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Foco
Movimento quer resgatar a história dos judeus de países árabes
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Menos de 8.000 judeus vivem em todos os países árabes
juntos atualmente. Mas, esse
número já chegou a 856 mil,
em 1948. O êxodo desses judeus rumo a Israel produziu
uma história bem menos conhecida que a dos refugiados
que partiram da Europa.
Em visita ao Brasil na semana passada, o diretor-executivo do movimento "Justiça para judeus dos países árabes",
Stanley Urman, disse à Folha
que o grupo não busca indenização financeira.
"Não queremos dinheiro e
os judeus não querem voltar
para esses países onde foram
perseguidos. Mas recuperar
essa história é uma maneira
de provar que os dois povos já
puderam conviver, é nossa
maneira de lutar pela paz."
Eles criaram um banco de
dados na internet para as pessoas contarem suas histórias
(www.justiceforjews.com) -
apenas 30% desses refugiados
ainda estão vivos. Dois terços
deles foram para Israel. Hoje,
55% dos judeus israelenses
são originários de países árabes, onde algumas comunidades viveram nessas regiões
por 2.500 anos.
O líder do movimento nega
que a campanha seja uma maneira de relativizar o drama
sem resposta dos refugiados
palestinos, ou um instrumento de barganha do governo de
Israel.
"Somos um movimento
criado pela diáspora judaica.
Não queremos que um só lado
seja conhecido. Há cem resoluções da ONU sobre os refugiados palestinos e nenhuma
sobre os judeus", diz Urman.
"Em todas as guerras na região, os judeus tiveram que fugir ou se esconder, sinagogas
foram queimadas. Não podemos esquecê-los."
Patrimônio ameaçado
Entre as demandas do movimento, está a proteção e o reconhecimento dos cemitérios
judaicos em cidades árabes,
assim como dos remanescentes da presença judaica.
Há 13 cemitérios judaicos
em Bagdá, onde 40% da população era formada por judeus
em 1880. Hoje, há 20 judeus
em Bagdá. Em Trípoli, na Líbia, o hotel Constantinopla foi
construído sobre um antigo
cemitério judaico.
"No Egito, há muitas peças
de arte, documentos que contam nossa presença lá. Queríamos que as sinagogas do Cairo
e de Alexandria se transformassem em museus que contassem essa história", diz.
Paz e anos 60
Apesar de o movimento ter
sido endossado e elogiado pelo
governo israelense no mês
passado, Urman diz que não
participa da política do país.
Questionado se não existe
diferença entre os refugiados
israelenses, todas já bem integrados em Israel, e os palestinos, que ainda moram em
campos de refugiados e são
tratados como cidadãos de segunda classe no exílio, Urman
admite que "a situação dos refugiados palestinos é terrível,
uma tragédia".
Urman diz considerar um
absurdo que, ao contrário de
outros refugiados, os palestinos não tenham sido reassentados e reabilitados pela comunidade internacional.
"Eles ainda são usados como
arma de barganha contra Israel."
Com exceção da Jordânia,
nenhum outro dá cidadania
aos refugiados. "Por que os
árabes não ajudam seus irmãos?", pergunta. Judeu de
família canadense, Urman se
diz um "filho dos anos 60, da
oposição à Guerra do Vietnã, a
favor dos direitos humanos".
Ele foi membro do Centro
para a Paz no Oriente Médio,
em Washington, composto
por judeus, árabes, mórmons e
cristãos. Esteve três anos trabalhando com refugiados palestinos - até que ouviu uma
"cobrança": "Por que você
também não se ocupa da história dos refugiados judeus?".
Foi quando ele começou o
"Justiça", sem esquecer, diz,
dos refugiados palestinos.
"Não haverá paz se o drama
dos palestinos não for resolvido. Para a paz ser duradoura,
os dois lados têm que ser vencedores, ou continuarão lutando para sempre."
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