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Controvérsia marcou vida de sexólogo
DA CALIFÓRNIA
Na sala de leitura da biblioteca
do Instituto Kinsey, uma carta escrita à mão, datada de 1935, chama a atenção, e não por sua caligrafia algo descuidada, inclinada
à direita. É a resposta à carta de
uma mãe, preocupada com o
comportamento de seu filho.
"Eu concluo por sua carta que
seu filho é homossexual. Mas o
que mais me impressiona é o fato
de você não mencionar isso nas
informações que dá sobre ele.
Posso perguntar o motivo? Ser
homossexual certamente não é
vantagem, mas não é algo para se
envergonhar, não é um vício, não
é uma degradação, não pode ser
considerado uma doença."
Assinado: Sigmund Freud.
Talvez o escrito do austríaco resuma o mote da vida do sexólogo
Alfred Kinsey. Um obsessivo
(zoólogo de formação, chegou a
catalogar centenas de milhares de
vespas e lançar um livro a respeito), caiu por acaso no campo de
estudo do comportamento sexual
dos humanos e daí nunca mais
saiu, para sua glória e desgraça.
Alfred Charles Kinsey nasceu
em 1894, filho de um rígido pastor
protestante. Estudou biologia e
psicologia e se doutorou em zoologia em Harvard, antes de se
transferir para a Universidade de
Indiana como professor. Lá, conheceria sua mulher, Clara (1899-1982), com quem teria a primeira
relação sexual.
Estimulado por estudantes, que
queriam saber mais sobre sexo do
que aprendiam nas aulas de higiene, e pela falta de informações
científicas no setor, o casal formou uma equipe, elaborou um
questionário que incluía 521 itens
e saiu a campo para pesquisar.
Primeiro, o universo dos estudantes americanos (foram mais
de 15 mil). Depois, qualquer grupo que aceitasse falar com eles ou
com um de seus pesquisadores.
Suas conclusões, hoje questionadas principalmente pelo método
utilizado e pela amostragem, chocaram os EUA em dois livros, "Sexual Behavior in the Human Male" (1948) e "Sexual Behavior in
the Human Female" (1953).
Além disso, o acadêmico foi criticado por estimular (e filmar) relações sexuais entre seus pesquisadores, ele próprio e sua mulher,
e por não julgar seus pesquisados
-um de seus entrevistados disse
ter feito sexo com mais de 30
crianças; Kinsey nunca revelou
sua identidade à polícia.
Morreu em 1956, em conseqüência do vício adquirido de
tranqüilizantes, longe do prestígio adquirido no final da década
anterior. Depois dele, fizeram sucesso estudos de Masters e Johnson e de Shere Hite.
(SD)
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