São Paulo, sábado, 19 de novembro de 2005

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"Não há vida após a tortura", afirma ex-detento

DE LONDRES

O britânico Moazzam Begg, libertado em janeiro deste ano depois de passar quase três anos detido sem condenação nos campos de prisioneiros de Bagram, no Afeganistão, e da base de Guantánamo, em Cuba, afirma que não há cotidiano possível depois que se passa pela experiência de ser torturado.
"A primeira coisa que as pessoas me perguntam é: como foi voltar à rotina de vida? Eu respondo que minha vida nunca voltou a ser normal depois de 30 de janeiro de 2002", afirmou durante entrevista coletiva ontem em Londres, em referência ao dia em que foi detido pela CIA (agência de inteligência dos EUA) em Islamabad (Paquistão).
Begg, 37, ficou por meses em solitárias e diz ter sido torturado e ter presenciado cenas assombrosas, como o espancamento até a morte, por guardas americanos, de dois detentos que eram seus amigos.
Segundo o ex-prisioneiro, choques elétricos nos testículos são um meio de tortura corrente nos campos controlados pelas forças americanas.
"Eu me sinto culpado por ter voltado, sabendo que amigos meus ficaram lá. Especialmente quando os filhos dessas pessoas me perguntam: por que você está de volta e meu pai não?", admitiu Begg.
O britânico citou a história de um colega que, como ele, foi torturado pelos americanos e depois libertado. "Ele era três vezes maior que eu, grande e cheio de vida. Agora não é nada, ele quer morrer."
Begg, 37, foi extraditado a pedido do governo britânico, que o interrogou e o liberou em seguida quando ele voltou ao país, em janeiro.

Desamparo
Para ele, que está escrevendo um livro sobre sua história, a sensação de desamparo dos prisioneiros é algo mais cruel que a tortura.
"Não ter direito à defesa nem a ser ouvido é pior do que ser chutado na cabeça, é pior do que levar choques nos testículos", afirmou Begg, cujo pai, Azmat Begg, fundou o partido Paz e Progresso após lutar durante três anos pela sua libertação. (FV)


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