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Brasileiros relatam ações na 4ª Frota
Médicos da Marinha do Brasil atuam em missão humanitária da esquadra americana, reativada neste ano
Principal navio da frota que faz operações no Caribe, o USS Kearsarge também é ideal para combate; envio foi motivos de protestos
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Principal navio da 4ª Frota
americana, o USS Kearsarge está realizando operações de ajuda humanitária no Caribe. A
bordo do imenso navio anfíbio,
atualmente na República Dominicana, estão dois médicos
da Marinha do Brasil.
Quando os EUA decidiram
recriar a 4ª Frota para atuar
nos mares em torno da América Latina, a gritaria foi geral, especialmente entre a esquerda,
temerosa de uma nova era de
intervenções militares. Os EUA
alegaram que era uma simples
medida administrativa e que a
esquadra atuaria em exercícios
conjuntos com Marinhas de
países da região, além de prover
ajuda humanitária.
O USS Kearsarge é capaz de
servir bem a qualquer das intenções. Trata-se de um navio
de assalto anfíbio, um gigantesco porta-helicópteros de 45,5
mil toneladas em plena carga,
dedicado ao desembarque de
fuzileiros navais. Sua tripulação é de 1.200 oficiais e marinheiros e 2.000 fuzileiros navais. Tem mísseis para defesa
antiaérea e costuma levar seis
aviões de ataque AV-8B Harrier
e cerca de 23 helicópteros.
Mas, além disso, tem instalações médicas que só perdem
em tamanho para as de um navio-hospital. Há seis salas de
operação, 578 leitos para doentes e amplo espaço para veículos e carga. Ou seja, é um excelente navio para realizar o que a
Marinha do Brasil chama de
"aciso" -ação cívico-social.
A missão atual de assistência
médico-humanitária chama-se
Continuing Promise 2008
("promessa continuada"). Estavam previstas visitas a seis
países, mas o Haiti foi incluído
na lista depois de sofrer com as
tempestades Gustav e Hanna e
o furacão Ike.
Um dos brasileiros a bordo é
o capitão-de-corveta (médico)
Thomaz Moraes do Carmo, formado pela Universidade Federal do Pará. Na Marinha desde
1996, ele serve no Hospital Naval de Belém. Moraes tem larga
experiência de missões de
atendimento à população ribeirinha, no rio Amazonas, a bordo do Navio de Assistência
Hospitalar Oswaldo Cruz.
O outro é o capitão-tenente
Ricardo Silva Guimarães, formado pela Faculdade de Medicina de Campos. Ele entrou para o Exército em 1998 e em
2000 se mudou para a Marinha. Atuou no Posto Oceanográfico da Ilha da Trindade e foi
à Antártida a bordo do navio
oceanográfico Ary Rongel, entre 2005 e 2006.
Os dois concederam entrevista à Folha conjuntamente,
por e-mail, quando estavam ao
largo do Haiti.
FOLHA - Como foi que surgiu a
oportunidade de estar a bordo de
um navio da Marinha dos EUA?
THOMAZ MORAES DO CARMO E RICARDO SILVA GUIMARÃES - A Marinha americana convidou dois
médicos da Marinha do Brasil a
participarem desta missão.
Uma das vagas foi oferecida ao
Hospital Naval de Belém, por
seus médicos terem grande experiência com doenças tropicais. Com isso, o capitão-de-corveta Thomaz foi voluntário.
A outra vaga foi decorrente de
processo seletivo da Marinha,
tendo sido selecionado o capitão-tenente Ricardo.
FOLHA - Em quais países estiveram
e de que tipo de atividades participaram? Como se comparam com experiência semelhante de ação cívico-social que realizaram no Brasil?
THOMAZ E RICARDO - Estivemos
em Puerto Cabezas, na Nicarágua, e Santa Marta, na Colômbia. O capitão-de-corveta Thomaz realizou atendimento médico primário. O capitão-tenente Ricardo participou de seleção dos pacientes cirúrgicos
em terra, tendo realizado as cirurgias a bordo do USS Kearsarge. O tipo de atendimento e
as patologias são semelhantes
aos do Brasil, porém a população nos pareceu mais carente
em saúde e saneamento. A logística americana é maior, devido à natureza da missão, que
não se restringe à área médica,
com realização de obras de infra-estrutura, como reformas
de escolas e hospitais.
FOLHA - Como é a vida a bordo de
um navio dos EUA? Sentem-se à
vontade ou sofrem de alguma forma de "choque cultural"?
THOMAZ E RICARDO - A convivência a bordo é harmônica e amigável. Não houve nenhum tipo
de "choque cultural", visto que
já temos alguma experiência
com a rotina a bordo de navios
da Marinha. Houve, sim, um
grande interesse dos americanos em aprender um pouco
mais sobre o Brasil. Por ser um
navio de grandes dimensões, há
uma infra-estrutura maior, o
que facilita a vida a bordo.
FOLHA - Onde estão no momento,
fazendo o quê? Tiveram contato
com as tropas brasileiras da missão
de paz no Haiti?
THOMAZ E RICARDO - Estamos ao
largo de Porto Príncipe, no Haiti. Neste país foi realizado apenas apoio logístico, pelas aeronaves de bordo, na distribuição
de alimentos. Estivemos em
terra como voluntários, apenas
para ajudar no transbordo dos
alimentos para os helicópteros,
no aeroporto local. Nós não tivemos contato com a população e as tropas brasileiras.
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