São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Duplo atentado ocorreu perto da fronteira com o Irã e deixou 80 feridos; explosão em Bagdá mata seis

Ataque a templos xiitas mata 77 no Iraque

DA REDAÇÃO

Um duplo atentado contra mesquitas xiitas no nordeste do Iraque, perto da fronteira com o Irã, deixou ao menos 77 mortos e 80 feridos ontem, dando seqüência à onda de ataques que nos últimos meses aprofundou as tensões sectárias no país.
Os atentados aconteceram no final da tarde em Khanaquin, uma cidade majoritariamente curda, mas com forte presença xiita, no nordeste do país. Foram executados por homens-bomba, que, munidos de cintos de explosivos, entraram nas mesquitas Xeque Murad e Grande Khanaquin em um momento em que elas estavam lotadas -sexta é o principal dia de oração islâmico.
Autoridades municipais disseram esperar que o saldo de mortos supere cem. Segundo o vereador Ibrahim Ahmed Bajalan, mais corpos estão presos nos escombros a que foram reduzidas as mesquitas. A polícia também registrou uma explosão menor perto de um banco na cidade, mas não havia dados sobre vítimas.
Kamaran Ahmed, diretor do hospital da cidade, disse que 77 mortes foram confirmadas e há mais de 80 feridos. Alguns dos corpos estão tão mutilados que o reconhecimento é impossível.
"A carne do terrorista ainda podia ser vista nas paredes da mesquita depois da explosão, disse uma das testemunhas, Ali Abdullah. Omar Saleh, 73, estava rezando quando o homem explodiu. "O teto caiu sobre nós e o lugar se encheu de cadáveres, disse, de uma cama no hospital.
Milícias curdas, conhecidas como peshmergas, fecharam as entradas da cidade após os ataques.
O último ataque terrorista de grande porte no Iraque aconteceu no fim de setembro, quando 98 pessoas morreram em um triplo atentado em Balad (ao norte da capital iraquiana). Desde janeiro de 2004, os militares americanos estimam que ataques como esses, pelos quais acusam membros da minoria sunita, tenham matado ou ferido gravemente ao menos 26 mil civis iraquianos.
Apesar da escalada de baixas, especialistas internacionais não crêem que o quadro configure ainda um caso de genocídio praticado pelos sunitas contra os xiitas iraquianos. Mas apontam crimes contra a humanidade. "As ações terroristas da insurgência iraquiana constituem, de acordo com as leis internacionais, grotescos crimes contra a humanidade", disse à Folha Allan Ryan, especialista em direito internacional da Universidade Harvard (EUA).
A violência aumenta com a aproximação das eleições legislativas, que definirão quem governará o país pelos próximos quatro anos, marcadas para 15 de dezembro. O atual gabinete, dominado por uma aliança entre a maioria xiita e os curdos, é provisório.

Ataque a hotéis
Além do atentado em Khanaquin, uma aparente tentativa de ataque contra um hotel em Bagdá atingiu um prédio de apartamentos e matou pelo menos seis pessoas, entre elas duas crianças. Mais 40 pessoas foram feridas.
As explosões ocorreram perto do Hamra Hotel. Câmeras de segurança gravaram imagens de uma perua branca indo de encontro aos muros que cercam o hotel e explodindo. Cerca de 20 segundos depois, uma segunda explosão destrói a câmera.
Segundo o coronel Ed Cardon, do Exército americano, o primeiro veículo aparentemente tentava abrir caminho para o segundo, que explodiria dentro do hotel.
O Hamra fica perto do prédio do Ministério do Interior onde foi descoberto domingo um calabouço secreto com 170 prisioneiros sunitas, muitos com marcas de tortura no corpo. Ontem, a ONU pediu uma investigação internacional do caso, já objeto de inquéritos do Iraque e dos EUA.
No mês passado, dois hotéis na capital -o Sheraton e o Palestine, que abriga jornalistas estrangeiros- foram alvos de ataques.
Também ontem, o Exército dos EUA anunciou a morte de mais três soldados e disse ter matado 32 supostos insurgentes em combates no noroeste do país.


Com agências internacionais

Colaborou Márcio Senne de Moraes


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