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Violência cresce e chega à capital do Haiti
Haitianos apedrejam patrulha da ONU por supostamente transmitir cólera; Brasil comanda segurança na cidade
Doença matou mais de
1.110 pessoas e infectou
outras 18 mil; governo e
ONU atribuem distúrbio
às eleições do dia 28
Emilio Morenatti/Associated Press
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Manifestante coloca fogo em pneus durante protesto na capital do Haiti, Porto Príncipe, contra as atividades da Minustah, a missão da ONU no país
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
A onda de protestos contra
a Minustah (a missão da ONU
no Haiti) promovida nesta semana por manifestantes que
atribuem a seus membros a
epidemia de cólera que afeta
o país chegou ontem pela primeira vez a Porto Príncipe.
A segurança da capital do
Haiti é em grande parte comandada pelo batalhão brasileiro da missão, que mantém 2.200 homens no país.
Segundo relatos, uma patrulha da ONU foi apedrejada
em meio a protestos na capital realizados por centenas
de haitianos entoando gritos
de "fora Minustah" e "Minustah trouxe a cólera ao Haiti".
Manifestantes tentaram
ainda bloquear ruas com pedras e entulhos. A polícia utilizou gás lacrimogêneo para
dispersar os manifestantes.
Outras pessoas aproveitaram o feriado nacional de ontem para protestar em frente
ao Ministério da Saúde.
Os protestos tiveram início
no fim de semana no norte do
país, o epicentro da epidemia
de cólera que já matou mais
de 1.110 pessoas e infectou
outras 18 mil. Pelo menos
dois haitianos morreram durante confrontos e seis capacetes azuis foram feridos.
A fúria contra a missão,
que está desde 2004 no país,
foi motivada por relatos de
que a bactéria causadora da
doença foi levada ao país pelos capacetes azuis da Minustah que vieram do Nepal.
Ontem, no entanto, a ONU
disse que não há evidências
de que o Vibrio cholerae que
circula no país tenha sido trazido por militares da missão.
Segundo a organização, a
bactéria causadora da epidemia no Haiti é encontrada em
várias partes da região sul da
Ásia, não apenas no Nepal.
No norte haitiano, sobretudo na cidade de Cap-Haitian, os protestos prejudicaram seriamente os esforços
da ONU e de outras organizações presentes no país para
tratar dos atingidos e conter
o alastramento da epidemia.
O aeroporto de Cap-Haitian está fechado desde a última segunda-feira, impedindo a chegada de medicamentos e de pessoal para atendimento médico. Estradas estão interrompidas por barricadas, algumas em chamas,
e ainda por manifestantes.
"Como nós vamos responder à epidemia de cólera no
meio disso? Você não pode
controlar a epidemia se não
há segurança e se não é possível chegar às pessoas", disse à agência de notícias Reuters um funcionário de um
órgão humanitário no país.
O presidente haitiano, René Préval, e o comando da
Minustah já tiveram de ir a
público exortar a população
a manter a calma, até ontem,
no entanto, sem sucesso.
A ONU suspeita ainda que
Guy Philippe, o chefe da milícia que em 2004 tomou o norte do país e precipitou a queda do então presidente Jean
Bertrand Aristide, esteja envolvido na onda de protestos.
ELEIÇÕES
A ONU atribui os protestos
ainda a grupos, assim como
Philippe, interessados em tumultuar a realização das eleições do próximo dia 28, em
que serão escolhidos, além
do sucessor de Préval, os 99
membros do Parlamento e 11
dos 33 membros do Senado.
O pleito, que deveria ter sido realizado em fevereiro, foi
adiado devido ao devastador
terremoto que atingiu o país
um mês antes, matando mais
de 250 mil pessoas e deixando 1 milhão de desabrigados.
As condições precárias
dos campos de desabrigados
montados agravam a epidemia de cólera. Até agora, 6
das 10 províncias do país registraram casos da doença.
Segundo a Organização
Panamericana da Saúde, os
mortos pela cólera deverão
chegar a 10 mil em 12 meses.
Já foram confirmados ao
menos um caso da doença
nos EUA (no Estado da Flórida) e na vizinha República
Dominicana -que investiga
um segundo caso suspeito.
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