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ARTIGO
Bush deve pedir reforço no Iraque
ROBERT KAGAN
WILLIAM KRISTOL
DO "FINANCIAL TIMES"
Ainda restam mais de dois
anos de mandato para o presidente George W. Bush. A questão mais importante com que
ele se confronta é: que tipo de
Iraque vai legar a seu sucessor?
Será um caos em metástase largado na soleira da porta do próximo presidente, ou um Iraque
a caminho da estabilidade?
Existem, é claro, outras questões graves que vão consumir a
administração Bush nos próximos dois anos: a necessidade
contínua de defender os americanos contra ameaças terroristas; os esforços do Irã para dotar-se de armas nucleares; a
contenção e o enfraquecimento da Coréia do Norte nuclearizada; a Rússia, cada vez mais
beligerante, e os desafios múltiplos colocados pela ascensão da
China. Mas o fato continua a
ser que Bush (corretamente, a
nosso ver) conduziu o país à
guerra para afastar Saddam
Hussein do poder, e o êxito ou
fracasso dessa guerra será o
mais importante de seu legado.
A trajetória seguida vem sendo declinante, em direção ao
fracasso. O Pentágono decidiu
enviar um número de tropas ao
Iraque insuficiente para estabilizar o país. O ciclo interminável de reduções nas forças, deterioração da segurança e cancelamento das reduções propostas vem sendo politicamente desastroso, tanto para o Iraque quanto para os EUA.
No Iraque, a política dos EUA
vem levando a população a não
acreditar que os EUA têm a disposição ou a capacidade de fornecer a segurança de que os iraquianos precisam. Por isso, estes se voltaram a seus próprios
grupos sectários armados, em
busca de proteção.
Essa política vem tendo efeitos igualmente nocivos nos
EUA. A população americana
avalia, com razão, que a administração está atolada no Iraque, e, o que é pior, não está
comprometida em fazer o que é
preciso para obter êxito. Essa
percepção sem dúvida exerceu
papel importante na eleição legislativa do dia 7.
Agora, muitos americanos
esperam que o Grupo de Estudo do Iraque, a comissão chefiada por James Baker e Lee
Hamilton, ofereça uma maneira bipartidária de se chegar a
uma retirada do Iraque no menor prazo possível e sem causar
vergonha aos EUA. A grande
ironia é que, sem nada de novo
a oferecer, o relatório que deve
sair da comissão Baker, se assumir a forma prevista, terá o
mesmo destino de esforços
passados semelhantes.
Existe uma teoria popular segundo a qual a perspectiva de
retirada dos EUA vai forçar os
iraquianos a chegarem a um
acordo entre eles. Isso seria
mais plausível se já não tivesse
sido desmentido por três anos
de experiência dolorosa.
Em lugar de buscar uma maneira de perder no Iraque sem
perder a compostura, o presidente Bush poderia finalmente
encomendar a seus assessores
uma estratégia para ganhar:
fornecer os níveis de força americanos necessários para atingir objetivos políticos mínimos.
Isso poderia começar com
um acréscimo de pelo menos
50 mil soldados americanos no
Iraque, para exercer o controle
sobre Bagdá sem que seja preciso deslocar tropas para outras
partes do país. Essa estratégia
não estabilizaria o país de imediato, mas poderia garantir a
segurança do centro vital do
Iraque, oferecendo esperança
de avanços.
O presidente tem dois anos
para promover uma virada e
deixar um Iraque viável para
seu sucessor. Já deve ter ficado
claro que "seguir adiante" no
rumo atual constitui uma receita de fracasso. O mesmo se
aplica às estratégias de saída
politicamente motivadas. Restam duas opções ao presidente:
desistir, ou fazer o que é necessário para ter êxito. Confiamos
em que ele compreenda que a
tarefa que lhe cabe no Iraque é
encontrar uma estratégia para
o êxito.
ROBERT KAGAN é autor de "Dangerous Nation" e editor colaborador da "Weekly Standard"
WILLIAM KRISTOL é editor da "Weekly Standard"
Tradução de CLARA ALLAIN
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