue, ONG de Belfast, capital da Irlanda do Norte.
Ainda assim, houve melhorias
econômicas. "A vida voltou para
um certo nível de normalidade. A
economia se recupera lentamente", diz Paul Cardew, diretor de
segurança do Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, policial na Irlanda
do Norte por 20 anos.
"O fato de que os dois lados possuem agendas políticas claras ajuda", continua Cardew.
Ao longo dos anos, porém, a
agenda dos católicos, principalmente, teve de mudar para que algum avanço fosse conseguido. O
pleito original era que toda a Irlanda formasse um só país, independente do Reino Unido.
A Irlanda foi dividida em 1921.
O norte, onde os protestantes são
cerca de 60% da população, foi separado do centro e do sul, de
maioria católica, que se tornaram
um país independente. No fim
dos anos 60, se agravaram os conflitos entre católicos e protestantes no norte.
Essa situação perdurou até 1994,
quando foi anunciado o primeiro
cessar-fogo. Em 1998, veio o acordo que possibilitou que fosse restabelecido o Parlamento da Irlanda do Norte -suspenso em 1972.
Quatro anos depois, no entanto,
a autonomia parcial da região foi
cassada novamente pelo governo
britânico, por conta da dificuldade de avanços na agenda. Agora, a
principal demanda dos partidos
protestantes é que o Sinn Fein encerre as ações do IRA. Já o Sinn
Fein pede a retirada do Exército
britânico da Irlanda do Norte e
anistia para seus integrantes.
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