São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 2005

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Veto à circulação de veículos dificulta votação

Juan Karita/Associated Press
Com o veto à circulação de veículos motorizados, eleitores usaram bicicletas para se locomover


DO ENVIADO ESPECIAL A PALCA

A draconiana lei eleitoral boliviana, que proíbe a circulação de veículos no dia de votação e prevê punições aos que se abstêm, transforma o ato de ir às urnas numa dura tarefa para os eleitores da área rural, forçados a caminhar horas nas montanhas andinas.
A reportagem da Folha visitou o povoado aimará de Palca, a cerca de 70 km de La Paz, com um dos poucos táxis autorizados. Durante a viagem, numa estrada deserta cheia de curvas e precipícios, o carro foi parado cinco vezes pela polícia. A poucos quilômetros de Palca, localizado no fundo de um vale, um casal de agricultores andava pela estrada em direção ao centro de votação. Caminhariam um hora e meia até o povoado e quase o dobro do tempo para subir de volta. Luiz Quispe, 46, pai de seis filhos, disse que escolheria o socialista Evo Morales, mas que, se o voto não fosse obrigatório, teria ficado em casa. "Sem o papel de votação, não posso matricular meus filhos na escola nem tirar novos documentos", explicou.
Em seguida, sua mulher, Zeferina Zambi, 44, apontou sorrindo para o "táxi" dela -um burrinho que pastava ao lado- e solicitou uma carona. Pedido aceito, ela contou que que muitos idosos vão votar apenas para continuar recebendo o Bonosol -aposentadoria boliviana que paga aos pensionistas cerca de R$ 550 uma vez por ano aos maiores de 60 anos.
O voto na Bolívia não é obrigatório para quem tem mais de 65 anos, mas são comuns os casos de idosos que deixam de receber o Bonosol porque seu nome não aparece na lista de eleitores.
O centro de votação funcionou dentro da escola, diante de uma praça bem cuidada, ao lado da sede da polícia. No lado oposto, um comitê do partido de Morales, Movimento ao Socialismo estava de portas abertas, o que é ilegal.
Na porta da escola, Adela Apaza Mamani, 74, já com o dedo pintado de roxo, disse, em aimará, que veio "pela papeleta". De aparência frágil e os pés retorcidos indicando artrite, disse que saiu de casa às 7h50 da manhã e andou uma hora e meia para votar. Para voltar, mais duas horas.
O coordenador eleitoral de Palca, Evaristo Velazquez, explicou que a seção tem 1.370 eleitores, distribuídos em 22 comunidades, a mais longe a 25 km -em média, quatro horas de caminhada. Em dias normais, o transporte público na região é feito de forma esporádica por pequenas vans. Cerca de 40% da população vive na área rural. (FM)


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