São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010

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Após salto chinês, PIB de Cuba patina

Economia cresceu 9% ao ano até 2007, mas deve subir 2% neste ano, menos da metade da média continental

Desaceleração ajuda a explicar as reformas econômicas anunciadas por ditador Raúl Castro nas últimas semanas

Alejandro Ernesto - 13.set.10/Efe
Vendedores de abacates, com carrinho, aguardam possíveis clientes em rua movimentada do centro da capital cubana

ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

O governo cubano publica dados relevantes sobre a economia apenas uma vez por ano e com defasagem.
Analistas que acompanham o regime castrista sabem, no entanto, que em tempos de vacas gordas estatísticas vão "vazando" nos discursos de autoridades.
Em 2010, o silêncio em relação a tais informações econômicas tem imperado.
A leitura de especialistas sobre essa falta de referências é consensual: a economia claramente não vai bem.
Depois de crescer em ritmo chinês (a uma média anual de 9%) entre 2004 e 2007, o PIB (Produto Interno Bruto) cubano entrou em desaceleração em 2008.
Isso se acentuou com a crise financeira global de 2009, e tudo indica que o desempenho econômico ainda é fraco.
Os problemas econômicos podem não ter sido o estopim das reformas anunciadas recentemente (a mais drástica é um plano para demitir 500 mil funcionários públicos ao longo do próximo ano). Mas aumentaram o senso de urgência de reforma.
"Eles precisam fazer algo para crescer novamente. Isso é urgente", afirma Emily Morris, diretora do Centro de Pesquisa e Consultoria para o Caribe e a América Latina da Universidade Metropolitana de Londres.
Ela ressalta que a economia do país -ao contrário de outras desenvolvidas e emergentes- não chegou a se contrair em 2009.
Mas deve crescer só 2% em 2010, menos da metade da média esperada para a América Latina, de cerca de 5%.

FUTURO DO REGIME
Muitas dúvidas rondam o futuro de Cuba. A mais perene é sobre a capacidade de sobrevivência do regime.
Segundo analistas, essa resposta só virá em muitos anos -mas o sucesso ou o fracasso das reformas recentes será determinante.
A taxa de desemprego em Cuba é muito baixa, inferior a 2% desde 1996. Mas esse número reflete dois sérios problemas: a existência de um setor público inchado e o excesso de informalidade.
Só são capturados nas estatísticas de desemprego os cubanos que preenchem registro de busca por emprego.
Muitos não o fazem, pois as possibilidades de ganhos no setor informal da economia são maiores do que no setor público ou no mercado privado legal.
As reformas têm visado esses problemas. A intenção é que atividades do setor público sejam transferidas para o privado, que absorveria os que serão demitidos.
Ilustrativo foi o fechamento de cantinas para trabalhadores subsidiadas pelo governo. A ideia é estimular a formação de uma classe de donos de pequenos restaurantes.
Segundo Morris, presume-se que o Estado fornecerá algum tipo de crédito a esses empreendimentos.
O outro lado disso será trazer quem opera na informalidade para o setor privado legal, o que significa fazer com que esses cubanos passem a pagar impostos.
"Os cubanos estão cansados da situação atual. Essas medidas tendem a aumentar as tensões", afirma Irenea Renuncio-Mateos, analista de Cuba da consultoria IHS Global Insight.
Outros problemas, como a dependência do país do níquel, que representa 30% das exportações, também precisam ser atacados.
A queda do preço da commodity em 2008 e 2009 contribuiu para a desaceleração da economia recentemente.
Apesar dos desafios, a aposta de observadores é que o regime dos irmãos Castro consiga sobreviver ajudado por China e Venezuela.


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