São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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ARTIGO

Bush deve pedir reforço no Iraque

ROBERT KAGAN
WILLIAM KRISTOL

DO "FINANCIAL TIMES"

Ainda restam mais de dois anos de mandato para o presidente George W. Bush. A questão mais importante com que ele se confronta é: que tipo de Iraque vai legar a seu sucessor? Será um caos em metástase largado na soleira da porta do próximo presidente, ou um Iraque a caminho da estabilidade?
Existem, é claro, outras questões graves que vão consumir a administração Bush nos próximos dois anos: a necessidade contínua de defender os americanos contra ameaças terroristas; os esforços do Irã para dotar-se de armas nucleares; a contenção e o enfraquecimento da Coréia do Norte nuclearizada; a Rússia, cada vez mais beligerante, e os desafios múltiplos colocados pela ascensão da China. Mas o fato continua a ser que Bush (corretamente, a nosso ver) conduziu o país à guerra para afastar Saddam Hussein do poder, e o êxito ou fracasso dessa guerra será o mais importante de seu legado.
A trajetória seguida vem sendo declinante, em direção ao fracasso. O Pentágono decidiu enviar um número de tropas ao Iraque insuficiente para estabilizar o país. O ciclo interminável de reduções nas forças, deterioração da segurança e cancelamento das reduções propostas vem sendo politicamente desastroso, tanto para o Iraque quanto para os EUA.
No Iraque, a política dos EUA vem levando a população a não acreditar que os EUA têm a disposição ou a capacidade de fornecer a segurança de que os iraquianos precisam. Por isso, estes se voltaram a seus próprios grupos sectários armados, em busca de proteção.
Essa política vem tendo efeitos igualmente nocivos nos EUA. A população americana avalia, com razão, que a administração está atolada no Iraque, e, o que é pior, não está comprometida em fazer o que é preciso para obter êxito. Essa percepção sem dúvida exerceu papel importante na eleição legislativa do dia 7.
Agora, muitos americanos esperam que o Grupo de Estudo do Iraque, a comissão chefiada por James Baker e Lee Hamilton, ofereça uma maneira bipartidária de se chegar a uma retirada do Iraque no menor prazo possível e sem causar vergonha aos EUA. A grande ironia é que, sem nada de novo a oferecer, o relatório que deve sair da comissão Baker, se assumir a forma prevista, terá o mesmo destino de esforços passados semelhantes.
Existe uma teoria popular segundo a qual a perspectiva de retirada dos EUA vai forçar os iraquianos a chegarem a um acordo entre eles. Isso seria mais plausível se já não tivesse sido desmentido por três anos de experiência dolorosa.
Em lugar de buscar uma maneira de perder no Iraque sem perder a compostura, o presidente Bush poderia finalmente encomendar a seus assessores uma estratégia para ganhar: fornecer os níveis de força americanos necessários para atingir objetivos políticos mínimos.
Isso poderia começar com um acréscimo de pelo menos 50 mil soldados americanos no Iraque, para exercer o controle sobre Bagdá sem que seja preciso deslocar tropas para outras partes do país. Essa estratégia não estabilizaria o país de imediato, mas poderia garantir a segurança do centro vital do Iraque, oferecendo esperança de avanços.
O presidente tem dois anos para promover uma virada e deixar um Iraque viável para seu sucessor. Já deve ter ficado claro que "seguir adiante" no rumo atual constitui uma receita de fracasso. O mesmo se aplica às estratégias de saída politicamente motivadas. Restam duas opções ao presidente: desistir, ou fazer o que é necessário para ter êxito. Confiamos em que ele compreenda que a tarefa que lhe cabe no Iraque é encontrar uma estratégia para o êxito.


ROBERT KAGAN é autor de "Dangerous Nation" e editor colaborador da "Weekly Standard"


WILLIAM KRISTOL é editor da "Weekly Standard"


Tradução de CLARA ALLAIN


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