São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Foco

Movimento quer resgatar a história dos judeus de países árabes

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de 8.000 judeus vivem em todos os países árabes juntos atualmente. Mas, esse número já chegou a 856 mil, em 1948. O êxodo desses judeus rumo a Israel produziu uma história bem menos conhecida que a dos refugiados que partiram da Europa.
Em visita ao Brasil na semana passada, o diretor-executivo do movimento "Justiça para judeus dos países árabes", Stanley Urman, disse à Folha que o grupo não busca indenização financeira.
"Não queremos dinheiro e os judeus não querem voltar para esses países onde foram perseguidos. Mas recuperar essa história é uma maneira de provar que os dois povos já puderam conviver, é nossa maneira de lutar pela paz."
Eles criaram um banco de dados na internet para as pessoas contarem suas histórias (www.justiceforjews.com) - apenas 30% desses refugiados ainda estão vivos. Dois terços deles foram para Israel. Hoje, 55% dos judeus israelenses são originários de países árabes, onde algumas comunidades viveram nessas regiões por 2.500 anos.
O líder do movimento nega que a campanha seja uma maneira de relativizar o drama sem resposta dos refugiados palestinos, ou um instrumento de barganha do governo de Israel.
"Somos um movimento criado pela diáspora judaica. Não queremos que um só lado seja conhecido. Há cem resoluções da ONU sobre os refugiados palestinos e nenhuma sobre os judeus", diz Urman.
"Em todas as guerras na região, os judeus tiveram que fugir ou se esconder, sinagogas foram queimadas. Não podemos esquecê-los."

Patrimônio ameaçado
Entre as demandas do movimento, está a proteção e o reconhecimento dos cemitérios judaicos em cidades árabes, assim como dos remanescentes da presença judaica.
Há 13 cemitérios judaicos em Bagdá, onde 40% da população era formada por judeus em 1880. Hoje, há 20 judeus em Bagdá. Em Trípoli, na Líbia, o hotel Constantinopla foi construído sobre um antigo cemitério judaico.
"No Egito, há muitas peças de arte, documentos que contam nossa presença lá. Queríamos que as sinagogas do Cairo e de Alexandria se transformassem em museus que contassem essa história", diz.

Paz e anos 60
Apesar de o movimento ter sido endossado e elogiado pelo governo israelense no mês passado, Urman diz que não participa da política do país.
Questionado se não existe diferença entre os refugiados israelenses, todas já bem integrados em Israel, e os palestinos, que ainda moram em campos de refugiados e são tratados como cidadãos de segunda classe no exílio, Urman admite que "a situação dos refugiados palestinos é terrível, uma tragédia".
Urman diz considerar um absurdo que, ao contrário de outros refugiados, os palestinos não tenham sido reassentados e reabilitados pela comunidade internacional. "Eles ainda são usados como arma de barganha contra Israel."
Com exceção da Jordânia, nenhum outro dá cidadania aos refugiados. "Por que os árabes não ajudam seus irmãos?", pergunta. Judeu de família canadense, Urman se diz um "filho dos anos 60, da oposição à Guerra do Vietnã, a favor dos direitos humanos".
Ele foi membro do Centro para a Paz no Oriente Médio, em Washington, composto por judeus, árabes, mórmons e cristãos. Esteve três anos trabalhando com refugiados palestinos - até que ouviu uma "cobrança": "Por que você também não se ocupa da história dos refugiados judeus?".
Foi quando ele começou o "Justiça", sem esquecer, diz, dos refugiados palestinos. "Não haverá paz se o drama dos palestinos não for resolvido. Para a paz ser duradoura, os dois lados têm que ser vencedores, ou continuarão lutando para sempre."


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