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Missão do Brasil redobra cuidados com transmissão
AMARO GRASSI
DE SÃO PAULO
O batalhão do Brasil na Minustah (missão da ONU no
Haiti) redobrou os cuidados
para evitar que algum dos
seus 2.200 soldados seja contaminado pela epidemia de
cólera que atinge o país.
Até ontem, nenhum caso
da doença -que matou mais
de 1.110 haitianos e infectou
outros 18 mil- foi registrado
entre brasileiros, que atuam
sobretudo na capital, Porto
Príncipe, e nos arredores.
O procedimento recomendado aos militares inclui medidas básicas de prevenção
da doença, como lavar mãos
e coturnos ao entrar no Brabatt (o Batalhão brasileiro) e
não ingerir alimentos ou bebidas fora da base militar.
A cólera é provocada pela
bactéria Vibrio cholerae, e o
seu contágio se dá pela ingestão de água ou alimentos
contaminados. A transmissão pode ocorrer pelas fezes
ou vômitos de doente ou simples portadores da bactéria.
Alimentos podem ser contaminados por água, manuseio ou mesmo por moscas, e
a orientação padrão é de que,
em locais com casos da doença, os alimentos sejam sempre cozidos e a água fervida.
Os sintomas são diarreia e
vômito, e o tratamento, a reidratação oral ou intravenosa.
Embora apenas dois casos
tenham sido confirmados fora do Haiti, a expectativa é de
que novas ocorrências sejam
registradas nas próximas semanas e meses no exterior.
"NOVO TERREMOTO"
Para o pesquisador Luciano Toledo, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, "não há dúvidas de que
a epidemia de cólera será um
novo terremoto do Haiti",
numa referência à catástrofe
que deixou mais de 250 mil
pessoas mortas em janeiro.
"Espera-se que nos próximos 30 a 60 dias a situação
ainda vá se agravar muito,
porque ainda não atingiu a
capital [com força]", disse o
pesquisador, que fez doutorado sobre a transmissão de
uma epidemia de cólera.
"Inexoravelmente, quando isso ocorrer, as consequências serão muito perversas." Segundo Toledo, o alastramento da doença pode ser
comparado a um "tsunami".
"Possivelmente vai haver
uma dispersão da cólera pelas Américas", disse. "Vai em
sentido centrífugo, como tsunami, que vai atingir necessariamente muitos países."
O pesquisador traça ainda
relação entre a transmissão
da doença com rotas do narcotráfico, que tem no Haiti
hoje importante entreposto.
Nesse sentido, afirma, os
locais mais afetados seriam
possivelmente países com
trânsito da droga, principalmente na América Central e a
divisa entre México e EUA.
BRASIL
Apesar da gravidade da situação, segundo Toledo, o
Brasil, se for atingido pela
doença, deverá sê-lo apenas
em focos localizados, sobretudo devido ao trânsito de
militares que integram a Minustah -portadores da bactéria sem sintomas também
podem transmitir a doença.
Mas as consequências deverão ser limitadas, uma vez
que as condições sanitárias
brasileiras -que são o principal vetor do alastramento da
epidemia- são muito superiores às haitianas.
O Brasil não registra casos
de cólera já há cinco anos.
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