São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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AL corre para salvar acordos com EUA

Medo de protecionismo provoca peregrinação a Washington após vitória democrata nas eleições legislativas americanas

Está em jogo a aprovação de tratados de livre comércio com Peru e Colômbia, além de prorrogação de lei de preferências para andinos

Mauricio Lima - 10.nov.2006/France Presse
García no Brasil; ele despachará sete ministros a Washington


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

A recente vitória democrata nas eleições parlamentares norte-americanas e a aproximação do fim da vigência de uma lei de preferências comerciais têm provocado uma avalanche de missões de países andinos a Washington. Uns estão mais preocupados com o enorme impacto econômico na região caso o incentivo não seja renovado; outros temem que o futuro Congresso oposicionista jogue por terra acordos comerciais duramente negociados.
Ironicamente, os casos mais dramáticos envolvem os principais aliados de Washington na América do Sul. Peru e a Colômbia terminaram neste ano longas negociações dos chamados Tratados de Livre Comércio (TLCs) e agora pressionam o governo americano e tentam convencer líderes do Congresso para que votem os acordos ainda até o fim do ano. Antes, portanto, que o Legislativo passe a ser controlado pelos democratas, que já se declararam contrários aos tratados comerciais tais como estão.
As dificuldades em aprovar o TLC em um Congresso democrata ficaram claras no início da semana passada, quando o presidente colombiano, Álvaro Uribe, principal aliado do presidente George W. Bush na região, fez uma visita frustrante a Washington motivada pelo susto da vitória democrata.
Na saída do encontro com Uribe, o democrata Charles Rangel, que deve assumir o comitê na Câmara que analisa os TLCs, defendeu que o tema deveria ser "revisado" pelo novo Congresso. "Tudo é possível."
Se ratificado, o TLC com a Colômbia removeria permanentemente tarifas de US$ 14,3 bilhões do comércio bilateral, com a balança historicamente favorável ao país andino. Uribe disse em Washington que o TLC criaria 380 mil empregos em seu país nos próximos anos.
O governo peruano também vem fazendo uma forte mobilização. Prevendo um cenário difícil caso o TLC não seja aprovado neste ano, o presidente Alan García disse na quinta-feira que ligará para Bush "não uma, mas muitas vezes", para que ele envie logo o acordo ao Congresso. O peruano despachará ainda a Washington uma comitiva de sete ministros no início de dezembro para tentar impulsionar o processo.
A pressa peruana tem bons motivos. Alguns parlamentares democratas já disseram que não concordam com os termos atuais do TLC. Alegam que fecharão postos de trabalho nos EUA e defendem exigências trabalhistas mais duras dentro do acordo bilateral.
Assim como no caso da Colômbia, os EUA são os principais parceiros comerciais do Peru. No ano passado, os americanos compraram 30,9% das exportações do país.
Além da posse dos democratas, peruanos e colombianos estão preocupados com o fim do chamado "fast track", pelo qual o Congresso dá mais poderes ao Executivo para negociar acordos comerciais. Essa autorização, que limita o Congresso a somente aprovar ou rejeitar acordos comerciais, sem modificá-los, dificilmente será renovada pelos democratas, segundo analistas econômicos.
As chances de o acordo com o Peru ser ratificado pelo Congresso são um pouco maiores, já que foi assinado em abril. No caso da Colômbia, a assinatura será somente nesta quarta.
Em declarações ao longo da semana, porta-vozes do governo americano prometeram se esforçar para que os TLCs sejam ratificados ainda neste ano pelo Congresso, embora Bush não tenha submetido até agora o acordo com o Peru.

Bolívia e Equador
Sem negociações de livre comércio em curso e diplomaticamente mais distantes de Washington, a Bolívia e o Equador estão mais otimistas com seu principal objetivo comercial com os EUA, a renovação da ATPDEA (Lei de Promoção Comercial Andina e Erradicação das Drogas). A medida tem dado ingresso livre a uma lista de mercadorias produzidas nesses dois países, além da Colômbia e do Peru, e expira no fim do ano.
O governo Bush já disse que voltará a pedir a prorrogação a todos os quatro países, e os democratas têm sinalizado que não se oporão. Para Equador e Bolívia, que também peregrinaram a Washington, será uma grande vitória. Para Peru e Colômbia, apenas um consolo.


Com agências internacionais


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