São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

EUA não têm bandeira em guerra contra o WikiLeaks


O WIKILEAKS LEVANTOU A BANDEIRA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, DA LIBERDADE DE INFORMAÇÃO


JOAQUIM FALCÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Existem basicamente duas estratégias numa guerra: a ofensiva e de conquista, e a defensiva e de preservação.
Aquela se move o tempo todo e avança. Esta se imobiliza e se protege.
O que chama atenção nesta guerra cibernética é justamente a estratégia de conquista do WikiLeaks, de conquista não territorial, mas virtual, e a aparentemente imobilidade e defesa do governo americano.
Por que isto?
Como em qualquer guerra de conquista, antes de tudo é preciso ter objetivo político, uma bandeira que conduza exércitos e que comova as populações.
O WikiLeaks levantou a bandeira da liberdade de expressão, da liberdade de informação. Radicalizou o princípio democrático da transparência dos governos e dos Estados. Esta bandeira é transnacional e atemporal, comove multidões, multiplica adeptos.
WikiLeaks capturou a bandeira com a qual os EUA têm justificado a sua primazia mundial: fazer avançar os direitos humanos, a democracia e a liberdade. Bandeira que lhes serve para enfrentar a China e com ela manter amistosas e produtivas relações comerciais. Como defender a não publicação dos documentos?
Proibi-la. Impedi-la. Sob que argumento racional e apelo emocional arregimentarão exércitos virtuais, instituições políticas e a opinião pública mundial a seu favor?
Este é o grande desafio para os EUA atualmente. A defesa do Estado, o controle da internet, a segurança nacional não têm sido bandeiras suficientes para neutralizar a ofensiva do WikiLeaks de conquistar o território virtual e os corações e as mentes mundiais.
As bandeiras no campo de batalha aumentam devoção e eficiência dos exércitos. A estratégia de defesa americana tem sido de tentar atacar o líder individualmente ou estrangular a cadeia de suprimentos do WikiLeaks. Seja econômica, tecnológica, política ou juridicamente.

LIBERDADE DE IMPRENSA
O "New York Times" anunciou que o WikiLeaks não é fonte, mas parceiro. A partir daí dificilmente uma ação judicial contra o WikiLeaks deixará de respingar na liberdade de imprensa.
Cada documento publicado surpreende, determina o timing e o local da batalha.
Age como um homem-bomba, obrigando os envolvidos a se explicarem mutuamente e apaziguarem a opinião pública mundial.
Mas a guerra não acabou.
E ela é feita de batalhas sucessivas. Além de cortar a cadeia de suprimentos e tentar expulsar o WikiLeaks do território virtual, falta a bandeira em nome da qual a guerra seria vencida.
É a segurança do Estado contra a liberdade de expressão? A guerra continua.

JOAQUIM FALCÃO é professor de Direito da FGV-Rio


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