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Chávez já controla 26,5% do setor bancário
Nas últimas semanas, Caracas expropriou 7 pequenos bancos em meio a escândalo de corrupção envolvendo ex-aliados de presidente
Analistas, entretanto, não creem em nacionalização total do setor, a despeito das ameaças retóricas do mandatário venezuelano
Daniel Caballero/Presidência da Bolívia/Reuters
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CHEIRO DE ENXOFRE
Hugo Chávez (em 1º plano) e o boliviano Evo Morales em Copenhague, onde participaram da cúpula do clima; repetindo crítica de 2006 feita a George W. Bush, Chávez disse ontem após discurso de Barack Obama que "ainda sente cheiro de enxofre no mundo"
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
O governo venezuelano confirmou ontem que abrirá na segunda-feira o Banco Bicentenário, ampliando a presença estatal no setor financeiro. Desta
vez, porém, o avanço sobre o setor privado foi motivado principalmente por um escândalo
inédito de corrupção, que provocou uma pequena crise bancária e envolveu colaboradores
próximos de Hugo Chávez.
Nas últimas semanas, Caracas interveio em sete pequenos
bancos que, juntos, somam
7,7% do total de depósitos do
sistema financeiro. Todos são
acusados, entre outros crimes,
de realizar operações de compra e venda de instituições financeiras sem a comprovação
da origem dos fundos.
Seis banqueiros foram presos, todos representantes da
"boliburguesia" (burguesia bolivariana), como é chamada a
nova elite econômica surgida
no rastro do chavismo. O caso
mais visível é Arné Chacón, irmão de Jesse Chacón, que renunciou ao Ministério de Ciência e Tecnologia.
Jesse Chacón é um dos colaboradores mais antigos e íntimos de Chávez, com quem participou do frustrado golpe de
Estado de 1992. No governo,
ocupou quatro pastas, entre as
quais a da Presidência.
Também está preso Ricardo
Fernández Barrueco. Acionista
majoritário de quatro bancos
sob intervenção, é também dono de empresas de alimentos
fornecedoras do Mercal, a gigantesca rede de mercados estatais criada por Chávez.
"A grande maioria desses
bancos era administrada por
pessoas sem maior trajetória
dentro do sistema financeiro
venezuelano", diz relatório da
empresa de análise econômica
Ecoanalítica. "Esses bancos haviam constituído uma extensa
rede de relações com altos funcionários da administração pública e diferentes entes do Estado, incluindo [a estatal petroleira] PDVSA."
"Esses bancos fizeram operações de dinheiro que podem ter
vindo dos cofres públicos ou do
narcotráfico", diz o ex-diretor
do Banco Central Domingo
Maza Zavala. "Estamos vendo
apenas a ponta da corrupção,
ainda falta muito a esclarecer,
há vários personagens para
aparecer."
Em declarações recentes,
Chávez tem usado o exemplo
dos irmãos Chacón para afirmar que "ninguém está acima
da lei". Além disso, está promovendo mudanças na regulamentação bancária, para melhorar o controle do setor.
A Venezuela é o segundo país
da América Latina no ranking
de percepção de corrupção da
ONG Transparência Internacional. O país ocupa a posição
162 de um total de 180 países.
Na região, está à frente apenas
do Haiti -o Brasil está em 75º.
Já as consequências econômicas não serão de grandes
proporções, segundo a Ecoanalítica. Seu relatório avalia que
não se trata de uma crise sistêmica, mas adverte que a recente ameaça de Chávez de nacionalizar a banca e o manejo pouco transparente da intervenção
têm gerado desconfiança entre
os correntistas.
Menos otimista, Maza Zavala
vê com ressalvas a superação
do impasse. Para ele, não está
claro como o governo cumprirá
a promessa de ressarcir os cerca de 1 milhão de cidadãos que
tinham vínculos com os sete
bancos, a maioria correntistas.
O Banco Bicentenário reúne
só três dos bancos sob intervenção, mas o governo promete
devolver o dinheiro de todos os
correntistas em seis meses.
O novo banco fará com que o
Estado venezuelano passe a
controlar 26,5% dos depósitos
do país, contra 10,9%, há dois
anos. O salto da banca pública
se deveu principalmente à nacionalização do Banco de Venezuela, que pertencia ao grupo
espanhol Santander.
Apesar do avanço estatal,
nem Maza Zavala nem a Ecoanalítica acreditam numa nacionalização completa da banca,
como ameaçou Chávez. "Foi
apenas um impulso declaratório", diz o ex-diretor.
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