São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2004

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Controvérsia marcou vida de sexólogo

DA CALIFÓRNIA

Na sala de leitura da biblioteca do Instituto Kinsey, uma carta escrita à mão, datada de 1935, chama a atenção, e não por sua caligrafia algo descuidada, inclinada à direita. É a resposta à carta de uma mãe, preocupada com o comportamento de seu filho.
"Eu concluo por sua carta que seu filho é homossexual. Mas o que mais me impressiona é o fato de você não mencionar isso nas informações que dá sobre ele. Posso perguntar o motivo? Ser homossexual certamente não é vantagem, mas não é algo para se envergonhar, não é um vício, não é uma degradação, não pode ser considerado uma doença."
Assinado: Sigmund Freud.
Talvez o escrito do austríaco resuma o mote da vida do sexólogo Alfred Kinsey. Um obsessivo (zoólogo de formação, chegou a catalogar centenas de milhares de vespas e lançar um livro a respeito), caiu por acaso no campo de estudo do comportamento sexual dos humanos e daí nunca mais saiu, para sua glória e desgraça.
Alfred Charles Kinsey nasceu em 1894, filho de um rígido pastor protestante. Estudou biologia e psicologia e se doutorou em zoologia em Harvard, antes de se transferir para a Universidade de Indiana como professor. Lá, conheceria sua mulher, Clara (1899-1982), com quem teria a primeira relação sexual.
Estimulado por estudantes, que queriam saber mais sobre sexo do que aprendiam nas aulas de higiene, e pela falta de informações científicas no setor, o casal formou uma equipe, elaborou um questionário que incluía 521 itens e saiu a campo para pesquisar.
Primeiro, o universo dos estudantes americanos (foram mais de 15 mil). Depois, qualquer grupo que aceitasse falar com eles ou com um de seus pesquisadores. Suas conclusões, hoje questionadas principalmente pelo método utilizado e pela amostragem, chocaram os EUA em dois livros, "Sexual Behavior in the Human Male" (1948) e "Sexual Behavior in the Human Female" (1953).
Além disso, o acadêmico foi criticado por estimular (e filmar) relações sexuais entre seus pesquisadores, ele próprio e sua mulher, e por não julgar seus pesquisados -um de seus entrevistados disse ter feito sexo com mais de 30 crianças; Kinsey nunca revelou sua identidade à polícia.
Morreu em 1956, em conseqüência do vício adquirido de tranqüilizantes, longe do prestígio adquirido no final da década anterior. Depois dele, fizeram sucesso estudos de Masters e Johnson e de Shere Hite. (SD)


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