São Paulo, sábado, 19 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CORÉIA DO NORTE

Agentes de inteligência vêem Islamabad como fornecedor de Pyongyang

Paquistão é suspeito de venda nuclear

DA REDAÇÃO

Autoridades dos serviços de inteligência dos EUA suspeitam que o Paquistão, a Rússia e a China são fornecedores dos equipamentos que a Coréia do Norte têm usado para desenvolver seu programa de armas nucleares. Moscou e Islamabad negaram.
"Isso nada tem a ver com a realidade", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Alexander Yakovenko.
"Nenhuma negociação desse tipo [venda de equipamentos para os norte-coreanos] foi feita", disse o general Hamid Gul, ex-chefe dos serviços de inteligência paquistaneses. "A Coréia do Norte sempre foi mais próxima da Rússia e da China, não estamos em posição de ajudá-los", completou.
Numa informação vazada esta semana -propositalmente ou não- pelo governo, os EUA disseram que a Coréia do Norte admitiu ter um programa secreto de armas nucleares que, inclusive, contrariaria o acordo de desarmamento firmado em 1994 com o governo Bill Clinton.
A Casa Branca não quis comentar ontem as conjecturas da imprensa americana de que o Paquistão teria acertado um acordo de suprimento de material nuclear para a Coréia do Norte no fim dos anos 90 em troca de tecnologia de mísseis.
Dando uma indicação do que ocorreu, o porta-voz da Presidência, Ari Fleischer, disse que, "desde 11 de setembro, mudaram muitas das coisas que muita gente fazia antes daquela data".
Apesar de não ser direta, a declaração foi interpretada como uma admissão de que os paquistaneses resolveram "entregar o jogo" para os americanos depois de terem se tornado um dos maiores aliados de Washington na ofensiva internacional contra o terror.
Supõe-se que as "provas inquestionáveis" apresentadas pelos americanos, as quais teriam levado Pyongyang a admitir seu programa secreto de desenvolvimento de armas, teriam origem em Islamabad.
Segundo membros da inteligência americana que pediram para não ser identificados, a China é tida como um dos principais fornecedores de Pyongyang, mas o Paquistão e a Rússia estariam também entre os países que teriam vendido o equipamento necessário para que os norte-coreanos pudessem enriquecer urânio para as armas nucleares.
Alguns desses equipamentos teriam uso industrial civil, e não apenas bélico. Países insuspeitos, que não estariam cientes do uso militar desses equipamentos, podem estar envolvidos nas transações, dizem os americanos.

Ofensiva diplomática
O secretário de Estado Colin Powell disse que os EUA não têm planos de uma ação militar contra a Coréia do Norte.
O senador republicano John McCain, por sua vez, defendeu ontem que as sanções econômicas sejam imediatamente aumentadas. "Não estou descartando a opção militar, mas creio que outras ações devem ser tentadas primeiro. Acredito que fortes sanções econômicas podem dobrar aquele governo", disse McCain.
Com a missão diplomática de costurar essas sanções, dois enviados do Departamento de Estado dos EUA, John Bolton e James Kelly, viajaram para a China.
Como Pequim é o principal parceiro de Pyongyang, apenas sanções que envolvessem os chineses teriam o efeito pretendido por Washington, dizem analistas.
Kelly deve ir a Tóquio e a Seul também. O itinerário de Bolton inclui Moscou, Londres e Paris.
Os principais jornais dos EUA trataram, em suas páginas de editoriais, o tema da admissão da Coréia do Norte de que desenvolve secretamente armas nucleares. Em sua maioria, a grande imprensa americana criticou a falta de empenho da política internacional do governo George W. Bush e defendeu uma ação mais firme contra os norte-coreanos.
O "Washington Post" disse que "a chocante confissão de Pyongyang é uma maneira de obrigar a recalcitrante administração Bush a comprometer-se com obrigações políticas sérias".
O "New York Times" defendeu que "uma diplomacia internacional firme seja o primeiro passo a dar ante o problema agudo que apresenta a Coréia do Norte".


Com agências internacionais


Texto Anterior: Guerra Civil: Exército avança em bairro de Medellín
Próximo Texto: Iraque: Negociações na ONU "avançam", diz Chirac
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.