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"Não há vida após a tortura", afirma ex-detento
DE LONDRES
O britânico Moazzam Begg, libertado em janeiro deste ano depois de passar quase três anos detido sem condenação nos campos
de prisioneiros de Bagram, no
Afeganistão, e da base de Guantánamo, em Cuba, afirma que não
há cotidiano possível depois que
se passa pela experiência de ser
torturado.
"A primeira coisa que as pessoas me perguntam é: como foi
voltar à rotina de vida? Eu respondo que minha vida nunca voltou a
ser normal depois de 30 de janeiro
de 2002", afirmou durante entrevista coletiva ontem em Londres,
em referência ao dia em que foi
detido pela CIA (agência de inteligência dos EUA) em Islamabad
(Paquistão).
Begg, 37, ficou por meses em solitárias e diz ter sido torturado e
ter presenciado cenas assombrosas, como o espancamento até a
morte, por guardas americanos,
de dois detentos que eram seus
amigos.
Segundo o ex-prisioneiro, choques elétricos nos testículos são
um meio de tortura corrente nos
campos controlados pelas forças
americanas.
"Eu me sinto culpado por ter
voltado, sabendo que amigos
meus ficaram lá. Especialmente
quando os filhos dessas pessoas
me perguntam: por que você está
de volta e meu pai não?", admitiu
Begg.
O britânico citou a história de
um colega que, como ele, foi torturado pelos americanos e depois
libertado. "Ele era três vezes
maior que eu, grande e cheio de
vida. Agora não é nada, ele quer
morrer."
Begg, 37, foi extraditado a pedido do governo britânico, que o interrogou e o liberou em seguida
quando ele voltou ao país, em janeiro.
Desamparo
Para ele, que está escrevendo
um livro sobre sua história, a sensação de desamparo dos prisioneiros é algo mais cruel que a tortura.
"Não ter direito à defesa nem a
ser ouvido é pior do que ser chutado na cabeça, é pior do que levar
choques nos testículos", afirmou
Begg, cujo pai, Azmat Begg, fundou o partido Paz e Progresso
após lutar durante três anos pela
sua libertação.
(FV)
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