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ONGs entram na mira de Lima e Caracas
Projetos de lei em discussão nos Congressos ampliam controles estatais sobre a atuação e o financiamento dessas organizações
Para entidades, iniciativas são totalitárias e facilitam ingerência política; para governos, setor precisa ser regulado e prestar contas
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Peru e Venezuela estão discutindo dois projetos de leis
que aumentam o controle estatal sobre as atividades das
ONGs, em iniciativas qualificadas por esses grupos e pela imprensa local de totalitárias e intervencionistas, mas defendidas pelos governos como uma
forma de regulação do setor.
As propostas criam mecanismos para o controle não apenas
das verbas que as ONGs recebem do Estado, mas também as
de cooperação internacional
-ou seja, financiamento de governos estrangeiros, agências
de desenvolvimento e doadores
privados estrangeiros. O temor
das organizações é que esse
controle seja exercido com base em critérios políticos.
No Peru, o projeto de lei já
passou por duas votações pelo
Congresso, que é unicameral.
Nesta semana, destaques ao
texto devem ser votados e, caso
aprovados, o projeto vai à sanção do presidente Alan García.
A proposta determina que o
recebimento de qualquer tipo
de financiamento fique condicionado ao registro da ONG na
Agência Peruana de Cooperação Internacional (APCI) -um
órgão governamental cujo conselho diretivo inclui ministros
de Estado e representantes de
governos regionais e locais.
Outro ponto polêmico é que
o projeto prevê a necessidade
de "harmonizar" as atividades
das ONGs, sejam elas financiadas pelo Estado ou privadamente, "em função da política
nacional de desenvolvimento e
o interesse público".
"Isso dá muito poder à administração pública", disse Ernesto Aguinaga, advogado da Coordenadora Nacional de Direitos
Humanos peruana. "Se o governo determina, por exemplo,
que é prioritário para o desenvolvimento da nação promover
a exploração da mineração, pode dizer que não é harmônico
com essa necessidade que uma
ONG receba fundos para promover o desenvolvimento ambiental nas zonas mineiras."
Pela lei, podem ser punidas
ONGs que façam "uso indevido" dos recursos transferidos
por doadores internacionais ou
que "alterem a ordem pública
ou prejudiquem a propriedade
pública ou privada".
"A existência de normas tão
vagas é um convite claro à manipulação política e ao abuso",
escreveu o diretor-executivo da
Human Rights Watch, José Miguel Vivanco, em carta enviada
ao presidente García.
Questionado pela Folha
quando esteve no Brasil há
uma semana, García defendeu
que as ONGs prestem contas.
"Há ONGs ou associações
que pedem que o Estado lhes
isente de impostos. O Estado
tem de verificar que uso elas fazem desse dinheiro porque estão sendo perdoadas dos impostos que pagam todos os peruanos. Há outras que não pedem para serem exoneradas de
impostos e, segundo meu conceito, têm absoluta liberdade
de expressão, participação e associação. Mas dentro da lei",
disse o presidente.
"Se você recebe dinheiro do
exterior, temos de saber de
quem é. Não para participar de
suas atividades. Se é lavagem
de dinheiro, se é de um país que
não quer que exploremos o ouro e o cobre, temos de saber",
acrescentou.
Fundo
Na Venezuela, a votação do
projeto acabou parando na Assembléia Nacional em meio à
campanha para as eleições presidenciais -em 3 de dezembro,
o presidente Hugo Chávez tenta a reeleição.
A medida vai mais longe na
questão do financiamento ao
criar um fundo manejado pelo
Executivo e que vai se encarregar de receber todos os recursos, inclusive os de fontes internacionais, e então decidir a que
entidades repassar e quanto.
Como no caso peruano, esse
projeto prevê que as atividades
das ONGs sejam "harmonizadas" com os "planos nacionais"
de desenvolvimento.
Ele dispõe também a obrigatoriedade de registro, com a diferença de que, além das ONGs,
também terão de se inscrever
sindicatos, universidades e empresas que estejam envolvidas
em atividades de cooperação
internacional, para que sejam
reconhecidos pelo Estado.
"Isso rompe com tratados e
convênios internacionais firmados pela Venezuela que dizem que ONGs e sindicatos não
precisam do aval do Poder Executivo para ter personalidade
jurídica", disse Yohan Manuel
Perez, advogado da Súmate, um
dos principais grupos opositores a Chávez, que recebeu financiamento do governo americano -segundo o presidente,
para desestabilizar seu governo. "Isso se soma ao ambiente
político de discriminação no
país entre aqueles que apóiam
ou não o governo, criando um
temor à participação cidadã livre."
Colaborou FABIANO MAISONNAVE , da Reportagem Local
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