São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Política regional de Washington vive mudanças

NEWTON CARLOS

Há sintomas de que o governo George W. Bush prepara mudanças em sua política latino-americana com a disposição de recuperar a influência perdida. Um memorando de Bush à secretária de Estado, Condoleezza Rice, confirma que será levantada a proibição de ter acordos de cooperação militar com onze países do continente que se recusaram a dar imunidade a tropas americanas em eventuais processos no Tribunal Penal Internacional. Os EUA não reconhecem o TPI e nem permitem que seus soldados sejam submetidos a juízes estrangeiros. Recuo significativo, portanto.
Washington está de olho inclusive em movimentos da China. Um porta-voz do Comando Sul, José Ruiz, pede atenção para o fato de que os chineses "têm se aproximado de cada país em área sob nossa responsabilidade", em busca de relações militares. Há outras novidades importantes e até mudança de jargões, como a decisão de conviver em paz com "esquerdas responsáveis", talvez deixando de lado o depreciativo "populistas de esquerda". A guinada envolve, no momento, sobretudo a Nicarágua.
Os EUA intervieram a fundo nas eleições nicaragüenses, procurando evitar o triunfo de Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional, personagem central de velhas rivalidades que resultaram em guerra nos anos 80. No dia da votação, o Departamento de Estado colocou em campo, além do embaixador Paul Trivelli, mais 48 observadores. Não faltaram intimidações. O secretário do Comércio, Carlos Gutierrez, ameaçou o corte de ajuda.
Rice procurou contrapor-se às críticas dizendo que só queria que o processo fosse "livre, justo e transparente". A guinada se deu com Ortega eleito. Seu principal adversário, Eduardo Montealegre, colocou-se à disposição do vencedor. De Washington partiu nova retórica. Um porta-voz do Departamento de Estado saudou "cautelosamente" a vitória de Ortega, acrescentando que os EUA pretendem estabelecer "relações positivas" com o novo governo.
Mas já surgem sinais de que permanecem os velhos hábitos protecionistas de democratas guardiães de interesse sindicais, com a revisão dos acordos de livre comércio com Peru e Colômbia.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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