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Política regional de Washington vive mudanças
NEWTON CARLOS
Há sintomas de que o
governo George W. Bush
prepara mudanças em sua
política latino-americana
com a disposição de recuperar a influência perdida.
Um memorando de Bush à
secretária de Estado, Condoleezza Rice, confirma
que será levantada a proibição de ter acordos de
cooperação militar com
onze países do continente
que se recusaram a dar
imunidade a tropas americanas em eventuais processos no Tribunal Penal
Internacional. Os EUA
não reconhecem o TPI e
nem permitem que seus
soldados sejam submetidos a juízes estrangeiros.
Recuo significativo, portanto.
Washington está de
olho inclusive em movimentos da China. Um porta-voz do Comando Sul,
José Ruiz, pede atenção
para o fato de que os chineses "têm se aproximado
de cada país em área sob
nossa responsabilidade",
em busca de relações militares. Há outras novidades
importantes e até mudança de jargões, como a decisão de conviver em paz
com "esquerdas responsáveis", talvez deixando de
lado o depreciativo "populistas de esquerda". A guinada envolve, no momento, sobretudo a Nicarágua.
Os EUA intervieram a
fundo nas eleições nicaragüenses, procurando evitar o triunfo de Daniel Ortega, da Frente Sandinista
de Libertação Nacional,
personagem central de velhas rivalidades que resultaram em guerra nos anos
80. No dia da votação, o
Departamento de Estado
colocou em campo, além
do embaixador Paul Trivelli, mais 48 observadores.
Não faltaram intimidações. O secretário do Comércio, Carlos Gutierrez,
ameaçou o corte de ajuda.
Rice procurou contrapor-se às críticas dizendo
que só queria que o processo fosse "livre, justo e
transparente". A guinada
se deu com Ortega eleito.
Seu principal adversário,
Eduardo Montealegre, colocou-se à disposição do
vencedor. De Washington
partiu nova retórica. Um
porta-voz do Departamento de Estado saudou
"cautelosamente" a vitória
de Ortega, acrescentando
que os EUA pretendem estabelecer "relações positivas" com o novo governo.
Mas já surgem sinais de
que permanecem os velhos hábitos protecionistas de democratas guardiães de interesse sindicais, com a revisão dos
acordos de livre comércio
com Peru e Colômbia.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais
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