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Perseguição à mídia pauta fórum em Caracas
Em reunião de emergência sobre liberdade de expressão, SIP questiona ações anti-imprensa de governos latino-americanos
Clima de críticas predomina, mas ex-presidente boliviano ressalva que meios de comunicação não deveriam agir como partidos políticos
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa) escolheu a
capital da Venezuela, país que
considera uma fonte de irradiação de perseguição à mídia na
região, para realizar ontem seu
Fórum de Emergência sobre
Liberdade de Expressão, convocado "com um forte chamado para recuperar espaços democráticos e de liberdade de
imprensa em países com governos autoritários populistas",
em clara alusão a Venezuela,
Equador, Bolívia e Argentina.
"Decidimos fazer o fórum de
emergência porque é um problema sério em muitos países
da América Latina. Escolhemos Caracas porque é daqui
que está saindo a tônica que outros países têm repetido", disse
à Folha o vice-presidente da
SIP, o guatemalteco Gonzalo
Marroquín.
Apesar de as críticas terem
predominado no encontro, um
dos participantes, o ex-presidente boliviano Carlos Mesa
(2003-2005), remou um pouco
contra a corrente ao advertir os
integrantes da SIP dos riscos
de os meios de comunicação da
região assumirem o papel de
partidos de oposição.
"Quando um meio, diante da
falta de partidos políticos, tem
de fazer o que os partidos não
podem fazer, perde o equilíbrio
e a objetividade", disse Mesa
durante o encontro, que reuniu
representantes de jornais, rádios e TVs filiados à SIP e entidades do setor.
Ao lado do ex-presidente peruano Alejandro Toledo (2001-2006), Mesa foi o convidado
ilustre do fórum. Também estava prevista a participação do
ex-chanceler mexicano Jorge
Castañeda, um duro crítico do
governo Chávez. Ele, no entanto, cancelou a sua participação
alegando "razões de segurança", segundo a organização.
Mesa, ex-proprietário da rede de TV PAT, fez o pronunciamento mais comentado do encontro ao realizar uma autocrítica em vez de ataques diretos a
Chávez e aliados.
Segundo o boliviano, se os
meios de comunicação se confundirem com partidos, "não
poderão enfrentar mecanismos de totalitarismo disfarçados de democracia porque os
meios não têm o poder de enfrentá-los mediante leis que
não são desenhadas por eles".
Já Toledo seguiu o tom predominante do encontro, com
duras críticas aos governos
acusados de cercear a liberdade
de expressão. O peruano felicitou a SIP por fazer o encontro
"na própria boca do lobo" e
afirmou que "nunca se pode
governar democraticamente
sendo contra a imprensa".
Sobre as críticas de Mesa,
Marroquín afirmou que muitos
meios de comunicação acabam
funcionando como partidos
políticos em decorrência da debilidade destes. "Mas esse papel pode ser feito de uma maneira positiva ou negativa para
a própria imprensa e para a liberdade de expressão."
Ao longo do encontro, representantes de entidades nacionais de meios de comunicação
criticaram ações consideradas
contrárias à liberdade de expressão, como o projeto de lei
em tramitação na Argentina,
que reduz o tamanho de conglomerados de mídia e é visto
como retaliação do governo
Cristina Kirchner ao jornalismo crítico do Grupo Clarín.
Sobre a Venezuela, foram
lembrados o fechamento de 34
emissoras de rádio, sob a alegação de que funcionavam ilegalmente, e a ameaça de fechamento da TV Globovisión, o
mais importante meio crítico a
Chávez desde o fim da concessão da RCTV, em 2007.
A situação brasileira foi exposta pelo diretor-executivo da
ANJ (Associação Nacional de
Jornais), Ricardo Pedreira. Ele
afirmou que, no momento, o
país está em melhor situação
que os seus vizinhos, mas expressou preocupação com decisões judiciais que exercem,
segundo ele, "censura prévia".
Como é de praxe, a SIP foi
duramente criticada pelo governo Chávez. A ministra das
Comunicações disse que o encontro faz parte de uma campanha do "império" contra "governos progressistas".
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