São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004

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EUROPA

Após três dias de conversas, líderes católico e protestante não chegam a um acordo; Blair ainda crê no fim da luta armada

Negociação de paz falha na Irlanda do Norte

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

Após três dias, as negociações políticas na Irlanda do Norte foram encerradas ontem sem que os dirigentes católico e protestante chegassem a um acordo.
Segundo especialistas, dez anos depois de iniciado o processo de paz da região, a violência caiu de forma abrupta, mas a segregação entre católicos e protestantes aumentou e os avanços políticos retrocederam.
As recentes conversas entre líderes dos partidos rivais eram a esperança de reversão do atravancado processo político. A expectativa era que a Irlanda do Norte recuperasse a autonomia parcial em relação ao Reino Unido, reconquistada em 1998, mas suspensa, novamente, em outubro de 2002.
As conversas entre o Sinn Fein, partido que representa a minoria católica, e o Partido Democrático Unionista (PDU), hoje principal partido do lado protestante, foram intermediadas por Tony Blair e Bertie Ahern, premiês do Reino Unido e da Irlanda.
Apesar do acordo político não ter sido firmado, Blair disse crer no fim das atividades paramilitares: "Acreditamos que possamos eliminar o uso de armas".
Antes do desfecho, o presidente do Sinn Fein, Gerry Adams, dissera que um acordo seria "inevitável", numa sinalização de que seu partido poderia estar disposto a tratar da dissolução do IRA (Exército Republicano Irlandês), seu braço armado-principal reivindicação dos protestantes.
Na década anterior ao cessar-fogo anunciado em 1994, 870 pessoas haviam sido mortas. Nos últimos dez anos, esse número caiu para 173. Especialistas acreditam que, mesmo que o processo político não avance, o fim da violência em larga escala não corre riscos de reversão. Mas são pessimistas quando o assunto é a redução da dispersão social.
"A segregação entre católicos e protestantes aumentou e não há sinais de mudança nisso", diz Robin Wilson, diretor do Democratic Dialogue, ONG de Belfast, capital da Irlanda do Norte.
Ainda assim, houve melhorias econômicas. "A vida voltou para um certo nível de normalidade. A economia se recupera lentamente", diz Paul Cardew, diretor de segurança do Royal United Services Institute for Defence and Security Studies, policial na Irlanda do Norte por 20 anos.
"O fato de que os dois lados possuem agendas políticas claras ajuda", continua Cardew.
Ao longo dos anos, porém, a agenda dos católicos, principalmente, teve de mudar para que algum avanço fosse conseguido. O pleito original era que toda a Irlanda formasse um só país, independente do Reino Unido.
A Irlanda foi dividida em 1921. O norte, onde os protestantes são cerca de 60% da população, foi separado do centro e do sul, de maioria católica, que se tornaram um país independente. No fim dos anos 60, se agravaram os conflitos entre católicos e protestantes no norte.
Essa situação perdurou até 1994, quando foi anunciado o primeiro cessar-fogo. Em 1998, veio o acordo que possibilitou que fosse restabelecido o Parlamento da Irlanda do Norte -suspenso em 1972.
Quatro anos depois, no entanto, a autonomia parcial da região foi cassada novamente pelo governo britânico, por conta da dificuldade de avanços na agenda. Agora, a principal demanda dos partidos protestantes é que o Sinn Fein encerre as ações do IRA. Já o Sinn Fein pede a retirada do Exército britânico da Irlanda do Norte e anistia para seus integrantes.


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