São Paulo, sexta-feira, 19 de novembro de 2010

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Violência cresce e chega à capital do Haiti

Haitianos apedrejam patrulha da ONU por supostamente transmitir cólera; Brasil comanda segurança na cidade

Doença matou mais de 1.110 pessoas e infectou outras 18 mil; governo e ONU atribuem distúrbio às eleições do dia 28

Emilio Morenatti/Associated Press
Manifestante coloca fogo em pneus durante protesto na capital do Haiti, Porto Príncipe, contra as atividades da Minustah, a missão da ONU no país

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

A onda de protestos contra a Minustah (a missão da ONU no Haiti) promovida nesta semana por manifestantes que atribuem a seus membros a epidemia de cólera que afeta o país chegou ontem pela primeira vez a Porto Príncipe.
A segurança da capital do Haiti é em grande parte comandada pelo batalhão brasileiro da missão, que mantém 2.200 homens no país.
Segundo relatos, uma patrulha da ONU foi apedrejada em meio a protestos na capital realizados por centenas de haitianos entoando gritos de "fora Minustah" e "Minustah trouxe a cólera ao Haiti".
Manifestantes tentaram ainda bloquear ruas com pedras e entulhos. A polícia utilizou gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Outras pessoas aproveitaram o feriado nacional de ontem para protestar em frente ao Ministério da Saúde.
Os protestos tiveram início no fim de semana no norte do país, o epicentro da epidemia de cólera que já matou mais de 1.110 pessoas e infectou outras 18 mil. Pelo menos dois haitianos morreram durante confrontos e seis capacetes azuis foram feridos.
A fúria contra a missão, que está desde 2004 no país, foi motivada por relatos de que a bactéria causadora da doença foi levada ao país pelos capacetes azuis da Minustah que vieram do Nepal.
Ontem, no entanto, a ONU disse que não há evidências de que o Vibrio cholerae que circula no país tenha sido trazido por militares da missão.
Segundo a organização, a bactéria causadora da epidemia no Haiti é encontrada em várias partes da região sul da Ásia, não apenas no Nepal.
No norte haitiano, sobretudo na cidade de Cap-Haitian, os protestos prejudicaram seriamente os esforços da ONU e de outras organizações presentes no país para tratar dos atingidos e conter o alastramento da epidemia.
O aeroporto de Cap-Haitian está fechado desde a última segunda-feira, impedindo a chegada de medicamentos e de pessoal para atendimento médico. Estradas estão interrompidas por barricadas, algumas em chamas, e ainda por manifestantes.
"Como nós vamos responder à epidemia de cólera no meio disso? Você não pode controlar a epidemia se não há segurança e se não é possível chegar às pessoas", disse à agência de notícias Reuters um funcionário de um órgão humanitário no país.
O presidente haitiano, René Préval, e o comando da Minustah já tiveram de ir a público exortar a população a manter a calma, até ontem, no entanto, sem sucesso.
A ONU suspeita ainda que Guy Philippe, o chefe da milícia que em 2004 tomou o norte do país e precipitou a queda do então presidente Jean Bertrand Aristide, esteja envolvido na onda de protestos.

ELEIÇÕES
A ONU atribui os protestos ainda a grupos, assim como Philippe, interessados em tumultuar a realização das eleições do próximo dia 28, em que serão escolhidos, além do sucessor de Préval, os 99 membros do Parlamento e 11 dos 33 membros do Senado.
O pleito, que deveria ter sido realizado em fevereiro, foi adiado devido ao devastador terremoto que atingiu o país um mês antes, matando mais de 250 mil pessoas e deixando 1 milhão de desabrigados.
As condições precárias dos campos de desabrigados montados agravam a epidemia de cólera. Até agora, 6 das 10 províncias do país registraram casos da doença.
Segundo a Organização Panamericana da Saúde, os mortos pela cólera deverão chegar a 10 mil em 12 meses.
Já foram confirmados ao menos um caso da doença nos EUA (no Estado da Flórida) e na vizinha República Dominicana -que investiga um segundo caso suspeito.


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