São Paulo, sábado, 19 de setembro de 2009

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Perseguição à mídia pauta fórum em Caracas

Em reunião de emergência sobre liberdade de expressão, SIP questiona ações anti-imprensa de governos latino-americanos

Clima de críticas predomina, mas ex-presidente boliviano ressalva que meios de comunicação não deveriam agir como partidos políticos


FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) escolheu a capital da Venezuela, país que considera uma fonte de irradiação de perseguição à mídia na região, para realizar ontem seu Fórum de Emergência sobre Liberdade de Expressão, convocado "com um forte chamado para recuperar espaços democráticos e de liberdade de imprensa em países com governos autoritários populistas", em clara alusão a Venezuela, Equador, Bolívia e Argentina.
"Decidimos fazer o fórum de emergência porque é um problema sério em muitos países da América Latina. Escolhemos Caracas porque é daqui que está saindo a tônica que outros países têm repetido", disse à Folha o vice-presidente da SIP, o guatemalteco Gonzalo Marroquín.
Apesar de as críticas terem predominado no encontro, um dos participantes, o ex-presidente boliviano Carlos Mesa (2003-2005), remou um pouco contra a corrente ao advertir os integrantes da SIP dos riscos de os meios de comunicação da região assumirem o papel de partidos de oposição.
"Quando um meio, diante da falta de partidos políticos, tem de fazer o que os partidos não podem fazer, perde o equilíbrio e a objetividade", disse Mesa durante o encontro, que reuniu representantes de jornais, rádios e TVs filiados à SIP e entidades do setor.
Ao lado do ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), Mesa foi o convidado ilustre do fórum. Também estava prevista a participação do ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda, um duro crítico do governo Chávez. Ele, no entanto, cancelou a sua participação alegando "razões de segurança", segundo a organização.
Mesa, ex-proprietário da rede de TV PAT, fez o pronunciamento mais comentado do encontro ao realizar uma autocrítica em vez de ataques diretos a Chávez e aliados.
Segundo o boliviano, se os meios de comunicação se confundirem com partidos, "não poderão enfrentar mecanismos de totalitarismo disfarçados de democracia porque os meios não têm o poder de enfrentá-los mediante leis que não são desenhadas por eles".
Já Toledo seguiu o tom predominante do encontro, com duras críticas aos governos acusados de cercear a liberdade de expressão. O peruano felicitou a SIP por fazer o encontro "na própria boca do lobo" e afirmou que "nunca se pode governar democraticamente sendo contra a imprensa".
Sobre as críticas de Mesa, Marroquín afirmou que muitos meios de comunicação acabam funcionando como partidos políticos em decorrência da debilidade destes. "Mas esse papel pode ser feito de uma maneira positiva ou negativa para a própria imprensa e para a liberdade de expressão."
Ao longo do encontro, representantes de entidades nacionais de meios de comunicação criticaram ações consideradas contrárias à liberdade de expressão, como o projeto de lei em tramitação na Argentina, que reduz o tamanho de conglomerados de mídia e é visto como retaliação do governo Cristina Kirchner ao jornalismo crítico do Grupo Clarín.
Sobre a Venezuela, foram lembrados o fechamento de 34 emissoras de rádio, sob a alegação de que funcionavam ilegalmente, e a ameaça de fechamento da TV Globovisión, o mais importante meio crítico a Chávez desde o fim da concessão da RCTV, em 2007.
A situação brasileira foi exposta pelo diretor-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais), Ricardo Pedreira. Ele afirmou que, no momento, o país está em melhor situação que os seus vizinhos, mas expressou preocupação com decisões judiciais que exercem, segundo ele, "censura prévia".
Como é de praxe, a SIP foi duramente criticada pelo governo Chávez. A ministra das Comunicações disse que o encontro faz parte de uma campanha do "império" contra "governos progressistas".


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